O trabalho realizado no Departamento de Química da UA centrou-se na remoção da água de resíduos de analgésicos e os resultados são promissores: os biocarvões resultantes das lamas, uma matéria prima barata que de outra forma iria para o aterro, conseguem competir com outros já existentes no mercado.

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A equipa de investigadores centrou-se no desenvolvimento de um biocarvão adsorvente (material capaz de fixar na respetiva superfície moléculas presentes em fluídos) utilizando como matéria prima resíduos agrícolas e industriais produzidos em grande escala.

“O propósito final consistiu na utilização dos adsorventes produzidos para remoção de poluentes das águas dos sistemas de recirculação em aquacultura e foram escolhidos os anestésicos veterinários como os contaminantes a testar”, aponta a equipa do Departamento de Química constituída por Catarina Ferreira, Marta Otero, Vânia Calisto, Helena Nadais e Valdemar Esteves.

No que respeita aos adsorventes desenvolvidos, os investigadores concluíram que, de todos os resíduos testados, as lamas da indústria da pasta e do papel são os percursores mais promissores para produção de adsorventes”, podendo competir com os materiais já existentes no mercado.

Os investigadores Valdemar Coutinho, Catarina Ferreira e Helena Nadais
Valdemar Coutinho, Catarina Ferreira e Helena Nadais, investigadores da Universidade de Aveiro créditos: Universidade de Aveiro

Vantagens ambientais

Na descontaminação das águas, o método de adsorção tem a vantagem de concentrar em poucas gramas de um sólido - o adsorvente - o contaminante que se encontra num grande volume de água, não havendo produção de subprodutos que podem ser tóxicos, o que é característico de outros processos avançados de tratamento de águas.

O uso de um resíduo para a produção desses adsorventes, neste caso através da utilização das lamas, é uma vantagem relativamente aos comerciais que são produzidos através de materiais de origem mineral, evitando a exploração destes recursos naturais e o custo associado à sua extração.

“Os biocarvões produzidos a partir dos resíduos industriais (lamas primárias e biológicas resultantes do tratamento de efluentes da indústria da pasta e do papel) mostraram ser adsorventes bastante promissores, com percentagens de remoção dos anestésicos muito boas”, congratulam-se os investigadores.

Quanto à sua aplicação, concluiu-se que o tratamento de adsorção pode ser uma opção a implementar nos sistemas de recirculação em aquacultura. No entanto, lembram, “mais trabalho deve ser feito no sentido de provar a viabilidade técnica e económica da aplicação deste tratamento”.

Para além dos anestésicos utilizados pelos aquicultores para reduzirem o stress dos peixes, os novos adsorvestes podem ser utilizados para remover outros contaminantes. Neste momento, o grupo de investigação está a estudar a ativação dos carvões produzidos através dos resíduos da indústria da pasta e do papel e a sua funcionalização para remoção seletiva de contaminantes da água.

Estes adsorventes funcionalizados têm interesse, por exemplo, quando o contaminante a remover da água é de elevado valor e se pretende recuperá-lo. Este trabalho está a ser realizado no âmbito do projeto RemPharm, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e Feder/Compete.