“Não digo que não me posso candidatar, é uma coisa que tem de ser avaliada com pés e cabeça”, adiantou Gustavo Tato Borges à agência Lusa.
O especialista de saúde pública reconheceu que, para o lugar de Graça Freitas, “há pessoas mais capazes, no sentido de terem mais tempo de trabalho, mais experiência e uma boa visão da saúde pública que poderiam e deveriam chegar-se à frente nesta altura”.
No entanto, Tato Borges, que foi também presidente da Comissão de Acompanhamento da Luta Contra a Pandemia nos Açores, admitiu a possibilidade de avançar com uma candidatura a diretor-geral da Saúde, que é também por inerência Autoridade de Saúde Nacional.
“Não posso dizer que não àquela instituição que eu mais defendo neste momento em Portugal e que é alvo do maior ataque. A DGS precisa de ser protegida, precisa de ser fortalecida e se, de facto, eu puder ser um elemento que faz esse trabalho, assim farei. É algo que ainda não está decidido”, afirmou Gustavo Tato Borges.
Na quarta-feira, o Ministério da Saúde confirmou que o subdiretor-geral da DGS, Rui Portugal, apresentou a sua renúncia ao cargo, sem adiantar as razões, numa altura em que está a decorrer o processo de substituição de Graça Freitas, que, no final de 2022, manifestou a sua vontade de não renovar a nomeação como diretora-geral.
O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, assegurou hoje que a DGS está em “plenas funções” e que o concurso para o novo diretor-geral da Saúde deverá abrir nos “próximos dias”.
“A instituição DGS está em pleno funcionamento”, garantiu o governante, sublinhando também que “Graça Freitas está plenamente em funções”.
À Lusa, o presidente da ANMSP manifestou-se, porém, “muito preocupado com o que se está a passar”, ao adiantar que já teve oportunidade de expor à secretária de Estado, Margarida Tavares, a “preocupação com o rumo que a DGS está a tomar” nos últimos meses de “falta de investimento e de retirada de competências”.
“O facto de o subdiretor-geral ter renunciado ao cargo mostra o quão fundo chegou a DGS, pois era o único profissional que tinha mostrado publicamente a intenção de se candidatar, considerando que era uma opção válida, preparada e capaz" para suceder a Graça Freitas, referiu Tato Borges, para quem Rui Portugal seria “até quase uma sucessão natural” na instituição.
Segundo referiu, a circunstância de atualmente a diretora-geral "estar em gestão, faz com que todo o trabalho de planeamento e de organização para o futuro fique todo bloqueado”.
“Toda esta organização e estrutura entre diferentes níveis está comprometida, até porque há vários delegados regionais de saúde pública que, neste momento, não estão nomeados para o seu cargo, estando em substituição ou em gestão”, alertou o presidente da ANMSP.
Além disso, recentemente houve “notícia que faltam algumas vacinas nos cuidados de saúde primários”, avançou ainda Tato Borges, ao salientar que já se começou a “assistir no terreno à falta de materiais e equipamentos que são essenciais e que eram assegurados pela DGS”.
Após a fase mais crítica da pandemia, muitos países europeus “têm estado a reforçar e a reorganizar a saúde pública” na sequência das lições aprendidas nos últimos anos no combate à covid-19, mas “em Portugal estamos parados”, lamentou o médico.
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