Depois de uma tumorectomia e de vários tratamentos de radioterapia e quimioterapia, Tatiana Bond depositou no Olaparib, uma "opção mágica" como lhe chama, a sua nova esperança.
"Em fevereiro fiz uma TAC que mostrou que havia progressão da doença. O meu oncologista sugeriu fazer o Olaparib e fez o pedido de uso excecional ao Infarmed, mas a entidade do medicamento indeferiu o pedido", conta a portuguesa de 37 anos licenciada em Farmácia.
"Tentei pedir mais informações sobre o motivo da recusa, mas o que recebi foi praticamente uma resposta automática a dizer que não analisam casos individuais e que o medicamento não era aprovado porque há alternativas terapêuticas", relata.
Mas as alternativas terapêuticas sugeridas pelo parecer da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) são a quimioterapia tradicional, que não é uma terapêutica dirigida para aquele tumor. "Traz muitos efeitos secundários. A qualidade de vida diminui muito com este tipo de tratamentos. Já fiz esta quimioterapia duas vezes. A outra sugestão que me fizeram foi terapia hormonal, mas eu também já a fiz e deixou de funcionar", explica.
"O Olaparib, sendo uma terapêutica dirigida, terá à partida menos efeitos secundários e acima de tudo dar-me-ia tempo de vida. Para mim este medicamento é vida. O Olaparib é dar-me vida, literalmente", assevera.
Tumor detetado no Reino Unido
Tatiana Bond trocou o Cartaxo em 2009 pelo Reino Unido, onde foi tentar a sua sorte profissionalmente. Mas foi lá, em 2016, que lhe fecharam a porta pela primeira vez ao recusarem-lhe um novo tratamento. "Deram-me seis meses de vida e aconselharam-me a passar esses seis meses a criar memórias com os meus filhos em vez de me tratar", recorda.
Tatiana Bond não se conformou. Na altura, os dois filhos de Tatiana e do marido, Mark Bond, tinham 6 e 18 meses. "Foi o meu marido e a minha família que me trouxeram para Portugal à procura de uma segunda opinião, de alguma luz ao fundo do túnel. Comecei a ser seguida no hospital de Santarém e encontrei uma atitude completamente diferente. Uma atitude mais humilde", comenta.
"Disseram-me que não sabiam como é que a doença iria reagir enquanto não experimentássemos novos tratamentos. E ainda bem que assim foi, porque os tratamentos têm resultado. A doença é incurável, nunca vou deixar de a ter, mas temos conseguido que ela não cresça e se mantenha estável. Para mim isso é o melhor que posso esperar", admite.
Tatiana Bond tem uma forma de cancro da mama hereditário. Sendo portadora das mutações dos genes BRCA1 e BRCA2, nasceu já com uma maior predisposição para desenvolver tumores malignos da mama e do ovário. "A minha vida é assim: vamos fazendo tratamentos que estabilizam a doença, chega a um ponto que a doença deixa de estar estável e começa a progredir e aí mudamos para outro tratamento", diz.
Na terça-feira, Tatiana Bond endereçou uma carta a Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed e partilhou-a nas suas redes sociais.
"Quero chegar aos ouvidos de quem tem poder de decisão e reverter esta decisão. Gostaria que aprovassem o meu tratamento, mas acima de tudo gostaria de desbloquear o acesso a este fármaco para que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) o possa financiar, porque o medicamento tem autorização de introdução no mercado", explicou ao SAPO.
"Há vários relatórios disponíveis no site do Infarmed que concluem que o medicamento funciona e tem uma excelente relação custo-benefício. Mas eles não o financiam", lamenta.
"O Infarmed reconhece que o medicamento funciona, que vale a pena fazê-lo, que está indicado para este tipo de situações, no entanto não o financia, o que não faz muito sentido, porque este medicamento é mais barato do que muitos dos medicamentos oncológicos como algumas quimioterapias, tratamentos hormonais e outras terapêuticas dirigidas", resume.
A Tatiana não vai desistir
É uma corrida contra o relógio, um tique-taque desesperante, mas Tatiana Bond está decidida em levar a melhor. "Sabendo que estas coisas demoram tempo, estou a tentar perceber se seria viável começar os tratamentos num hospital privado", equaciona.
Cada tratamento numa unidade privada custa quase 8 mil euros por mês. "Para nós o preço do tratamento é insustentável", refere. "Mas cada medicamento é mais um trunfo que eu tenho contra o cancro. Sei que uma das possibilidades é começar a tomar este medicamento e ele não fazer nada. Existe essa hipótese. No entanto, se eu não tentar, nunca saberei. Por isso tenho de ir atrás", afirma.
Para isso criou no Instagram uma pequena loja online para vender bijuterias e tentar financiar os primeiros tratamentos com o fármaco comercializado sob a marca Lynparza. Mas enquanto procura alternativas para poder adquirir o medicamento, não vai baixar os braços: "Vou queimando etapas, vou usando os trunfos todos. Eu não quero chegar ao último trunfo. Cada medicamento que eu possa tomar é adiar chegar ao último", conclui.
O Infarmed adiantou numa nota enviada à agência Lusa que, no âmbito da avaliação para efeitos de financiamento público, as empresas farmacêuticas responsáveis pelo produto - AstraZeneca e Merck - submeteram este mês o último estudo necessário à conclusão da avaliação técnica do fármaco por parte dos peritos.
Nesse sentido, o Infarmed "está a desenvolver todos os esforços para concluir a avaliação e poder disponibilizar mais esta opção terapêutica nas melhores condições para o Serviço Nacional de Saúde e seus utentes".
Entretanto, já circula uma petição online que pede acesso imediato ao Lynparza para os doentes elegíveis com cancro da mama em Portugal.
Comentários