Apesar da evolução na investigação, que tem permitido melhorar os conhecimentos sobre algumas das causas e mecanismos de desenvolvimento do cancro, bem como sobre novas formas de tratamento, o número de pessoas que vive com diagnóstico de cancro continua a aumentar. Existem, no entanto, cada vez mais tratamentos, com maior possibilidade de cura ou de controlo da doença durante maiores períodos de tempo.

Existem vários tipos de tratamentos utilizados no controlo do cancro, como a cirurgia, a radioterapia, a quimioterapia, as terapêuticas biológicas, entre outros. Todos eles têm efeitos adversos mas é, geralmente, a quimioterapia que maior receio causa à pessoa com doença oncológica.

É, de facto, um tratamento destinado a eliminar as células cancerígenas, que afecta, também, as células normais do corpo. No entanto, há que perceber que, a par da evolução nos tratamentos para controlo do cancro, também existe uma evolução nos conhecimentos dos profissionais de saúde e na medicação de suporte que pode ser dada para controlo de alguns dos efeitos secundários. Vejamos o exemplos das náuseas e dos vómitos, sintomas descritos pelas pessoas em fase de tratamento como dos piores efeitos secundários que podem experienciar.

Ademais, podem ter consequências diretas no estado físico da pessoa, levando a situações de diminuição do bem-estar e qualidade de vida e à perda de peso e desnutrição, o que pode ter um efeito direto no esquema de tratamentos. Sabe-se que existem medidas favorecedoras de controlo das náuseas e dos vómitos, como o fracionar as refeições (comer menos, mas mais vezes ao dia), optar por consumir alimentos à temperatura ambiente, evitar alimentos com cheiros intensos ou muito condimentados, evitar alimentos fritos, muito doces ou salgados, e fazer uso de técnicas de relaxamento (fazer as refeições num ambiente agradável, descontraído e repousar, após a refeição, cerca de 30 minutos com a cabeceira elevada).

A par destas medidas existe, também, medicação de suporte que pode ser prescrita para controlo das náuseas e dos vómitos e que, com o avanço recente da investigação, basta apenas a toma de um comprimido para se ter um período de eficácia de longa duração (cerca de 7 dias).

A perda de apetite, o cansaço e as alterações do trato gastro-intestinal (diarreia ou obstipação) são outros dos sintomas, frequentemente, relatados pela pessoa com doença oncológica em fase de tratamentos.

No caso da perda de apetite, o fracionamento das refeições (optando por alimentos mais calóricos e proteicos), a opção por alimentos favoritos e o comer quando se tem vontade, sem necessariamente ter de se esperar pela hora da refeição, são alguns dos conselhos que se podem aplicar. A prática de atividade física também está associada a um melhor prognóstico, com melhor tolerância ao tratamento, e à redução do cansaço.

Já para as alterações do trato gastro-intestinal também existem dietas adequadas e eventual medicação para controlo, informações que deverão ser recolhidas junto da equipa de saúde que segue a pessoa. Aliás, é fundamental que a pessoa com doença oncológica procure aconselhamento junto da equipa de saúde que a segue e/ou de profissionais especializados.

É importante desmistificar alguns mitos associados à doença oncológica (como as dietas restritas, que estão, até, associadas a um pior prognóstico) e reportar os efeitos secundários que podem advir dos tratamentos. É verdade que estes efeitos secundários são algo expectável, contudo a pessoa não deve sofrer em silêncio, prejudicando a sua qualidade de vida, por ter receio de ter de parar tratamento ou por ter uma ideia pré-concebida de ser algo “normal”, integrante do processo.

Sendo a maior parte dos esquemas de tratamento feitos em contexto de ambulatório, os efeitos secundários ocorrem, por isso, fora do contexto hospitalar, longe da avaliação dos profissionais de saúde. Cabe, nesse sentido, à pessoa com doença oncológica (ou cuidadores) informar a equipa de saúde sobre os mesmos. A parceria nos cuidados é essencial, devendo a pessoa com doença oncológica ter um papel cada vez mais ativo no seio da equipa de saúde multidisciplinar.

Concluindo, existem medidas não farmacológicas que podem ser aconselhadas pelo enfermeiro ou médico assistente para controlo dos sintomas e existem, também, medidas farmacológicas que podem ser prescritas pelo médico e que têm cada vez maior sucesso no controlo de alguns efeitos secundários. Quanto mais precocemente forem reportados os efeitos secundários, maior é a probabilidade de sucesso do tratamento e da manutenção da qualidade de vida, pois mais cedo se podem iniciar medidas para controlo dos mesmos.

Um artigo da enfermeira especialista em oncologia Sara Torcato Parreira