Desejo que 2023 seja o ano da verdadeira reestruturação da Saúde em Portugal. Manter o atual funcionamento do SNS é insustentável. Após 2 anos de pandemia, assistimos a uma degradação progressiva dos serviços. Foram muitos os acontecimentos que marcaram 2022. A inevitável demissão de Marta Temido foi um sinal claro da insustentabilidade dos caminhos escolhidos para a saúde do nosso país. São públicas as dificuldades dos serviços.

Cada vez é mais difícil exercer a profissão médica em Portugal. Os mais novos mostram sinais de desesperança. Os portugueses estão expostos a graves problemas decorrentes da desestruturação e complexidade do sistema: as listas de espera para cirurgias e consultas são longas. A rede de urgência hospitalar funciona com défices graves, com escalas desfalcadas que comprometem a prestação de cuidados médicos de qualidade.

É insustentável trabalhar com falhas na segurança clínica. Os doentes merecem mais e melhor. É urgente que o poder político valorize a saúde de todos. O investimento financeiro tem que ser adequado às necessidades. É essencial investir e valorizar os recursos humanos, pois eles são o pilar do SNS.

Desejo que o Sistema seja visto como um todo: sector público, privado e social. Todos têm o direito a cuidados médicos de qualidade e em tempo útil. Não é aceitável ultrapassar os prazos de acesso a consultas de especialidade ou à realização de exames complementares de diagnóstico. As respostas têm que ser céleres.

Ao longo do último ano acumularam-se os gritos de alerta de quem trabalha e conhece o terreno. Assistimos a demissões em massa de Chefes de Equipa das Urgências de norte a sul do país. Os médicos internos de várias especialidades escreveram cartas abertas denunciando a precariedade das condições de trabalho. Inúmeros médicos assinaram declarações de escusa de responsabilidade, como forma de protesto e em defesa do exercício da profissão.

O caminho traçado para a saúde deve contemplar a valorização de quem dedica a sua vida aos doentes. Cuidar de quem cuida é uma missão colectiva. O encerramento sistemático de serviços não assegura as necessidades da população. A falta de Médicos de Família acentua as diferenças e desigualdades, comprometendo crianças, grávidas, jovens, adultos e também os mais frágeis, nomeadamente os idosos com doenças crónicas.

Acredito na mudança. Acredito que 2023 representa um novo ciclo para a Saúde. Tudo farei para dar voz aos problemas, trazendo soluções, estabelecendo pontes e trabalhando em rede e em sinergia com todos os intervenientes e decisores.

Desejo um Feliz Ano Novo para todos nós, com esperança e concretização de sonhos.

Carla Araújo

Candidata a Presidente da Secção Regional do Sul da Ordem dos Médicos