A passagem de ano é repleta de significado, ora pelo corte com o passado, ora pela esperança no futuro. Faz-se de renovação e esperança e cumpre-se o protocolo à risca, isto porque não somos supersticiosos.

Este início em jeito de homilia, prende-se com a passagem de ano do Papa porque, ao que parece, não fui só eu que me meti em excessos. O Papa deu uma palmada na mão de uma mulher que o puxou para ele, pouco depois de ter cumprimentado uma criança que ali estava para ver o presépio do Vaticano. As más línguas dirão que, tal como na história, este episódio apenas confirma que a Igreja teima em tratar demasiado bem as crianças e demasiado mal as mulheres. Quem não for adepto da maledicência, dirá que tudo não passa de uma distorção mediática disparatada.

A passagem de ano é feita de promessas que, por norma, não cumprimos. O Papa, como humano que é, fez o mesmo e optou por dar o exemplo. Sempre ouvi que este deve vir de cima e, neste caso, mais acima, só se viesse de Deus.

Jorge Mario Bergoglio foi matreiro: deu um tabefe a uma mulher e depois fez um discurso centrado no combate à violência contra quem? Contra as mulheres, claro está. Se a ideia era alertar, poderá ter sido demasiado gráfico, numa de “Estão a ver o que eu fiz? Peço desculpa, mas forçaram-me a fazê-lo única e exclusivamente com o intuito de advertir-vos de que é exactamente contra aquilo que eu fiz que temos de lutar”. Astuto, o homem.

Cá para mim, só deu uma palmada numa peregrina, quase em jeito de fantasia, para começar o ano novo de cabeça limpa. Depois do tapinha na peregrina, o Papa Francisco pediu desculpa e alegou que “muitas vezes perdemos a paciência. Até eu, às vezes”. Já eu, estou aqui a dar voltas à cabeça, porque ia jurar que já ouvi este discurso com esta cadência de acção em algum lado.

O Papa já deu várias dicas de que, se calhar, não gosta muito que o venerem, dado que apenas existe para servir o povo de Deus. É difícil esquecer o episódio de Março de 2019 quando, durante uma visita ao santuário de Loreto, em Itália, afastou repetidamente a mão quando os fiéis tentavam beijar o anel que usa na mão direita. Ao ver o vídeo pela primeira vez, pensei estar perante os campeonatos nacionais de jogo da sardinha que consagravam o Papa como campeão invicto.

Não tenho nada contra o Papa, bem pelo contrário. Deparei-me foi com este tema e decidi prendê-lo para mim e puxá-lo para aqui. O problema é que, muitas vezes, perdemos a paciência. Até eu, às vezes.