“O projeto M2Child quer contribuir para esclarecer o envolvimento do microbioma intestinal na PHDA”, explica Joana Ferreira Gomes, professora da FMUP e coordenadora, juntamente com Benedita Sampaio Maia, do i3S-Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, e Micaela Guardiano, do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ).

Os investigadores irão explorar a associação entre esta perturbação e a desregulação intestinal, que pode ser influenciada por diferentes fatores, nomeadamente pela alimentação, infeções prévias e fatores hereditários.

Nesta fase, a equipa está já a recrutar crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 10 anos de idade, que irão ser distribuídas em dois grupos distintos: crianças com PHDA e grupo controlo - crianças sem perturbações no neurodesenvolvimento.

O recrutamento decorrerá nas consultas de Pediatria e dos Cuidados de Saúde Primários, mas também estará aberto à comunidade. Os interessados em participar poderão candidatar-se em https://m2child.med.up.pt/.

Está prevista a realização de uma avaliação neuropsicológica, nutricional e clínica, nomeadamente através da realização de análises às crianças recrutadas.

Através de técnicas inovadoras, os investigadores irão comparar o perfil do microbioma intestinal das crianças com biomoléculas envolvidas na inflamação e na regulação do Sistema Nervoso.

O objetivo deste estudo, já distinguido com a bolsa “Sociedade de Pediatria do Neurodesenvolvimento (SPND) 2020”, é identificar novos alvos diagnósticos e terapêuticos para esta perturbação do neurodesenvolvimento.

“Esperamos aprofundar a nossa compreensão sobre os mecanismos subjacentes, encontrar possíveis biomarcadores e abrir novos caminhos para futuras abordagens através da manipulação do microbioma, a fim de melhorar os sintomas e comportamentos principais das crianças”, explica Joana Ferreira Gomes.

Atualmente, o microbioma pode ser manipulado e modulado através de várias estratégias, que incluem alterações na alimentação, a ingestão de probióticos de nova geração, de pré e pós-bióticos (que promovem o crescimento de determinadas populações microbianas) ou a terapia fágica (introdução de vírus que infetam e modulam as populações de bactérias no organismo).

A PHDA é uma perturbação crónica do neurodesenvolvimento, que começa na primeira infância e persiste, muitas vezes, na idade adulta. Atualmente, estima-se que a sua prevalência, em crianças e adolescentes com menos de 18 anos de idade, poderá rondar os 5-7%.

Até à data, e apesar do impacto desta perturbação, os avanços na compreensão dos mecanismos da PHDA têm sido lentos e não existem opções de tratamento curativo disponíveis.