Um especialista em transfusões alertou hoje que há muitas situações em que as terapêuticas com fármacos podem ser usadas como alternativa ou em complemento com as transfusões, o que permitiria aos hospitais poupar sangue, que tem escasseado.
Em declarações à Lusa, António Robalo Nunes, médico especialista em imunohematologia, afirma que tem “acompanhado com atenção a questão de falta de sangue, que é real”, pois há uma “escassez em relação ao que é habitual”.
“Mas este problema não pode ser visto só do lado da colheita. Tem de contemplar medidas que possam ter impacto redutor na parte do consumo. Admito que há uma percentagem de situações transfusionais que poderiam ser evitadas”, afirmou.
Reconhecendo tratar-se de um quadro difícil de controlar em cenários cirúrgicos, o especialista defende duas medidas fundamentais: respeitar estritamente a indicação para transfusão e utilizar tratamentos farmacológicos que podem ser usados para diminuir as necessidades de transfusão.
Um desses exemplos é o ferro, que tem formas muito eficazes, de resposta rápida e de baixa toxicidade.
“Estamos a viver um momento de austeridade transfusional e por isso tem de haver tolerância zero em relação à transfusão inadequada. Em medicina há um princípio muito simples, que diz que uma transfusão que não está indicada está contra indicada”, considerou.
O médico do Hopsital Pulido Valente lembra que cada vez que há um doente a receber transfusão de forma inadequada, pode haver um doente ao lado a necessitar de sangue e que esteja a ser impedido de o receber.
Em relação às terapêuticas farmacológicas, o médico exemplifica com os cenários de anemia encontrados em doentes com cirurgia programa e a quem se pode administrar ferro para diminuir a probabilidade de ter que receber uma transfusão de sangue durante a operação.
“Às vezes também no pós-operatório os doentes apresentam uma anemia ligeira. A tendência é para a transfusão, mas podemos dar ferro intravenoso e melhorar a sua condição clinica sem necessitar da transfusão. Temos de usar todas as armas disponíveis para o evitar”, acrescentou.
Robalo Nunes lembra, a propósito, os grupos com objeção de consciência (em relação às transfusões) por motivos religiosos, que não recebem sangue e nem por isso deixam de ser tratados.
Além disso, a transfusão é um tratamento com um risco, controlado, mas não é isento de risco, alerta, explicando que o sangue é um produto biológico e, por isso, pode ser considerado como um transplante, com todos os riscos inerentes, nomeadamente a transmissão de doenças infeciosas e as reações transfusionais.
Quanto aos custos de ambos os processos, o especialista lembra que a terapêutica farmacológica também é mais barata, uma vez que a preparação do sangue para a sua administração encarece-o de forma significativa.
27 de abril de 2012
@Lusa
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