A organização "Waves for Change" (W4C) está sediada na Cidade do Cabo, na África do Sul, e pretende promover um espaço seguro e inclusivo para crianças que esteja longe das suas escolas e das suas casas.

Nestas aulas inclusivas, as crianças são convidadas a conviver de forma relaxada, uns com os outros. São-lhes ensinados truques de relaxamento, meditação, bem como habilidades de socialização e autoconfiança.

Por outro lado, os técnicos desta escola ensinam truques de respiração que permitem às crianças aprender a regular-se do ponto de vista emocional, bem como a reduzir a ansiedade social tão característica deste tipo de patologias.

Ao aceder às habilidades e ao nível de conforto de cada criança, os treinadores apresentam às crianças o surf e o oceano como forma de exercício e veículo de expressão.

As fotos do projeto

"Como as crianças têm muito pouco ou nenhum sentido de perigo, precisamos de ser muito rigorosos e atentos, porque tentam nadar em águas profundas sem perceber que isso pode ser perigoso ou prejudicial. Como equipa, aumentamos bastante a confiança e aprendemos a adaptar o nosso treino, porque cada criança com autismo é única, por isso, como técnicos, cabe a nós, treinadores, ensiná-las bem", comenta Annalisa, uma das treinadoras do W4C.

As sessões semanais centram-se em atividades de diversão, interação social, sentimento de pertença, bem como acesso a um apoio especializado e individualizado. De forma gentil e sem julgamentos, as crianças são ensinadas a interagir e a integrar-se na sociedade, sem pressões ou expectativas, o que lhes permite reduzir os seus níveis de ansiedade e aumentar a confiança.

O trabalho desta escola valeu o interesse dos duques de Sussex, Harry e Meghan, que durante o seu recente périplo por África, em setembro, visitaram esta escola, para conhecerem o trabalho da W4C.

O que é o autismo?

O autismo é uma perturbação do neuro desenvolvimento que afeta a forma como as pessoas compreendem o mundo que as rodeia e como aprendem com as suas experiências. Foi descrito pela primeira vez por Leo Kanner, na primeira metade do século XX, quase em simultâneo com Hans Asperger.

Porém o quadro de diagnóstico do Autismo tem vindo a sofrer inúmeras alterações desde a sua descrição inicial. A última revisão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Perturbações Mentais (DSM) faz desaparecer a Síndrome de Asperger e assume explicitamente apenas uma forma desta perturbação - a "Perturbação do Espectro do Autismo" (PEA) - num contínuo com vários níveis de severidade, definidos segundo o grau de suporte de que a pessoa necessita no dia-a-dia.

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Atualmente, os critérios de diagnóstico internacionalmente aceites pressupõem a presença de dificuldades persistentes na comunicação e interação social, e um padrão restrito e repetitivo de comportamento, interesses ou atividades.

Uma criança com PEA ligeira pode ter um nível intelectual dentro ou até acima da média, boa comunicação verbal e não-verbal, e capacidade para ser autónoma e independente, tendo apenas alguma dificuldade em iniciar a interação social e mostrando respostas peculiares ou invulgares quando abordado pelos outros (não respeita as regras de cortesia, familiaridade e estatuto, podendo ser demasiado familiar com estranhos, por exemplo, ou demasiado formal com os amigos).

Pelo contrário, uma criança com PEA severa apresenta comprometimento grave na comunicação e funcionamento social, podendo mesmo apresentar uma ausência completa de oralidade ou intencionalidade comunicativa, e rituais, interesses e comportamentos tão marcados que interferem nas atividades quotidianas.

Exemplos disso são o interesse restrito por desenhar animais imaginários ou a obsessão por determinado tipo de alimentos (alimentos brancos, por exemplo) ou ainda a persistência quase inabalável em temas que lhe despertam interesse em detrimento de tudo o resto (dinossauros, bandeiras, etc.). Nos casos mais graves, estas crianças necessitam de um apoio muito substancial no dia-a-dia até para a realização das atividades de vida diária mais elementares, como despir e vestir um casaco, ir à casa de banho, fazer recados simples, assoar-se sozinho, entre outras.