A enfermagem tem vindo a consolidar-se como um pilar essencial na construção e implementação de políticas de saúde eficazes e sustentáveis, tanto a nível nacional como internacional. Não é possível conceber sistemas de saúde sólidos sem reconhecer o papel crucial dos enfermeiros, os quais, diariamente, estão na linha da frente da prestação de cuidados, enfrentando diretamente os desafios e as necessidades das populações. É precisamente nesta linha que o International Council of Nursing (ICN) desempenha um papel vital ao colocar a enfermagem no centro das decisões globais sobre saúde.
Candidatar-me ao board do ICN, cuja eleição ocorrerá em junho de 2025 na Finlândia, representa uma oportunidade não só pessoal, mas também um marco significativo para a enfermagem portuguesa. Se eleito, serei o primeiro enfermeiro português a integrar este prestigiado órgão, uma responsabilidade que assumirei com orgulho e humildade, reconhecendo a importância simbólica e prática desta representação.
O ICN atua como uma voz poderosa junto dos governos e das instituições internacionais, como a Organização Mundial da Saúde e as Nações Unidas, defendendo políticas que promovem a saúde global e o desenvolvimento profissional da enfermagem. Esta organização procura garantir que os enfermeiros estejam envolvidos diretamente na criação e implementação de políticas de saúde, fortalecendo assim a capacidade de resposta dos sistemas às necessidades reais das comunidades.
Num cenário global marcado por constantes desafios, desde crises pandémicas até ao envelhecimento populacional, passando por mudanças climáticas e desigualdades sociais profundas, os enfermeiros têm demonstrado repetidamente coragem e capacidade de adaptação notáveis. São frequentemente os primeiros a identificar problemas emergentes na saúde pública e a propor soluções inovadoras, graças à sua proximidade com os pacientes e às comunidades. Contudo, para que essa experiência valiosa seja devidamente aproveitada, é essencial garantir que os enfermeiros estejam representados e ouvidos nos círculos decisórios.
Em Portugal, a enfermagem tem conquistado, gradualmente, um reconhecimento crescente, mas ainda enfrenta desafios significativos no que diz respeito à influência direta nas decisões políticas. A presença no ICN proporcionará a possibilidade de aprender com experiências bem-sucedidas de outros países, identificar estratégias eficazes, evitar erros já cometidos noutras geografias, e sobretudo trazer novas perspetivas que contribuam para decisões políticas mais informadas e fundamentadas em evidência científica.
A minha participação neste órgão internacional poderá servir como uma ponte estratégica para o nosso país, permitindo aceder a redes internacionais de conhecimento e partilha de boas práticas. Esta dinâmica internacional traz benefícios claros: ajuda a compreender melhor diferentes realidades e desafios globais, ao mesmo tempo que fornece ferramentas valiosas para abordar questões complexas, como a escassez de profissionais de saúde, condições laborais, formação contínua e, claro, modelos de financiamento e organização de serviços de saúde.
Mas para que esta mudança seja efetiva, é necessário ter a coragem de agir, de quebrar barreiras institucionais e culturais que, por vezes, limitam o potencial da enfermagem. Precisamos não só de coragem individual, mas também coletiva, para defender a importância da enfermagem na mesa onde as decisões são tomadas. Precisamos de coragem para mostrar aos decisores que investir na enfermagem é investir em sistemas de saúde mais resilientes, equitativos e eficazes.
Portugal beneficiará significativamente ao ter uma voz ativa no ICN, podendo aproveitar essa posição privilegiada para influenciar positivamente as políticas públicas nacionais de saúde. Através desta função, será possível garantir que as preocupações específicas dos enfermeiros portugueses sejam ouvidas e reconhecidas em contextos internacionais, promovendo um diálogo mais fluído entre profissionais, políticos e decisores de todo o mundo.
Em última análise, esta candidatura representa um compromisso com a valorização da enfermagem, com o fortalecimento das políticas de saúde nacionais e internacionais e com a melhoria da saúde das populações. É um passo corajoso que reforça não apenas a minha determinação pessoal, mas sobretudo a convicção de que os enfermeiros têm um papel central a desempenhar na construção de um futuro mais saudável e justo para todos.
NR/
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