“O senhor presidente do Governo dos Açores quando me deu essa informação, a forma como a deu, pareceu-me que sim, que estaria seguro que tudo estaria assegurado, que a segurança dos utentes estaria assegurada, que as escalas estavam garantidas e que haveria um normal funcionamento do HDES. Quando fomos realmente verificar, isso não acontece”, disse à Lusa Anabela Lopes.

Na quarta-feira, após uma reunião do presidente do Governo açoriano, José Manuel Bolieiro, com os sindicatos, Anabela Lopes disse que as urgências hospitalares nos Açores, que estavam na iminência de não terem escalas completas, por indisponibilidade dos médicos, estavam asseguradas.

Hoje, Anabela Lopes salientou que ficou em causa a sua palavra e do presidente do Governo dos Açores: “nós acabámos por mentir, pelo menos eu, com base numa afirmação que me fizeram e que veio a verificar-se que não era verdade”.

Na quinta-feira, a responsável nos Açores da Ordem dos Médicos, Margarida Moura, denunciou a falta de condições de assistência aos doentes no Hospital de Ponta Delgada, nomeadamente na cirurgia geral, cuja diretora de serviço apresentou a demissão.

Na altura, Margarida Moura referiu que “há escalas em diferentes serviços que não estão de acordo com as orientações da Ordem dos Médicos e que põem em perigo a qualidade e segurança da assistência aos doentes”, nomeadamente no caso da cirurgia geral, em que “é obrigatório estarem escalados pelo menos dois cirurgiões, por dia, e por turno, e só está um”, que “não opera sozinho, por razões de segurança”.

Já hoje, Emanuel Dias, porta-voz de 21 diretores de serviços que, entretanto, se demitiram, afirmou que “aquilo que o presidente do Governo dos Açores disse foi falso”, considerando que “foi enganado pelo conselho de administração, porque as escalas não estão completas”.

Segundo Emanuel Dias, porta-voz dos diretores de serviços clínicos demissionários, a escala de serviço do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES) “não está preenchida e quem está a preenche-la é o atual conselho de administração, que não o tem conseguido”.

Médicos dos três hospitais públicos da região (Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta) manifestaram, num abaixo-assinado enviado a José Manuel Bolieiro, ao vice-presidente do Governo Regional, Artur Lima, e ao secretário regional da Saúde e Desporto, Clélio Meneses, a sua indisponibilidade para realizar horas extraordinárias para além do limite legal das 150 horas, o que poderá colocar em causa o serviço de urgência já em dezembro.

Em causa estão declarações do vice-presidente do Governo dos Açores, que já afirmou que não teve “intenção de ofender os médicos” quando falou sobre o trabalho extraordinário, após ter sido criticado por PAN, BE e PS no parlamento regional.

Na quarta-feira, o presidente do Governo dos Açores (PSD/CDS-PP/PPM) confirmou a demissão dos 10 chefes do serviço de urgência do hospital de Ponta Delgada, mas garantiu que “as escalas de urgências dos três hospitais” estão asseguradas na próxima semana.