O stress faz parte do nosso instinto de sobrevivência. Quando nos sentimos em perigo, o nosso organismo reage de forma rápida com picos de stress para ficarmos mais alerta.
Infelizmente, os desafios da sociedade moderna proporcionam em algumas pessoas grandes níveis de stress, várias vezes ao dia. Preocupações constantes, dificuldades, frustrações e exigências fazem parte da nossa rotina diária, e o nosso corpo reage desencadeando stress. Este stress pode ser agudo ou crónico. O stress agudo ocorre de forma repetida, durante o dia-a-dia e pode até ser essencial para algumas situações. No entanto se não for controlado pode evoluir rapidamente para stress crónico. O stress pode estar diretamente associado a problemas no trabalho, nas relações pessoais, problemas financeiros, etc...
Qual é a relação do stress com a articulação temporomandibular?
A Articulação Temporomandibular (ATM) localiza-se em frente ao ouvido e permite-nos fazer movimentos essenciais como mastigar, falar, sorrir e até bocejar. Em média, a articulação temporomandibular é movimentada 2.000 vezes por dia. O normal, é não nos apercebermos desta articulação no dia-a-dia. Quando esta articulação dói, estala, limita a abertura normal da boca, sentimos bloqueios articulares, tensão nos músculos da face e nos músculos do pescoço, e é nesta altura que nos lembramos da ATM. Quando esta articulação está disfuncional, diz-se que há uma disfunção da ATM (DTM).
Uma das nossas respostas ao stress é o apertamento dentário. É um mecanismo de defesa! Este apertamento dentário em resposta ao stress é também acompanhado pela contração dos músculos da face que ficam sob tensão. Este apertamento dentário e tensão muscular repetido ao longo do dia, durante semanas, contribui para um agravamento das estruturas articulares e musculares, por um fenómeno de sobrecarga articular e muscular. Este conjunto de situações combinam num aumento do risco de haver problemas da articulação temporomandibular. Diversos estudos científicos identificam uma forte relação entre as disfunções temporomandibulares, o stress e a ansiedade.
As disfunções temporomandibulares (DTM) raramente estão associadas apenas a uma causa. São normalmente múltiplas causas que contribuem para esta patologia. Os nossos registos mostram que houve um aumento da procura por esta consulta após o confinamento. É muito provável que o próprio stress e incerteza que a pandemia causou, tenha contribuído para agravar os sintomas dos doentes! Os sinais e sintomas mais importantes são dor, limitação na abertura da boca, limitação dos movimentos da boca, estalidos ou outros ruídos quando há movimentos da boca (a mastigar por exemplo), tensão dos músculos da face, tensão dos músculos do pescoço, dores de cabeça, cansaço dos músculos da face. A dor pode ser tipo "moinha" que vai e vem com intensidade moderada, ou uma dor constante de grande intensidade causando incapacidade em alguns doentes.
Tratamento
É importante adotar uma abordagem multidisciplinar para ter sucesso no tratamento. Por vezes, o problema de base pode ser uma má postura, ou um acidente de carro há algum tempo. Uma boa história clínica é essencial para termos um bom diagnóstico e um plano de tratamento adequado a cada doente.
Como nota final, a autoperceção individual dos fatores que contribuem para o stress é fundamental. É importante que cada individuo, encontre mecanismos de reduzir o stress no seu dia-a-dia. As implicações do stress na articulação temporomandibular são indiretas. Estão sobretudo associadas ao apertamento dos dentes e à contração dos músculos da face e do pescoço. Identificar estes sintomas numa fase inicial é fundamental para não agravar a patologia. Hoje, existem diferentes abordagens terapêuticas para este problema, mas um diagnóstico rigoroso é o primeiro passo para o sucesso terapêutico.
Um artigo do médico David Ângelo, especialista em Estomatologia, Diretor Clínico do Instituto Português da Face e Professor Auxiliar Convidado na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Comentários