“Veste a pinta da urticária” – é este o desafio lançado pela Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) no âmbito do Dia Mundial da Urticária, assinalado a 1 de outubro. Este mote surge, de acordo com Sofia Campina, coordenadora do Grupo de Interesse de Alergia Cutanêa da SPAIC, porque “sentir na pele o que é viver com urticária é uma tarefa impossível para quem não sofre desta doença. Assim, uma forma simbólica de a reconhecer, é vestirmos as suas “pintas”.
A urticária é caracterizada pelo aparecimento de manchas e/ou babas na pele, geralmente avermelhadas, acompanhadas de comichão ou alguma sensação de calor, ardor, queimadura ou desconforto, que tipicamente não deixam marca e têm uma duração de minutos a horas (habitualmente não mais de 24h). Pode ser aguda, se durar até 6 semanas, ou crónica se persistir para além desse período. A primeira é a mais frequente e pode afetar 20-30% da população mundial, pelo menos uma vez na vida, e surge muitas vezes no contexto de infeções e de alergia a alimentos e a medicamentos. A urticária crónica atinge cerca de 1% da população, afetando mais mulheres mas, apesar de ser menos frequente, é a que se associa a pior qualidade de vida e tem um enorme impacto no dia-a dia de quem dela sofre.
Relativamente ao seu tratamento, “assenta em medicamentos anti-histaminicos”, explica Sofia Campina. Neste âmbito, a especialista refere que “em Portugal, temos vários Serviços de Imunoalergologia, quer pertencentes ao SNS, quer a grupos privados, todos eles capacitados para o seguimento de doentes com urticária crónica. Para além disso, temos Centros UCARE (Urticaria Center of Reference and Excellence), que são unidades especializadas, reconhecidas pela sua excelência no diagnóstico e tratamento de Urticária, fazendo parte da Rede Europeia Global de Alergia e Asma (GA2LEN)”.
No entanto, neste campo do acesso aos cuidados e tratamentos para controlo da doença, a imunoalergologista chama a atenção para o facto de que “apesar da terapêutica biológica já ter demonstrado mundialmente a sua eficácia e segurança, quer em ensaios clínicos, quer em estudos de vida real, e mesmo sabendo que para alguns doentes com urticária crónica esta é a única opção para devolver alguma qualidade de vida, o acesso a este tipo de tratamento continua a ser exclusivo do Sistema Nacional de Saúde. De facto, apesar de existirem cuidados diferenciados de Imunoalergologia em vários polos privados, os regimes de comparticipação para o tratamento biológico desta e de outras doenças alergológicas, em sede de entidades privadas, são ineficazes e praticamente inexistentes, tornando quase inacessível esta via de tratamento”.
Sofia Campina prossegue afirmando que “têm sido feitos esforços, por parte de cada Serviço de Imunoalergologia do SNS, para ampliar e melhorar a capacidade de resposta à população, sendo um exemplo os atuais Centros UCARE (ambos no SNS), mas o problema de recursos do SNS é inegável nos dias de hoje e isso tem graves implicações no acesso aos cuidados diferenciados de Imunoalergologia em regime público. Acrescenta-se o fato dos Serviços de Imunoalergologia do SNS do nosso país estarem mais centrados no litoral e nos grandes centros urbanos, e as Unidades de Imunoalergologia do SNS (compostas por um ou dois especialistas), mesmo tendo médicos altamente qualificados, têm dificuldade na prescrição dos tratamentos biológicos, vendo-se por vezes forçados a encaminhar os doentes para centros de maiores dimensões. Assim, um doente com urticária crónica que não responda ao tratamento convencional e que seja candidato a biológico, terá que aguardar pela capacidade de resposta do SNS, para ser avaliado e poder ter acesso a esta opção diferenciadora”.
Assim, assinalar esta data é, para a imunoalergologista, uma oportunidade para “passar a mensagem de que têm de ser tomadas medidas para o acesso célere e equitativo aos cuidados e tratamentos especializados de Imunoalergologia, em especial para os casos graves de urticária, porque todas opções devem chegar a todos os doentes”.
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