“É necessário um guião de atuação que ajude, nos cuidados de saúde primários, não só os médicos de saúde pública a avaliar melhor os riscos e as prioridades de intervenção, mas também os próprios centros de saúde a organizarem-se no atendimento a estas pessoas” que estão a chegar a Portugal, adiantou à Lusa o presidente da associação.
Segundo Gustavo Tato Borges, a definição destas regras de atuação é “fundamental” para evitar que, por exemplo, “haja centros de saúde onde rapidamente as pessoas [que abandonaram a Ucrânia] tenham acesso a um médico de família e noutros isso seja mais difícil”.
“É preciso que o ministério defina se vão ter médico de família atribuído ou não, se deve haver um médico por unidade funcional destinado exclusivamente a estas pessoas ou se podem ser seguidas nas consultas abertas”, adiantou o responsável da ANMSP.
A primeira preocupação da ANMSP é que os ucranianos sejam “acolhidos da melhor forma possível” e que, rapidamente, tenham acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) para que sejam acompanhados nas suas doenças crónicas, disse.
“Sabemos que a Ucrânia é um dos principais países da Europa nas taxas de incidência de tuberculose multirresistente e também nas taxas de incidência de infeção por VIH, sendo que apenas 57% da população diagnosticada estava em tratamento”, adiantou o médico.
Além disso, em dezembro de 2021, foi identificado no país um surto de poliomielite, com cerca de 20 crianças infetadas, “algo que não acontecia há 19 anos na Europa”, disse Gustavo Tato Borges, ao salientar que, em relação à covid-19, apenas 35% da população adulta está vacinada com uma dose da vacina.
Perante isso, segundo Tato Borges, é necessário estabelecer a forma como serão realizados os eventuais rastreios da tuberculose e do VIH, ou seja, se serão enquadrados nas normas em vigor em Portugal ou se vão ser definidas normas mais específicas.
“Todas estas preocupações de saúde preocupam-nos e vêm fragilizar o equilíbrio epidemiológico da nossa população, mas, acima de tudo, o que é importante é que o SNS acolha rapidamente estas pessoas e promova não só a vacinação, como o rastreio de possíveis doenças”, salientou o especialista.
Relativamente à covid-19, o presidente da associação considerou que a “máquina que ainda está no terreno é perfeitamente suficiente para vacinar estes refugiados de uma forma rápida e eficaz”.
As mulheres representam 59% do total dos mais de 10.000 ucranianos acolhidos em Portugal devido à invasão da Ucrânia pela Rússia, disse hoje a secretária de Estado para a Integração e as Migrações.
“São já mais de 10 mil pessoas em pouco mais de duas semanas, quase dois terços são mulheres, ou seja, 59%”, disse Cláudia Pereira à margem da inauguração do Centro Local de Apoio à integração de Migrantes (CLAIM), no Instituto Politécnico do Porto (IPP).
Cláudia Pereira adiantou ainda que mais de um terço dos ucranianos até agora acolhidos no país são crianças dos 0 aos 13 anos.
A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 726 mortos e mais de 1.170 feridos, incluindo algumas dezenas de crianças, e provocou a fuga de cerca de 4,8 milhões de pessoas, entre as quais três milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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