O cancro tem uma expressão avassaladora, tanto em termos de saúde pública como socioeconómica. Representa a 2ª causa mais comum de morte, totalizando 10 milhões de casos anuais, 70% dos quais em países de baixos e médios rendimentos.

Esta casuística tem servido de motor a uma constante procura por soluções inovadoras para o seu combate. O que se deseja são respostas mais eficazes, mas ao mesmo tempo com menores efeitos laterais, menor invasividade e também economicamente comportáveis.  As técnicas de termoablação, percutânea, realizadas por Radiologistas de Intervenção, reúnem todos esses critérios.

A Radiologia de Intervenção é uma área de diferenciação dentro do universo da Radiologia, uma especialidade médica que se dedica ao diagnóstico e tratamento de várias patologias de um modo minimamente invasivo, com recurso a técnicas de imagem, fazendo uso das mais modernas tecnologias.

As técnicas realizadas no âmbito da RI sendo percutâneas e/ou endovasculares implicam, na sua globalidade, apenas uma incisão milimétrica na pele (imagem 1). Assim, ao serem menos invasivas do que as técnicas clássicas, permitem menores tempos de internamento, menor risco de complicações, custos menores e um retorno mais rápido à vida activa, com uma eficácia comparável, proporcionando óbvios ganhos, seja em termos de qualidade de saúde, seja económicos. 

Foto da incisão cutânea necessária para se realizar o tratamento
Foto da incisão cutânea necessária para se realizar o tratamento créditos: Direitos reservados

As termoablações percutâneas são uma das técnicas realizadas pela Radiologia de Intervenção que em muito tem contribuído para a melhoria dos cuidados prestados aos doentes. Tecnicamente são semelhantes à realização de uma biópsia. É introduzida na lesão, através da pele, uma “agulha especial” que a irá tratar, recorrendo a métodos térmicos (radiofrequência, micro-ondas ou crioablação). No fundo, a lesão irá ser “queimada” ou “congelada”, num processo que leva à sua destruição. 

Imagem 2: desenho esquemático com antena de termoablação colocada em nódulo hepático 
Desenho esquemático com antena de termoablação colocada em nódulo hepático  créditos: Direitos reservados

Estes procedimentos são orientados por Tomografia Computorizada (TC) ou Ecografia e duram cerca de uma hora (imagem 3). São indolores para o doente uma vez que são realizados sob sedação ou anestesia geral com a colaboração de Anestesiologia. Actualmente, são utilizados no tratamento de fases iniciais de algumas neoplasias, em doentes que não são candidatos a cirurgia (por exemplo, quando esta é tecnicamente inviável, por comorbilidades ou por risco aumentado de complicações) ou no tratamento de alguns nódulos benignos. Estas técnicas podem ser aplicadas no fígado, nos rins, no pulmão, no osso, na mama, na tiroide e nos tecidos moles e estão incluídas, por exemplo, nas guidelines de referência do tratamento de Hepatocarcinoma e do Carcinoma de Células Renais.  

De acordo com o tipo de lesão tratada e também com o modo de funcionar do local onde o procedimento é realizado, o doente poderá retornar ao domicílio algumas horas após a sua realização ou então ficar internado um a dois dias. De qualquer das formas, são sempre durações significativamente inferiores quando comparados às do internamento de cirurgias com intuitos semelhantes. 

Imagem 3: exemplo de uma antena de termoablação por micro-ondas colocado no doente, sob controlo por TC
Exemplo de uma antena de termoablação por micro-ondas colocado no doente, sob controlo por TC

A UFRI - Unidade Funcional de Radiologia de Intervenção do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia - foi pioneira a nível nacional a realizar a maioria destes procedimentos em regime de ambulatório ou em hospitalização domiciliária (em grande parte devido à fundamental colaboração da nossa equipa de Hospitalização domiciliária), retornando os doentes a casa algumas horas após o procedimento. No ano de 2022 realizámos 74 termoablações e na sua globalidade os procedimentos tiveram sucesso técnico e impacto positivo na qualidade de vida e longevidade do paciente, não tendo sido registadas complicações major.

É objectivo da nossa unidade, durante o ano de 2023, além de aumentar o número de casos realizados, é continuar a realizar actividades que alertem para estas possibilidades terapêuticas, de modo a que mais unidades hospitalares decidam apostar nesta área, garantindo uma oferta de cuidados mais harmoniosa e simétrica a toda a nossa população. 

Um artigo do médico radiologista Pedro Marinho Lopes, Coordenador da Unidade Funcional de Radiologia de Intervenção do CHVNG.