«Todos os homens, mulheres e crianças têm a possibilidade de perfeição física. Depende de cada um de nós alcançá-la através da compreensão e esforço pessoal».

Quem o afirmou foi Frederick Matthias Alexander, ator australiano nascido em finais do século XIX que, devido a uma laringite crónica para a qual a medicina convencional não encontrou solução, acabou por desenvolver um método de reeducação psicomotora.

Ainda pouco divulgada em Portugal, a técnica Alexander é hoje usada em vários países para ajudar atores, bailarinos e público em geral a detetar e a reduzir tensão no dia a dia. Descobrimos como funciona e pedimos a opinião sobre as suas vantagens e benefícios a um fisioterapeuta português.

Observar para prevenir

«A técnica Alexander é um sistema de trabalho para promover o bem-estar através da consciência da postura, equilíbrio e coordenação, o que permite ajustar hábitos inconscientes de uso do corpo com benefícios físicos e mentais», define Roberto Aina Reveilleau, um dos dois formadores da técnica em Portugal. «As nossas experiências vão sendo traduzidas através de posturas e movimentos que tendem a tornar-se automáticos. Muitos criam excesso de contração muscular, limitações articulares e compressão na coluna vertebral», explica.

Dores nas costas ou musculares, cansaço constante, falta de vitalidade, dificuldades respiratórias e sensação de peso são alguns sintomas que podem denunciar estes hábitos. O trabalho dirige-se a qualquer pessoa, já que «quanto a hábitos nocivos de uso do corpo, somos todos parecidos», afirma ainda este especialista.

Formação certificada

«Para se ser professor registado é preciso fazer um curso de três anos com um mínimo de 1600 horas de aulas numa escola certificada por uma associação de professores da técnica. A International Affiliated Societies of Teachers of the Alexander Technique congrega 18 associações e representa 18 países onde há formação», refere Roberto Aina Reveilleau.

Natural do Rio de Janeiro, este professor de educação física recebeu formação em Inglaterra, em 1992. Hoje, dá aulas em Lisboa duas vezes por ano. «Uma aula dura 30 a 45 minutos e o valor varia entre 35 e 50 euros. A associação inglesa recomenda um mínimo de 20 a 30 sessões para que os novos padrões de uso do corpo funcionem no dia a dia», indica.

Na prática

As aulas são individuais. O professor «observa a sua postura e padrões de movimento e complementa colocando as mãos no seu pescoço, ombros, costas e outras partes do corpo para obter informação mais detalhada», lê-se no site de um professor de Toronto.

«Poderá pedir-lhe para realizar movimentos simples, como andar, colocar-se de pé ou sentar-se numa cadeira. As mãos do professor guiarão gentilmente o seu corpo para o encorajar uma libertação de tensão muscular restritiva».

Talvez por isso, os alunos são encorajados a realizar «duas a três sessões por semana numa fase inicial». Mais tarde, «as sessões podem passar a ter uma semana de intervalo ou mais», lê-se no site. «É um trabalho muito profundo, pessoal e individual, não é algo que possa ser compreendido numa semana nem tem que ver com exercícios como Pilates ou alongamentos», justifica Iona Mackay, que dá aulas no Porto.

Abordagem terapêutica

Segundo Roberto Aina Reveilleau, a técnica Alexander «não é um tratamento ou fisioterapia». No entanto, o fisioterapeuta Nuno Pombeiro identifica pontos em comum. «Em todas as técnicas de correção postural que domino, o essencial é a observação, há que fazer um bom diagnóstico funcional para se poder alongar o que está encurtado e facilitar o movimento», salienta.

Considera, ainda, que «a reabilitação postural só faz sentido se for individual». Enquanto em Inglaterra «é possível aceder a sessões desta técnica através do sistema nacional de saúde desde 1950», como nos contou Iona MacKay, em Portugal a sua presença resume-se a aulas pontuais. «Não é uma moda e não é uma boa forma de ganhar dinheiro», justifica a professora.

Passo a passo

Aprenda a fazer a posição semi-supina que ajuda a repousar melhor:

1.  Escolha um ou mais livros em que possa apoiar a cabeça deitada (se, ao deitar-se e olhar para cima, os seus olhos se dirigem para o teto acima do seu corpo, têm a altura certa).

2.  Sente-se no chão com os livros atrás de si, a uma distância suficiente para ficarem debaixo da sua cabeça quando se deitar.

3.  Apoie a planta dos pés no chão, fletindo as pernas afastadas à largura das ancas, e puxe-os o mais possível para junto da pélvis, abraçando as pernas com os braços.

4.  Deixe cair a cabeça sobre as pernas, sem forçar, e a coluna curvar-se para a frente até se sentir confortável. Não tente ficar direita.

5.  Largue as pernas e, com a cabeça caída para a frente e os pés no chão, desenrole-se para trás o mais rápido que conseguir, até tocar com a cabeça nos livros.

6.  Fique nessa posição durante dez minutos, com as mãos apoiadas sobre a crista ilíaca, sem pressionar.
Concentre-se na respiração e sinta os músculos do pescoço e ombros a alongar enquanto a coluna e ancas se colam ao chão.

7.  Para se levantar, rebole para o lado e, girando primeiro a cabeça e depois as ancas e os braços, apoie uma mão no chão de cada vez e coloque-se de gatas. Depois, apoie um pé no chão de cada vez para ficar de pé, sem usar as mãos.

Texto: Rita Miguel com Roberto Aina Reveilleau e Iona Mackay (professores de Técnica Alexander) e Nuno Pombeiro (fisioterapeuta)