O Sindicato das Ciências da Saúde considerou hoje “redutor” responsabilizar uma técnica pela troca de sangue, no caso do doente que morreu após uma transfusão, acusando a clínica de Santo António de não ter seguido o protocolo para estes doentes.
Um homem de 63 anos, internado na Clínica de Santo António (Amadora) para ser operado a um joelho, morreu após receber transfusões de sangue incompatível, o que se terá ficado a dever a uma troca com um paciente com o mesmo apelido internado no mesmo quarto.
A clínica responsabilizou a técnica, pertencente à empresa Hemovida, pelo erro, já que fez a recolha de sangue para análise ao doente errado.
Em comunicado, o Sindicato das Ciências e Tecnologias da Saúde (SCTS) considerou que, tendo sido uma “má prática” a troca de doentes, é “redutor” considerar que foi apenas por isso que o doente morreu.
“Se é verdade a troca de doentes no momento da recolha de sangue para análise laboratorial, não é menos verdade que tal facto é só um episódio de um corolário de erros e más práticas profissionais, envolvendo instituições e profissionais de saúde”, afirma o sindicato.
Sustentando estas afirmações, o SCTS questiona como é que um técnico de análises clínicas pode ter acesso aos doentes internados em enfermaria sem a prévia orientação do pessoal de enfermagem e como é que os doentes não têm as suas camas identificadas, com um número e o nome do respetivo paciente.
Em declarações à Lusa, a enfermeira diretora da Clínica de Santo António, Sara Saavedra, esclareceu que, de facto, a técnica em causa se deveria ter dirigido ao enfermeiro de serviço, o que “desta vez não aconteceu”.
Além disso, garante que todas as camas têm nome e número e que na entrada dos quartos existe um quadro com todas as identificações, inclusivamente do médico assistente.
“Está tudo identificado, não há margem para erro. Não sei o que aconteceu, talvez facilitismo”, considerou, afirmando que a culpa do acidente se deveu aos procedimentos desta técnica e que a responsabilidade compete à empresa de sangue que a empregava.
Contudo, o sindicato vai mais além nas dúvidas levantadas quanto aos procedimentos médicos com este doente, e que ultrapassam o “incidente” da troca de doentes.
“Não se entende que. após a transfusão sanguínea do doente, este não tenha ficado sob hemovigilância, conforme determina o protocolo para os doentes transfundidos, dado o processo não ser totalmente isento de risco de reações adversas após a transfusão sanguínea, mesmo que observadas as melhores práticas profissionais”, afirma.
O SCTS questiona ainda a decisão de, perante a manifestação de mal estar do doente, se efetuar repetidas transfusões sanguíneas, “quando manda o protocolo das boas práticas que, em caso de reações adversas, e num prazo máximo de 72 horas, o doente seja sujeito a hemodiálise, o que não aconteceu”.
Finalmente, e apontando como tendo sido a pior decisão da clínica, o sindicato salienta que o doente só foi transferido após cinco dias para um hospital público, dotado dos meios de socorro do doente, o que a ter acontecido mais cedo permitiria “uma intervenção com maior grau de sucesso”.
“Cinco razões nucleares que, não desculpando ou isentando de responsabilidades o profissional de saúde pela troca de doentes, não desculpam nem isentam de responsabilidades toda a equipa que, antes e depois do fatal engano, deveriam ter adotado procedimentos técnicos e critérios clínicos que, como se veio a verificar, poderiam ter evitado a morte do doente”, sublinha.
Sobre esta matéria, a clínica, que atirou as responsabilidades para a empresa Hemovida e a sua técnica de saúde, escusou-se a responder, afirmando que não prestará mais declarações e que só falará em tribunal.
O Ministério Público já instaurou um inquérito para apurar responsabilidades.
13 de dezembro de 2011
@Lusa
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