A vacinação da população avança a bom ritmo e já passámos, seguramente, dos três em cada quatro com algum grau de imunidade, considerando também a imunidade natural. Talvez seja influência dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, recentemente realizados, esta perspetiva competitiva mundial da vacinação … que, confesso, tenho grande dificuldade em entender.
De facto, tendo em conta os 10% de cidadãos que já contraíram a doença, alguns dos quais com rappel vacinal adicional, não andaremos longe de quatro em cada cinco com algum grau de imunidade. Quem se referiu copiosamente à imunidade de grupo (muitas vezes sem saber o que é o sistema imune ou tendo desse sistema uma imagem semelhante à PSP ou GNR do nosso corpo) ou a denominou “imunidade de rebanho” (sem ser brasileiro) está agora talvez perplexo ou, se vier das Ciências Exactas por exemplo, poderá achar que é mais uma falta de exatidão dos médicos (e outros profissionais de saúde). Mais uma!
Essa perspetiva não releva muita coisa e, por exemplo, outros dados da vacinação. Não revela, por exemplo, que menos de um em três dos seres humanos recebeu uma só dose da vacina e menos de um em quatro tem a vacinação completa. Se “fatiarmos” a distribuição de seres humanos por países constata-se que só cerca de um por cento desses seres estão vacinados em países menos abonados e em alguns deles dez vezes menos do que isso como é o exemplo da Tanzânia (Our World in Data, 18/08/2021). Uma espécie de outro Kilimanjaro que é dificil de alcançar.
Tal não será importante numa situação pandémica?
O que poderá estar na eclosão de novas estirpes (ou variantes)?
Os vírus terão uma qualquer discriminação ao infetar um rico ou um pobre?
Haverá dois humanismos (o rico e o pobre)?
A vacinação dos grupos etários mais jovens e o 3º rappel (ou, eventualmente, 2º na imunização com uma aplicação) mobilizam a opinião pública e regressam os “peritos” que peroram profusamente em quase todos os canais noticiosos e nas redes sociais. Apesar da minha amostra não ter representatividade, o tema eleições Autárquicas será talvez menos abordado que a acesa “discussão” sobre aqueles temas.
Tal deverá corresponder à manutenção dos receios, ainda muito elevados, do SARS-CoV-2 que a sociedade mantém “de mãos dadas” com a desejada (e muitas vezes objectivada) “libertação” dos constrangimentos impostos pela pandemia, o que poderá parecer o seu contrário (ou mesmo o seu oposto).
Apesar de muito perto, estamos bem longe do que vivíamos há cerca de um ano. Talvez não seja má ideia um olhar mais pan também sobre a vacinação.
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