O Porto de Leixões, em Matosinhos, tem-se afirmado como um dos principais pontos de entrada de turistas em Portugal. Em 2024, registou um número recorde de 152 escalas de navios de cruzeiro, trazendo aproximadamente 196.000 visitantes à região norte do país, um aumento de mais de 30% face a 2023. Este crescimento reflete a crescente popularidade dos cruzeiros e a atratividade da região, que se tem consolidado como um destino de turismo global. (1)

Contudo, este aumento de passageiros coloca questões importantes de saúde pública. Os navios de cruzeiro, por transportar milhares de pessoas de diversas partes do mundo em espaços confinados, criam um ambiente propício à propagação de doenças infecciosas. O sarampo, uma doença altamente transmissível, tem ressurgido na Europa, com um aumento significativo de casos. Em Espanha, por exemplo, foram notificados 142 casos nos primeiros dois meses de 2025, o que representa um crescimento alarmante em relação aos 229 registados em todo o ano de 2024. (2).

O cenário torna-se ainda mais preocupante quando se considera a deteção da variante B3 do sarampo, associada a surtos em Marrocos. Desde setembro de 2023, Marrocos reportou mais de 40.000 infeções e 150 mortes, principalmente em áreas densamente povoadas. Esta variante tem-se espalhado pela Europa, com casos confirmados em vários países, como Países Baixos, Espanha e França, muitos deles relacionados com viagens a Marrocos. Com o aumento da mobilidade, a circulação do vírus tornou-se uma ameaça real para a saúde pública. (3).

Dado este contexto, é urgente reforçar a vigilância sanitária nos portos, especialmente em locais de elevado afluxo de turistas, como os Portos e Aeroportos. Para garantir uma resposta eficaz, é fundamental a implementação de medidas preventivas rigorosas, tais como a verificação do estado vacinal de passageiros e tripulantes, a formação de equipas especializadas em saúde pública e a realização de exercícios simulados de resposta a surtos.

Além disso, a sensibilização da população para a importância da vacinação é essencial. A vacinação em Portugal e no Mundo é uma das principais estratégias para evitar a propagação de doenças como o sarampo, protegendo não só os indivíduos, mas toda a comunidade. A elevada taxa de imunização é um fator crucial para impedir que surtos de doenças infecciosas se transformem em epidemias.

Um exemplo paradigmático ocorreu em 2014, quando um surto de sarampo afetou o navio de cruzeiros, o Costa Pacifica. O surto começou com um tripulante infetado, e, em poucos dias, 34 casos foram confirmados. A resposta rápida incluiu um rastreio exaustivo de contactos, a adoção de medidas de isolamento e a administração de mais de 800 doses de vacina em apenas três dias. Este evento evidenciou a vulnerabilidade dos navios de cruzeiro a surtos e sublinhou a importância de uma coordenação internacional eficiente na contenção das doenças. (Saiba mais).

A questão crucial é: caso um surto de sarampo ocorra num cruzeiro a atracar em Portugal, estaremos preparados para reagir rapidamente e de forma coordenada? De acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC), oito em cada dez pessoas diagnosticadas com sarampo na União Europeia/EEE em 2024 não estavam vacinadas, o que demonstra a importância da prevenção. A vigilância sanitária nos portos é da responsabilidade das autoridades de saúde, mas o sucesso dessa vigilância depende da qualificação e prontidão das equipas envolvidas. É fundamental que as equipas de saúde pública nos portos sejam compostas por profissionais altamente treinados, incluindo médicos, enfermeiros e técnicos de saúde ambiental, capazes de agir em situações de emergência. Paralelamente, a tripulação dos navios também deve receber formação específica para identificar precocemente sinais de alerta e reportá-los de forma imediata.

A história mostrou que a inatividade perante riscos emergentes é um erro. Com o aumento do turismo de cruzeiros e o ressurgimento de doenças infecciosas na Europa, Portugal deve garantir que os seus portos não sejam apenas portas de entrada para turistas, mas também bastiões de segurança sanitária, preparados para enfrentar futuras crises de saúde pública.