À medida que Portugal avança no século XXI, o papel das políticas públicas de saúde torna-se cada vez mais crucial na definição do futuro do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Como pilar fundamental do bem-estar da população portuguesa, o SNS enfrenta múltiplos desafios, desde o envelhecimento da população, o aparecimento de novas patologias, a crescente procura de cuidados de saúde, até à necessidade de garantir o acesso equitativo e a qualidade dos cuidados prestados aos cidadãos. Nesse contexto, as políticas públicas de saúde desempenham um papel vital na definição de diretrizes, alocação de recursos e implementação de medidas estruturais para enfrentar os desafios emergentes e promover uma gestão eficaz, eficiente e promotora da integração dos cuidados de saúde baseados nas necessidades de cada cidadão.
Na sua especificidade, a oncologia é área clínica que a definição de políticas públicas de saúde tem merecido uma atuação direcionada à sua complexidade e ao impacto significativo que tem na vida das pessoas com doença oncológica e respetivas famílias. Neste sentido, a abordagem do paradigma das políticas públicas de saúde em oncologia deve ter em atenção a garantia do acesso equitativo a cuidados diferenciados de qualidade, centrados nas necessidades específicas de cada pessoa, desde o diagnóstico precoce, tratamento, reabilitação e acesso precoce e efetivo a cuidados paliativos.
Na atualidade, a evidência científica comprova que não devemos subestimar a importância do acesso universal a cuidados de enfermagem de reabilitação. Os enfermeiros de reabilitação desempenham um papel crucial no apoio à pessoa com doença oncológica, contribuindo para uma abordagem de cuidados especializados que permite ajudar a pessoa a lidar com os efeitos colaterais do tratamento, gestão da dor e a melhoria do seu condicionamento físico. Garantir que todas as pessoas com doença oncológica tenham acesso a estes cuidados especializados é essencial para promover uma recuperação completa e impactar positivamente a qualidade de vida durante e após o tratamento.
Deste modo, esta abordagem deve ser uma prioridade que requer por parte da tutela um olhar abrangente e coordenado, tendo em vista a definição de estratégias que promovam a integração dos cuidados de saúde em oncologia, garantam o acesso equitativo e precoce a cuidados de saúde direcionados às necessidades da pessoa com doença oncológica, incentivem a inovação e a qualidade nos tratamentos oferecidos.
Sendo verdade que temos vivenciado e trabalhado na prática clínica para a implementação de estratégias promotoras da integração de cuidados centrados na pessoa, contudo, na minha opinião, subsistem algumas lacunas significativas, especialmente quando se trata de garantir a interdisciplinariedade entre cuidados tendo em vista o tratamento, a reabilitação precoce, o acesso a cuidados paliativos e políticas promotoras da saúde mental. Neste sentido, considero também que a troca de experiências sobre as melhores práticas em Oncologia, entre os países, pode ser muito benéfica para encontrar sinergias que garantam a melhor evidência científica ajustada à prática clínica e promoção da colaboração entre múltiplos parceiros e instituições.
A implementação estratégica das políticas públicas de saúde em Oncologia requer uma abordagem interdisciplinar e colaborativa, envolvendo não apenas profissionais de saúde, mas também associação de doentes, familiares, cuidadores e organizações da sociedade civil. Ao integrar essa abordagem centrada na pessoa e sua família, na gestão dos cuidados de saúde em oncologia, poderemos melhorar significativamente a qualidade de vida da pessoa com doença oncológica e garantir o acesso aos cuidados de saúde que necessitam em todas as fases da gestão da sua doença.
Por fim, interessa cada vez mais refletir que quando falamos de uma abordagem centrada na pessoa com doença oncológica, não se trata apenas de fornecer tratamento médico, mas também de considerar todas as abordagens de cuidados interdisciplinares centrados nas suas necessidades físicas, emocionais, sociais e espirituais.
Ao olharmos para o futuro, é essencial que Portugal e outros países colaborem para que em conjunto encontrem soluções ajustadas aos problemas concretos e desafios que os cidadãos com doença oncológica e as suas famílias enfrentam, tendo em vista a gestão integrada dos cuidados de saúde em oncologia. Isso inclui o intercâmbio de conhecimentos, experiências e recursos para promover políticas públicas de saúde mais eficazes e equitativas. Considerando que na área das novas tecnologias aplicadas à saúde, devemos continuar a investir na inovação e na investigação clínica, aproveitando ao máximo o potencial e contributo da inteligência artificial e outras tecnologias emergentes aplicadas a esta área específica do conhecimento clínico e científico.
Em última análise, enfrentar os desafios complexos na gestão integrada dos cuidados de saúde requer uma abordagem transparente, colaborativa e holística. Assim, ao trabalharmos em conjunto podemos garantir que os cidadãos tenham acesso a cuidados de saúde especializados de qualidade, independentemente do local onde vivem ou de sua condição sócio-económica.
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