A radioterapia é frequentemente conhecida pelo nome de tratamento com radiações ionizantes. Baseia-se no uso de radiação, que são raios de alta energia, com a capacidade de destruir as células tumorais.
Faz-se habitualmente como complemento nos casos em que foi feita cirurgia conservadora.
Pode ser necessária em outras situações tais como:
- Em alguns casos após a mastectomia, por exemplo em tumores com diâmetro maior ou igual a cinco centímetros, ou com gânglios linfáticos axilares afectados ou que invadiam a pele ou a parede do tórax.
- Em tumores avançados para redução do volume tumoral e posterior cirurgia.
- Em tumores sem indicação cirúrgica.
- Pode também ter indicação no tratamento de metástases, fundamentalmente as ósseas e as cerebrais.
Está, porém, contra-indicada nos seguintes casos:
- Em doenças do colagéneo: lúpus sistémico e esclerodermia.
- Em situações em que foi feita irradiação prévia da mama e/ou do tórax.
- Durante o primeiro e o segundo trimestre de gravidez.
Pode ser aplicada externamente – radioterapia externa –, ou internamente – braquiterapia intersticial. Na externa, ou teleterapia, a habitualmente usada, não há contacto da máquina emissora de radiação com o corpo.
Os aparelhos actualmente usados são os aceleradores lineares de partículas. Podem emitir dois tipos de radiação:
- Fotões, com bom poder de penetração na mama, sendo limitada a dose de radiação na pele.
- Electrões, com baixo poder de penetração, usados para irradiar zonas superficiais.
É feita em ambulatório, sendo os tratamentos habitualmente realizados cinco dias por semana, durante cerca de cinco a sete semanas. A doente, durante a sessão de tratamento, terá de permanecer deitada e imóvel sobre a marquesa do aparelho. Cada sessão tem uma duração aproximada de dez a 15 minutos.
Na radioterapia interna, chamada braquiterapia intersticial, a mama é atravessada por agulhas ligadas por um tubo de transferência a uma fonte radioactiva. Estas agulhas são introduzidas na mama sob anestesia local, ficando fixas a uma placa de plástico perfurado.
O objectivo é irradiar a zona tumoral, poupando o mais possível os tecidos sãos, sendo a área irradiada mais limitada à zona de interesse do que na radioterapia externa, mas funcionando apenas como reforço desta. É habitualmente usada após cirurgia conservadora, sendo que o número de tratamentos é variável.
O tratamento unicamente com radioterapia externa ou a associação das duas, externa e interna, é ponderado caso a caso.
Antes de começar o tratamento de radioterapia, tem de ser feito um planeamento, ou seja, tem de ser estudada a dose e a direcção dos feixes de radiação a aplicar, para irradiar o tumor, poupando o mais possível as estruturas em redor, como o coração e os pulmões, evitando-se assim efeitos secundários.
Com este objectivo, faz-se inicialmente uma tomografia axial computorizada (TAC), para se localizar o tumor e «desenhar» a zona a irradiar. Posteriormente, este exame é usado para fazer a dosimetria clínica, ou seja, uma programação da direcção dos feixes de radiação, das suas dimensões e dosagem.
A dose de radiação é assim modelada ao longo do campo a irradiar, de forma a ser mais intensa nas zonas «alvo» e mínima nos tecidos normais mais próximos. Definem-se gráficos com linhas de isodose que ligam pontos que vão receber a mesma dose de radiação. Por fim, pode verificar-se se a programação feita na dosimetria está correcta, usando-se com este objectivo um aparelho chamado simulador.
Este tem um sistema de radioscopia que permite ver em tempo real, num monitor, as estruturas que irão ser atravessadas pelas radiações durante o tratamento. Para esse efeito, usa feixes de raios X com as direcções programadas para os feixes de radiação, permitindo assim, se necessário, fazer ajustes e correcções antes de iniciar as sessões.
No que diz respeito aos efeitos secundários, é possível destacar:
- O cansaço é um sintoma comum, aumentando com o avançar do tratamento. Pode manter-se durante algum tempo após terminadas as sessões.
- As alterações da pele, embora já sejam evitadas em muitas doentes, são ainda frequentes. Podem aparecer durante ou logo após o tratamento, englobando neste caso o eritema, «vermelhidão», a descamação, a erosão (feridas), o espessamento. Também podem ocorrer algum tempo após o termo da terapêutica, podendo consistir neste caso em espessamento e vasos sanguíneos dilatados (derrames).
As lesões cutâneas geralmente desaparecem gradualmente após terminar o tratamento, embora em alguns casos permaneça por exemplo uma alteração da cor da pele. As medidas a tomar para minimizar estes efeitos secundários indesejados da radioterapia são sugeridas pelo especialista e incluem:
- Exposição da pele ao ar para ajudar a cicatrizar.
- Uso de roupa folgada e de algodão para evitar a irritação da pele.
- Uso de produtos de cosmética adequados, etc.
Outras complicações mais graves, como por exemplo as pulmonares e as cardíacas, são actualmente raras, dada a precisão do planeamento computorizado.
Fonte: 34 Copa B - Guia prático sobre a mama, a saúde e a sexualidade, Ana Paula Avillez (médica imagiologista especialista em Senologia), editora Academia do Livro
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