Chegámos a 2020 e, com ele, chegam também as resoluções de ano novo. Num país onde os seus governantes (há muito!) se desligaram da saúde, urgem medidas para ensinar a tratar da saúde aos profissionais que dedicaram a sua vida a tratar disso mesmo.

É necessária uma ferramenta de ensino que auxilie o processo de aprendizagem a todo e qualquer doente que recorra ao Serviço Nacional de Saúde. Já a adivinhar a sua deterioração, denominou-se “Serviço” porque, pela falta de profissionais num futuro próximo, é provável que não esteja lá ninguém e as pessoas tenham mesmo de se servir com o que por lá restar. Eu acho que, inicialmente, a ideia era ser “Chimarrão Nacional de Saúde” porque, por uma taxa moderadora fixa, eram apresentadas, rotativamente, diversas soluções para problemas de saúde e especialidades aos seus frequentadores. Devido às políticas vigentes, tudo indica que se reformulará para “Bufê Nacional de Saúde” em que, quem quiser a cura para uma maleita, terá de se chegar à frente e servir-se com o que houver, porque não estará ali ninguém para ajudar. Ah, e pagas a taxa moderadora na mesma, porque o tempo das vacas gordas já lá vai. Vai ser a mesma sensação que ir jantar fora e pedir um bife na pedra: come-se no restaurante, mas somos nós que cozinhamos e pagamos no fim.

Qualquer profissional de saúde que exerça a profissão e não tenha sofrido uma agressão, uma palavra rude ou uma queixa no livro de reclamações, nem sente que o é

Qualquer profissional de saúde que exerça a profissão e não tenha sofrido uma agressão, uma palavra rude ou uma queixa no livro de reclamações, nem sente que o é. Questiona-se, claro. “Que mal é que eu fiz para gostarem tanto de mim?”, “Porque é que nem um encontrão me dão?”, questionando-se do porquê de o estarem a excluir.

Convém estabelecermos um algoritmo, com o intuito de uniformizarmos as agressões, evitando que se tornem numa minoria.

Passo nº1: Recorrer aos serviços de saúde, encarando a violência como um factor facilitador da relação médico-doente, interpretando-a como parte integrante de um contexto de risco;

Passo nº2: Optar por ir à praia em pleno processo eleitoral e, posteriormente, criticar o tempo de espera nas urgências por ter apanhado um escaldão;

Passo nº3: Criticar o facto de haver doentes sobrepostos à mesma hora e querer medidas imediatas para que o tempo de pedido de consulta de especialidade seja mais curto;

Passo nº4: Ignorar a escassez de recursos, de meios humanos, de condições físicas e responsabilizar quem trabalha na primeira linha;

Passo nº5: Acertar um soco no médico entre cada passo anterior, ignorando que, para além da componente física, se esvai a confiança e se generaliza o sentimento.

Vivem-se tempos conturbados que ameaçam o bom senso clínico. Sujeitamo-nos a reagir de forma intempestiva quando um anão, assintomático, solicitar uma baixa quando, no fundo, ele só queria constituir família.