O projeto "Facilitar Dinâmicas sobre Saúde" permitiu a criação de duas brochuras que explicam de forma simples o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde e as abordagens ao Planeamento Familiar. Estas brochuras foram escritas a pensar nos falantes de diferentes línguas a residir em Arroios, e por isso, foram produzidas em cinco línguas: bengali, inglês, nepali, urdu e mandarim e para construir a imagem e o grafismo.
Os imigrantes têm dificuldades e aceder aos serviços de saúde em Portugal? Porquê?
A minha experiência diz que sim. Os imigrantes demonstram dificuldades em aceder aos serviços de saúde em Portugal. Para uma pessoa aceder eficientemente aos serviços de saúde tem que saber onde ou a quem é que se deve dirigir, tem que conseguir explicar aquilo que precisa, tem que entender aquilo que lhe é transmitido para saber como atuar.
Todo este percurso pode ser mais ou menos desafiante de acordo com o país do origem do imigrante, as condições sócio-económicas, há quanto tempo se encontra em Portugal, se sabe falar fluentemente português ou inglês ou se tem em Portugal família ou amigos que o possam aconselhar. Para aceder aos serviços de saúde é necessário ultrapassar todos estes potenciais obstáculos.
A boa ou a má compreensão deste plano terapêutico irá influenciar o seu cumprimento por parte do utente
Qual a percentagem de cidadãos imigrantes inscritos na USF da Baixa?
Aproximadamente 30% da população inscrita na USF da Baixa é estrangeira, a maioria dos quais do Bangladesh.
Imagens das brochuras
A língua pode limitar a relação médico-doente?
A barreira linguística torna mais desafiante a expressão e compreensão do que se pretende transmitir. Quer médico quer utente sentem dificuldade em comunicar e dificuldade em compreender o outro. Por um lado estas dificuldades na comunicação vão fazer com que seja mais difícil entender a intensidade e a gravidade dos sintomas, condicionando o diagnóstico e a decisão do médico relativamente ao plano terapêutico. Por outro, a boa ou a má compreensão deste plano terapêutico irá influenciar o seu cumprimento por parte do utente.
Como é que os profissionais da USF da Baixa contornam essa barreira?
Utilizamos diferentes estratégias de acordo com a pessoa com quem comunicamos. Alguns profissionais frequentaram aulas de inglês de modo a facilitar o atendimento, que muitas vezes é feito totalmente em inglês, recorremos a imagens e gestos para complementar a comunicação verbal, utilizamos plataformas de tradução automática, procuramos e compilamos conteúdo traduzido noutras línguas, utilizamos a Linha SOS Imigrante (serviço de tradução telefónica do Alto Comissariado para as Migrações) e frequentemente o utente traz um amigo ou familiar para intérprete.
(As brochuras) são uma ferramenta para a melhoria da literacia em saúde dos utentes, os quais podem tomar decisões fundamentadas
É frequente os doentes saírem de uma consulta com dúvidas?
Esforçamo-nos para que isso não aconteça. Penso que nos atendimentos em que haja maior barreira linguística ficam com dúvidas tanto os profissionais de saúde como os utentes. Nos cuidados de saúde primários, a possibilidade de marcar nova consulta permite reavaliar a curto-médio prazo se aquilo que foi acordado na consulta anterior está a ser cumprido e/ou a ser eficaz, o que nos permite avaliar se prevalecem dúvidas e se é necessário utilizar ou criar outras estratégias para ultrapassar essas dificuldades.
De que forma é que estas novas brochuras vão ajudar profissionais de saúde e doentes?
Os folhetos pretendem melhorar a comunicação entre profissionais de saúde e utentes, minimizando as falhas na comunicação. Ao utilizar estes folhetos sabemos qual a mensagem que estamos a transmitir e que o estamos a fazer na língua materna do utente em questão. São uma ferramenta para a melhoria da literacia em saúde dos utentes, os quais podem tomar decisões fundamentadas sobre a sua saúde.
A prática deveria ser alargada a outras unidades e a outras línguas?
Considero que a prática deveria ser alargada a todo o país e noutras línguas, de acordo com as necessidades de cada área e das populações abrangidas. Profissionais de outras entidades de saúde demonstraram interesse neste projeto pretendendo dar continuidade ao trabalho desenvolvido.
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