O cancro do rim é a 14º tipo de cancro mais frequente a nível mundial, com mais de 430.000 novos casos diagnosticados em 2022, de acordo com o Global Cancer Observatory. A incidência varia geograficamente, com uma incidência mais elevada na Europa e América do Norte; em Portugal é o 11º tipo de cancro mais frequente, com 1624 novos casos, sendo responsável por 594 mortes/ano.

Existem alguns fatores de risco bem estabelecidos para o desenvolvimento de cancro do rim, como tabagismo, obesidade, consumo de álcool, hipertensão arterial e exposição a certos químicos, sendo também sabido que a sua incidência aumenta com a idade. Por outro lado, 5 a 10% dos cancros do rim surgem em contexto de síndromes de predisposição genética, como o síndrome de von Hippel – Lindau. Todavia, a esmagadora maioria surge de forma esporádica, sem nenhum fator causal claramente identificável.

Apesar de haver um aumento paulatino da incidência a nível mundial na última década (incluindo em doentes com menos de 50 anos), a taxa de mortalidade tem vindo a apresentar uma descida lenta mas constante, fruto de dois fatores – o aumento do número de diagnósticos incidentais e a evolução positiva nos tratamentos disponíveis para o cancro do rim.

Quanto ao primeiro ponto, a evolução da Medicina tem vindo a tornar obsoleta a noção da tríade clássica de deteção do cancro do rim – dor lombar, presença de sangue na urina e uma massa abdominal palpável. Estes sinais e sintomas ainda ocorrem, e a presença de qualquer um deles deve motivar a investigação para exclusão deste tipo de tumor, principalmente quando em conjunto; contudo, cada vez mais a deteção é feita através da identificação incidental em exames de imagem (ecografia, tomografia computorizada ou ressonância magnética) realizados por outras razões médicas. Não obstante, nem sempre é este o caso, e devemos estar atentos ao surgimento dos sintomas acima referidos (principalmente se com instalação insidiosa e mantidos durante meses), de modo a procurar ajuda médica no sentido de esclarecer a sua causa.

Na presença de sinais e sintomas ou após a deteção incidental de uma massa renal, a investigação deve prosseguir com uma tomografia computorizada torácica, abdominal e pélvica para caracterizar a massa (muitas vezes o exame de imagem é suficiente para um diagnóstico seguro de cancro) e aferir se a doença se encontra localizada ou disseminada.

Sendo o cancro do rim um tipo de tumor relativamente raro, é essencial neste momento procurar uma avaliação num centro hospitalar de referência com experiência no tratamento neste tipo de tumor. Isto pois é essencial uma abordagem multidisciplinar integrando diversas especialides médicas para decidir da melhor forma os passos seguintes – outros exames de imagem a pedir, necessidade de realização de biópsia para confirmação do diagnóstico, indicação e tipo de cirurgia, tratamentos médicos de imunoterapia ou dirigidos indicados. Neste passo assenta muitas vezes o sucesso da abordagem terapêutica do cancro do rim, permitindo, em conjunto com a deteção precoce, continuar a melhorar os resultados no tratamento desta doença a nível nacional.

O que é possível cada um de nós fazer no dia-a-dia? Apesar do panorama animador, não podemos esquecer que a incidência de cancro do rim tem vindo a aumentar, incluindo em doentes mais jovens. Existem ainda dados a apontar para que 25 a 30% dos novos diagnósticos tenham doença espalhada para outros órgãos aquando a deteção, o que limita bastante a sobrevivência. Assim, não devemos descurar nem a atenção a eventuais sinais e sintomas, nem a adopção de um estilo de vida saudável que permita corrigir fatores de risco modificáveis, como o tabagismo, o consumo de álcool, a obesidade e a hipertensão. O aumento da incidência em todas as faixas etárias, com consequências potencialmente desastrosas, exige uma ação precoce para promoção de medidas preventivas que reduzam o máximo possível o risco de um cancro potencialmente fatal.

Um artigo do médico João Gramaça, Oncologista na ULS de São José.