E se pudesse comer gelados, bolos e chocolates cinco dias por semana e, ainda assim, conseguisse perder peso? Saiba que é possível! Esta é a proposta do médico britânico Michael Mosley, nascido em Kolkata, na Índia, em 1957. Mas como é que isso funciona? Estivemos à conversa com o reputado especialista e revelamos-lhe o segredo da dieta dos dois dias que tem estado a correr mundo e que promete ajudá-lo a emagrecer para sempre.
Surpreendida! Foi assim que fiquei, confesso, quando ouvi falar desta dieta, no mínimo, desafiante e irreverente que propõe comer o que gostamos durante cinco dias e só fazer, efetivamente, dieta durante dois dias por semana. Apesar de muito aliciante, não deixa, contudo, de causar algum ceticismo, como seria de esperar. Afinal, trata-se de uma dieta que deita por terra aquele que é um dos mais consensuais conselhos médicos para um estilo de vida saudável e, inclusivamente, para quem quer perder peso, o de evitar saltar refeições, ao propor um jejum de 12 horas.
Mas, depois de conversar com Michael Mosley, o médico britânico que desenvolveu e experimentou este novo método de emagrecimento, tudo passou a fazer sentido. As conclusões dos estudos científicos relatados no seu livro "A dieta dos 2 dias", publicado em Portugal pela editora Lua de Papel, também nos tranquilizam. Afinal, se seguirmos todas as instruções à regra, é mesmo possível emagrecer sem abdicar do prazer de comer.
Como funciona este método de dieta
O segredo da eficácia está no jejum periódico que é feito dois dias por semana. Apesar do nome, este jejum não obriga a ficar sem comer. "Seria insuportável", refere Michael Mosley. O jejum que propõe sugere reduzir de forma breve, mas drástica, a quantidade de calorias consumidas. Durante dois dias por semana, consecutivos ou não, fica ao seu critério, não pode ingerir mais de 500 calorias diárias (mulheres) ou 600 (homens).
A restrição é abrupta, mas, segundo o especialista, não é tão difícil como pode parecer à primeira vista. "O truque", diz-nos, é "escolher os alimentos certos", baixos em calorias e muito saciantes, que ajudem a controlar o apetite ao longo do dia. A melhor parte da dieta e aquela que a distingue de todas as convencionais é que nos restantes cinco dias da semana pode comer tudo o que gosta, como se não estivesse a fazer dieta.
A fórmula do sucesso
São vários os estudos científicos que provam os efeitos benéficos do jejum. Um deles, realizado por cientistas do Salk Institute for Biological Studies, nos Estados Unidos da América, prova como o momento em que comemos pode ser quase tão importante como aquilo que comemos, ao concluir que ficar em jejum durante 16 horas, é o suficiente para perder peso. Michael Mosley garante resultados em apenas 12 horas.
A explicação é simples. No tempo que passamos a comer, os níveis de insulina são elevados e o corpo está em modo de armazenamento de gordura e, só após algumas horas de jejum, é que consegue desligar dessa função e ativar os mecanismos de queima de gordura. "Outra vantagem importante do jejum periódico é que a pessoa não parece perder massa muscular. Todo o peso que perde é somente gordura", frisa o especialista.
A experiência de Michael Mosley
E porquê jejuar dois dias? Muito certamente já se terá interrogado! Michael Mosley conta-nos que experimentou duas versões distintas do jejum, uma que implicava não comer nada durante 24 horas ou mais e uma outra que incluiu apenas uma refeição com poucas calorias por dia, dia sim, dia não. "Achei que ambas eram demasiado difíceis e, então, decidi criar a minha própria versão", esclarece o especialista britânico.
"Durante cinco dias por semana comeria normalmente, nos outros dois dias, consumiria um quarto das calorias que consumia habitualmentem cerca de 600 calorias", explica. E o resultado não poderia ter sido melhor, assegura. Em pouco tempo, Michael Mosley conseguiu perder o peso desejado e sem grande esforço. "Fiz a dieta durante três meses e perdi 10 quilos de gordura", confidencia o autor de "A dieta dos 2 dias".
Essa não foi, no entanto, a única coisa positiva que lhe aconteceu. "Os meus níveis de açúcar no sangue e de colesterol, que estavam muito elevados, estabilizaram", regozija-se ainda. "Estas são alterações que mostraram como esta dieta, além de induzir a perda de peso, pode também trazer vários benefícios para a saúde", revela o especialista, que ao longo da última década não se tem cansado de apregoar os seus (muitos) benefícios.
Os dois dias de jejum a que a dieta obriga
O plano sugerido por Michael Mosley distribui as 600 calorias diárias, permitidas nos chamados dias de jejum, por duas refeições. O pequeno-almoço deve ter 250 calorias e o jantar deve absorver as restantes 350 calorias, jejuando cerca de 12 horas. Para manter a dieta até ao fim, pode seguir o exemplo de Michael Mosley. Separe os dias de abstinência e jejue, por exemplo, às segundas-feiras e às quintas-feiras.
"Por vezes, sentia fome, mas a maior parte do tempo estava bem-disposto e com bastante energia", assegura. Esta restrição calórica desencadeia alterações no cérebro que melhoram o humor, tornando, assim, o jejum mais suportável. "A sensação de fome, que pode surgir nos primeiros dias de jejum, irá diminuir, principalmente ao lembrar-se que no dia seguinte já vai poder comer tudo o que quiser", elucida ainda.
O que fazer nos cinco dias de liberdade
Durante os restantes cinco dias da semana, a ideia é que faça a sua alimentação normal, sem a constante preocupação de contar as calorias ingeridas e, por muito contraproducente que possa parecer, não há alimentos proibidos. Pode comer livremente, batatas fritas, bolachas, bolos e até chocolates. A sua gula é o limite, afiança o médico britânico. A tese defendida por Michael Mosley é corroborada por outros cientistas.
Um estudo realizado na Universidade de Ilinóis, em Chicago, nos Estados Unidos da América, no início da década de 2000, provou que os voluntários que eram incentivados a comer lasanha, pizas e batatas fritas durante os dias sem jejum conseguiram, ainda assim, perder peso. E, surpreendentemente, os dias de jejum não fazem com que as pessoas cometam loucuras nos dias em que podem comer o que querem.
"Poderiam compensar o jejum comendo de mais no dia seguinte, mas é muito difícil fazê-lo", adverte o especialista. "Um corte de calorias de 75% num dia de jejum, geralmente, aumenta pouco mais de 15% no dia seguinte de alimentação normal", assegura Michael Mosley. Uma outra investigação, levada a cabo pelo Genesis Breast Cancer Prevention Centre do Hospital Wythenshawe, em Manchester, em Inglaterra, já tinha dado provas acerca da eficácia do jejum de dois dias, num estudo que envolveu 115 mulheres. As voluntárias foram divididas em três grupos. Um deles seguiu uma dieta mediterrânica de 1.500 calorias.
Esse grupo foi igualmente incentivado a evitar alimentos com elevado teor calórico e a não ingerir bebidas alcoólicas. O segundo grupo tinha de comer normalmente durante cinco dias por semana, mas faria uma dieta de 650 calorias, com poucos hidratos de carbono, nos outros dois dias. A um último grupo foi pedido que evitasse os hidratos de carbono dois dias por semana, sem mais nenhuma restrição de calorias.
Os resultados apurados pela equipa de investigadores que conduziu a pesquisa não deixa margem para dúvidas. Ao fim de três meses, as mulheres que estavam a seguir as dietas dos dois dias tinham perdido uma média de quatro quilos, quase o dobro das que faziam dieta a tempo inteiro. Mais uma prova de que as ideias defendidas por Michael Mosley podem ser uma alternativa a considerar por quem pretende perder peso.
4 benefícios únicos a ter em conta
A dieta dos dois dias não é apenas uma dieta para perder peso mas também uma estratégia sustentável para uma vida saudável e longa. Tudo graças aos efeitos que o jejum tem no organismo:
1. Diminui o risco de uma série de doenças relacionadas com a idade, como o cancro, ao reduzir os níveis de IGF – I, um fator de crescimento semelhante à insulina.
2. Reduz o risco de obesidade, diabetes e doenças cardíacas, na medida em que aumenta a eficácia da insulina.
3. Previne o declínio cognitivo. Segundo um estudo realizado no Institute on Aging, o jejum aumenta a produção de uma proteína chamada fator neurotrófico, que estimula a aprendizagem e a memória.
4. Melhora o humor e a sensação de bem-estar. São vários os estudos que demonstram que o aumento dos níveis de fator neurotrófico no cérebro tem um efeito antidepressivo.
4 truques para controlar o apetite nos dias de jejum
Estes são os que Michael Mosley, à semelhança de outros especialistas mundiais, propõe:
1. Escolha alimentos com um índice glicémico baixo, como vegetais e leguminosas. Têm poucas calorias, são saciantes e mantêm a glicemia baixa.
2. Beba muita água. Não tem calorias, é mais saciante do que pensa e faz com que não confunda sede com fome.
3. Se lhe apetecer algo doce, beba uma chávena de chocolate quente instantâneo magro feito com água. É reconfortante e tem apenas cerca de 40 calorias.
4. Para apimentar o dia, beba tisanas de sabores menos conhecidos, como é o caso do alcaçuz, da canela, da erva-príncipe, do gengibre, da lavanda, da rosa e da camomila.
As pessoas que não devem adotar este regime
Não faça esta dieta se:
- Está grávida ou está a tentar engravidar
- Tem diabetes tipo I
- Tem algum tipo de distúrbio alimentar
- É extremamente magra ou tem menos de 18 anos
- Toma algum tipo de medicação. Nesse caso, deve consultar o seu médico antes de iniciar a dieta
Texto: Sofia Santos Cardoso com Michael Mosley (médico)
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