O jornal escreveu que uma pessoa de 55 anos foi o primeiro caso identificado, informação que desafia a versão oficial, que data o surgir da doença em finais de dezembro, em vários casos de contaminação ligados a um mercado de marisco, situado nos subúrbios de Wuhan, a capital de Hubei.
O jornal de Hong Kong cita dados do Governo chinês, que apontam que houve entre uma e cinco infeções por dia até 15 de dezembro. Em 20 de dezembro havia 60 infetados, apurou a mesma fonte.
No entanto, nenhuma das nove primeiras infeções - quatro homens e cinco mulheres - foi identificada como o "paciente zero", segundo os dados citados pelo jornal.
Essas nove pessoas tinham entre 39 e 79 anos de idade, e embora não se saiba quantos eram moradores em Wuhan, foi aí que o surto se alastrou, atingindo, até à data, quase 50.000 infetados e 2.436 mortos.
Segundo o jornal, as autoridades chinesas identificaram pelo menos 381 casos de infeção até 01 de janeiro passado.
No entanto, a Comissão Municipal de Saúde de Wuhan só anunciou o primeiro caso no dia 5 de janeiro, explicando que fora diagnosticado a 12 de dezembro.
O Governo chinês também só informou a Organização Mundial de Saúde (OMS) da deteção dos primeiros casos de uma "nova doença misteriosa" em Wuhan em 31 de dezembro.
Segundo a OMS, o primeiro contágio pelo Covid-19 na China ocorreu no dia 8 de dezembro, enquanto a revista médica 'The Lancet' apurou recentemente que a primeira infeção conhecida teria ocorrido no início de dezembro.
Médicos chineses em Wuhan alertaram desde dezembro para os perigos do surto de um novo coronavírus, mas foram silenciados pelas autoridades, que os obrigaram a assumir publicamente esses avisos como "rumores infundados".
"As informações falsas divulgadas por departamentos relevantes [de que a doença era controlável e não era infecciosa entre seres humanos] deixaram no escuro centenas de médicos e enfermeiros, que fizeram tudo ao seu alcance para tratarem pacientes sem conhecerem a doença", apontou o chefe de um dos departamentos do Hospital Central de Wuhan, citado pela revista Caixin, uma das raras publicações independentes na China.
"E mesmo aqueles que adoeceram não puderam denunciar. Não puderam alertar os seus colegas e o público a tempo, apesar do sacrifício", disse. "Essa é a perda e a lição mais dolorosas".
Entre os 4.000 funcionários que trabalhavam no Hospital Central de Wuhan, 230 morreram devido a infeção pelo Covid-19, outros permanecem em estado crítico.
Segundo apurou a Caixin, um funcionário do ministério de Segurança Pública visitou o hospital no dia 12 de janeiro, e ordenou que os formulários sobre doenças infecciosas só pudessem ser preenchidos e os casos reportados após consultas com especialistas a nível municipal e provincial, atrasando o processo de identificação da doença, entretanto designada Covid-19.
Em 13 de janeiro, Wang Wenyong, chefe do gabinete de controlo de doenças infecciosas do distrito de Jianghan, em Wuhan, ligou para o hospital e pediu que fossem alterados relatórios suspeitos de infeção pelo novo coronavírus, arquivados em 10 de janeiro, para que constassem outras doenças nos ficheiros, apurou a mesma publicação.
O surto de COVID-19 foi detetado em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.600 mortos em todo o mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou pandemia na quarta-feira. O número de infetados ultrapassou as 125 mil pessoas, com casos registados em cerca de 120 países e territórios.
Portugal ordenou o encerramento de todas as escolas a partir de segunda-feira, bem como outras medidas. Esta semana já tinha sido anunciado a suspensão de todos os voos de e para Itália.
A DGS fez na quinta-feira novas recomendações à população.
Face ao avanço da pandemia, vários países têm adotado medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena inicialmente decretado pela China na zona do surto. Vários países na Europa, como Itália, Noruega, Irlanda, Dinamarca, Lituânia, França e Alemanha, encerram total ou parcialmente escolas, universidades, jardins-de-infância e outras instituições de ensino.
Nos últimos dias, Itália tornou-se o caso mais grave de epidemia fora da China e o Governo em Roma decidiu na segunda-feira alargar a quarentena, imposta inicialmente no norte do país, a todo o território italiano.
Na quarta-feira, as autoridades italianas voltaram a decretar medidas de contenção adicionais e ordenaram o encerramento de todos os estabelecimentos comerciais à exceção dos de primeira necessidade, como supermercados ou farmácias.
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