"Não há saúde sem saúde mental." Foi este o aviso deixado pelo primeiro diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Brock Chisholm, sobre aquela que continua a ser uma das áreas onde é preciso atuar urgentemente: a saúde mental. E os últimos dados sobre o assunto não deixam margem para dúvidas. Em 2019 quase um bilião de pessoas viviam com uma perturbação mental, sendo que 14% eram adolescentes, e o suicídio foi responsável por mais de uma em cada 100 mortes. De acordo com o último relatório global da OMS, publicado em junho de 2022, verificou-se um aumento de 25% nos casos de depressão e ansiedade no primeiro ano após o início da pandemia.

Durante o contexto pandémico a saúde mental dos portugueses só piorou: de acordo com vários estudos, cerca de metade dos adultos diz ter sentido impactos psicológicos moderados ou severos durante este período, sendo que sete em cada 10 admitiu estar em sofrimento psicológico durante a quarentena. Mas, se olharmos para o período pós-pandémico este também acabou por não ser benéfico: para além de a ansiedade (27%), a depressão (26,4%) e a perturbação de stress-prós traumático (26%) estarem entre os principais sintomas reportados pelos adultos, 75% diz ter experienciado uma maior solidão.

No caso das crianças e dos adolescentes, os números também não são animadores. A pandemia fez com que grande parte dos jovens experienciassem sentimentos negativos, como aborrecimento (50%), irritação (40%) e preocupação (um em cada três). Como forma de passar o tempo, os computadores, tablets e smartphones foram os dispositivos privilegiados durante este período, onde passaram três vezes mais tempo do que o habitual. No contexto pós-pandémico, tanto nas crianças como nos adolescentes verificou-se um aumento dos problemas de saúde psicológica, como a ansiedade e depressão.

António Raminhos: “Eu não sou os meus problemas"

Talk sobre saúde mental
créditos: Fidelidade

Tendo em conta os últimos dados sobre a evolução da saúde mental em Portugal e o impacto que tem na vida de milhares de portugueses, torna-se importante reduzir o estigma e desmistificar preconceitos associados às doenças de foro mental. Assim, a Multicare, seguradora de saúde do grupo Fidelidade, e a OPP decidiu juntar o comediante António Raminhos e o psicólogo Tiago Pereira para um debate sobre o tema, moderado pela apresentadora e embaixadora da seguradora, Isabel Silva. “Eu não sou os meus problemas. Sou muito mais do que isso”, começou por afirmar o humorista que, por volta dos 26 anos foi diagnosticado com Transtorno Obsessivo-Compulsivo e ansiedade, e tem sido uma voz ativa na desmitificação da saúde mental, em Portugal. “Há ainda muito a ideia de que a saúde mental tem que ser um fardo. A questão é essa: o equilíbrio que tem de ser encontrado antes de chegar à doença.”

Mas, para que seja possível atuar de forma preventiva e conseguir identificar sinais de que algo pode não estar bem e evitar diagnósticos tardios é necessário apostar na promoção da literacia em saúde mental. “É muito importante que nós possamos conhecer como funciona a mente no geral e a nossa mente em particular porque isso nos ajuda, de certa forma, a ter alguma noção, algum controlo e previsibilidade sobre aquilo que nos está a acontecer. […] Mais importante do que controlarmos a nossa mente, é conseguirmos perceber e reagir a padrões, conseguirmos mobilizar recursos que temos para fazer alterações à nossa vida, para mudar determinados comportamentos quando sentimos que alguma coisa está a mudar e nos está a levar por um caminho de maior sofrimento ou maior mal-estar”, explica o psicólogo e membro da direção da OPP que defende a importância do acesso a cuidados de saúde nesta área.

António Raminhos, que é da opinião que “todas as pessoas deviam ir ao psicólogo”, considera que uma forma de desmistificar o tema passa por naturalizar a ida ao psicólogo e falar sobre ele sem preconceitos e o mais abertamente possível com aqueles que nos rodeiam: família, amigos e crianças. O humorista refere que nunca escondeu as suas emoções e períodos de crise da mulher, Catarina, e das suas três filhas, Maria Rita, de 12, Maria Inês, de 10, e Maria Leonor, de 6. “Elas guiam-se muito mais pelo exemplo do que propriamente por aquilo que dizes. Nas questões da ansiedade, quando eu estou mal, eu digo porque elas percebem o desconforto no meu olhar e percebem que fico alheado da realidade. [Faço-o] Exatamente para lhes dar esse espaço [de partilha] e falamos sobre tudo.”

Tão importante como procurar ajuda especializada em saúde mental, é necessário que, à semelhança do exemplo do humorista, as famílias criem um ambiente propício para o diálogo entre pais e filhos. Quem o diz é Tiago Pereira. “É fundamental que tenhamos presente que a partir de certa idade – os 7/8 anos - tudo deve ser comunicável e adequado à idade das crianças. Não há apenas uma forma de nós comunicarmos sobre um conjunto de situações, e esse é o grande desafio enquanto pais, cuidadores e professores”, refere o psicólogo, explicando que a comunicação aberta e honesta vai retirar o peso de haver assuntos tabus. “Isto é terrível do ponto de vista do desenvolvimento, e assuntos tabus na adolescência são problemáticos. […] Mas há um outro ponto: quando estamos a comunicar, também estamos a dar a oportunidade às crianças de nos dizerem o que pensam sobre aquela situação. […] Essa oportunidade de nós também percebermos o que vai dentro da criança é fundamental.”

Focada em promover uma cultura de prevenção, proteção e diagnóstico precoce na saúde mental em Portugal, ao mesmo tempo que reduz o estigma e fomenta uma maior literacia em relação a esta temática, a Multicare e a OPP juntaram-se para a criação de uma parceria. A partir do dia 1 de novembro, a seguradora vai lançar uma nova sub-cobertura: uma bolsa de apps de validação científica e promotoras da proteção da saúde mental (onde se incluem as apps Calm, Headspace e 29K FJN). Este serviço, pioneiro no mercado, vai abranger todos os clientes que tiveram subscrito a cobertura de saúde mental e terá uma comparticipação anual em reembolso de 50% nas aplicações que carecem de pagamento.