
As crises podem surgir de forma repentina, sem aviso, alterando completamente a rotina e deixando uma marca — tanto no corpo como na alma. Ao longo do tempo, aprendi que viver com esta doença rara é muito mais do que lidar com os sintomas físicos. É também lidar com o medo, a frustração e, muitas vezes, com a invisibilidade.
Por isso, ouvir a música “A Esperança Chegou”, do Fernando Tordo, foi como sentir que alguém finalmente colocou em palavras — e em melodia — aquilo que tantas vezes fica preso cá dentro.
A letra toca numa dor profunda, mas também num reencontro com a força interior que todos nós, que vivemos com esta doença, temos de encontrar.
Na qualidade de uma pessoa que vive com Angioedema Hereditário, esta letra pode simbolizar os desafios diários enfrentados, desde a imprevisibilidade das crises até à frustração da busca por soluções. A dor visível no rosto representa não apenas o sofrimento físico, mas também o impacto emocional da condição. No entanto, a chegada da esperança e a descoberta de um "escudo" podem refletir a importância do tratamento, da ciência e do apoio da comunidade. O final transmite uma mensagem de superação, onde a doença já não define o caminho, mas sim a resiliência e a força para seguir em frente.
A música tem esse poder único de traduzir o que tantas vezes não conseguimos explicar. E neste caso, mais do que uma canção, “A Esperança Chegou” é um tributo à superação, à união e à valorização da nossa jornada enquanto pacientes. É também um gesto de empatia para com todos aqueles que convivem com doenças raras — e que tantas vezes se sentem esquecidos ou incompreendidos.
A visibilidade que esta iniciativa traz é fundamental. Falar sobre o Angioedema Hereditário é uma forma de informar, mas também de inspirar. Que mais pessoas possam perceber o que é viver com esta condição, e que mais doentes possam sentir que não estão sozinhos.
Porque, no fundo, é isso que todos procuramos: não um mundo perfeito, mas um mundo onde a esperança chegue — e fique.
Um artigo escrito na primeira pessoa por Maria Barra, doente que vive com Angioedema Hereditário.
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