O trigo, esse cereal milenar idealizado pelas belas searas douradas que se agitam ao sabor do vento, que nos traz memórias de infância do pão quentinho ou do bolo acabado de fazer a cheirar a limão, da sopa de estrelinhas ou letrinhas está cada vez mais longe de deixar belas memórias.

Além da doença celíaca, uma patologia do intestino delgado há muito reconhecida e que requer a ausência absoluta de trigo, centeio, cevada e aveia na dieta, vemos de dia para dia surgirem cada vez mais pessoas intolerantes ao glúten não celíacos. Mas porque é que isto acontece?

Infelizmente o trigo dos dias de hoje está muito longe do trigo original que fazia parte da dieta dos nossos antepassados mais distantes até ao tempo das nossas avós. Mudou drasticamente sob a influência dos cientistas agrícolas. As estirpes foram hibridizadas, cruzadas de modo a tornarem a planta resistente a condições ambientais ou a fungos e foram introduzidas alterações genéticas para aumentar a sua produção.

O objetivo da indústria é baixar os custos de produção, ter um produto seguro e consistente em larga escala e aumentar a sua produção.

O grande problema para a nossa saúde é que pequenas mudanças na estrutura da proteína do trigo aparentemente inofensivas fazem toda a diferença entre uma resposta imunitária devastadora à proteína do trigo ou nenhuma resposta.

Além desta questão, há uma adição exagerada do glúten a muitos alimentos para os tornar mais fofos e leves e, por outro lado, é consumida uma quantidade excessiva de glúten na alimentação diária. A maioria das pessoas come diariamente pelo menos um ou vários dos seguintes alimentos:

- Cereais matinais, farelo de trigo

- Pão, croissants, bolos, bolachas doces ou salgadas

- Massas, rissóis, croquetes, pizzas, quiches, waffles 

- Alimentos fritos cobertos com farinha de trigo como é o caso de filetes de peixe, etc.

- Molhos e condimentos vários contem trigo como é o caso do molho de soja (tamari contem centeio portanto bem tolerado, excepto para celíacos)

- Alimentos que levam farinha para engrossar como é o caso do esparregado.

- Delícias do mar e refeições pré-preparadas e embaladas.

Portanto por esta lista que ainda não está completa o leitor poderá analisar a quantidade de trigo que ingere na sua alimentação diária.

Muitas vezes as pessoas dizem-me nas consultas “tire-me tudo o que me fizer mal, menos o meu pãozinho que me sabe tão bem”. O que é que isto indica??? Vicio!

Vim a compreender o porquê disto com muitos estudos científicos recentes que revelam que o glúten é aditivo, pois estimula recetores de ópio no nosso cérebro e o trigo naturalmente contem 15 opiáceos naturais da planta e, por isso, as pessoas querem comer sempre mais e mais. Além disso, há uma grande tendência a confortarmos a solidão com trigo, justamente porque os hidratos de carbono baseados em trigo dão uma falsa sensação de plenitude que acalma temporariamente pela razão acima mencionada.

O glúten é problemático quando somos sensíveis ao mesmo, causando uma reacção do nosso sistema imunitário que cria um ataque massivo ao invasor e neste processo cria-se inflamação.

Como todos temos áreas mais sensíveis, geneticamente a manifestação dos sintomas de intolerância ao glúten varia de pessoa para pessoa, podendo ser a nível do aparelho digestivo ou de outro órgão que aparentemente nada tenha a ver com o glúten.

Na América, os cientistas descobriram que há uma reacção cruzada entre os anticorpos do glúten e vários tecidos do corpo, nomeadamente o cerebelo, o intestino delgado e os tecidos da tiróide. 

A melhor forma de saber se tem intolerância ao glúten é evitá-lo durante umas semanas e fazer um diário de tudo o que come e o que sente fisicamente, e depois comer de novo e sentir a reacção do corpo. É muito comum as pessoas terem inchaço abdominal, excesso de flatulência e acharem isso normal. Não é natural o ser humano alimentar-se e ter estas reacções, é simplesmente o resultado de incompatibilidades alimentares ou intolerâncias a determinados alimentos.

Há muitos benefícios em evitar o trigo na sua alimentação diária:

- Mais energia e boa disposição sem sonolência especialmente a seguir às refeições

- Emagrecimento

- Melhor digestão

- Melhor qualidade de sono

Traz muitos outros benefícios, mas tudo deve ser visto caso a caso, pois cada ser é único a nível físico, genético, emocional, mental e espiritual, portanto não existe uma fórmula para todos por muito que nos queiram fazer acreditar nisso. Somos únicos, portanto, a dieta também deve ser vista dessa forma.

Sintam o vosso corpo e conquistem o vosso poder interior e sabedoria do vosso ser.