Atualmente, cerca de uma em cada cinco pessoas desenvolve cancro durante a sua vida. O número de novos casos tem vindo a aumentar nas últimas décadas e prevê-se que assim continue. Apesar dos avanços no diagnóstico precoce e tratamento, a palavra cancro tem uma conotação negativa e causa sentimentos de medo e angústia.
Todos sabemos que o diagnóstico de doença oncológica acarreta muitas mudanças e muitos desafios. A maioria das pessoas associa ao doente oncológico características como fragilidade, debilidade, emagrecimento, palidez, alopecia. Inevitavelmente, estas e outras características têm um fundamento, seja a própria doença ou os tratamentos para a combater.
Tanto na doença localizada como na metastizada, os tratamentos podem incluir cirurgia, quimioterapia, radioterapia e, mais recentemente, imunoterapia e terapêuticas-alvo. Muitas alterações podem advir destes tratamentos, com um forte impacto na vida dos doentes.
Em primeiro lugar, as mudanças corporais que vão acontecendo desde o diagnóstico, como é o caso de cicatrizes causadas por biópsias, colocação de cateteres ou cirurgias (como por exemplo a necessidade de realização de colostomia ou nefrostomia, fruto de intercorrências que podem surgir ao longo da evolução da doença), ou a mastectomia que, apesar do intuito curativo, pode deixar sequelas para o resto da vida.
Os efeitos secundários da quimioterapia, como náuseas, vómitos, queda de cabelo, diarreia, parestesias, astenia, anorexia, entre outros, afectam não só o bem-estar, mas também a capacidade dos doentes se manterem activos no seu dia-a-dia, seja em termos profissionais, seja em termos sociais. Não é de menosprezar o impacto que a indução da menopausa ou a diminuição da líbido têm em termos de fertilidade e sexualidade.
São múltiplas as alterações que vão surgindo e que implicam uma adaptação dos doentes à sua condição física, mas também ao seu lugar na sociedade. Para além disso, há cada vez mais doentes sobreviventes de cancro, que têm de lidar com uma nova vida, com marcas do passado.
Não é fácil aprender a viver com estas alterações e o seu impacto psicológico é incalculável.
A auto-estima resulta da percepção que o indivíduo tem de si próprio e da sua valorização. Tem implicações em termos da personalidade e da capacidade para lidar com diferentes situações da vida, nomeadamente as mais difíceis. Pessoas com baixa auto-estima tendem a ser mais sensíveis ao impacto psicológico de eventos negativos.
O doente com cancro passa por inúmeras fases ao longo do processo de doença que podem ser marcadas por diferentes sentimentos: medo, angústia, raiva, aceitação, esperança, superação, conquista.
Em cada uma destas fases, é fundamental o apoio da família e amigos e dos vários elementos da equipa multidisciplinar como médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas. A partilha de experiência com outros doentes pode ser benéfica. Mas também são fundamentais o tempo e o espaço para o doente processar as mudanças e encontrar as suas estratégias para as superar.
Comentários