"A dimensão do problema é notória: cerca de 1.000 novos casos anuais de melanoma associados a 250 fatalidades. No entanto, o melanoma, sendo o cancro mais grave da pele, está longe de ser o mais comum, correspondendo apenas a 5 a 10% do valor total", começa por dizer Ricardo Vieira, médico dermatologista e secretário-geral da Associação Portuguesa do Cancro Cutâneo (APCC).

Estima-se que os restantes tipos de cancro de pele ocorram numa magnitude de 12.000 novos casos anuais em Portugal, acrescendo com cerca de 150 casos fatais. "A perspetiva dada por estes números traduz uma média superior a uma morte por dia por esta causa. As múltiplas campanhas de alerta baseiam-se na possibilidade real de podermos prevenir até 90% das mortes por cancro de pele, reconhecendo a doença em fases precoces (prevenção secundária) e controlando a exposição aos fatores de risco (prevenção primária)", explica o especialista.

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A 19 de maio de 2021, Dia dos Cancros da Pele (Dia do Euromelanoma), a APPC organiza a Campanha Nacional de prevenção do Cancro da Pele, em conjunto com a Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV) e o apoio da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Estima-se que, em Portugal, ocorram cerca de 90.000 novos casos de cancro de pele a cada cinco anos. Em conjunto, os vários tipos de cancro de pele conduzem a mais de 400 fatalidades anuais, a maioria causadas pelo melanoma.

Além da mortalidade inerente, o cancro de pele condiciona relevantes gastos económicos, com um custo anual estimado de 3,8 milhões de euros relacionados com o melanoma e de 16,2 milhões de euros com outros tipos de cancro de pele.

Mas a que sinais estar atentos?

"Um sinal que cresceu, que mudou de cor ou que sangrou deve ser encarado como suspeito de melanoma, assim como sinais que sejam assimétricos, que tenham bordos irregulares ou que apresentem múltiplas cores", refere Ricardo Vieira.

"Em relação aos outros tipos de cancro de pele, deve dar-se atenção ao aparecimento de nódulos que vão crescendo ao longo do tempo ou de feridas que não cicatrizam, sendo mais frequente a sua ocorrência em áreas de pele exposta à luz solar", acrescenta.

Para o especialista, o sol, mais precisamente a radiação ultravioleta, é em grande parte responsável pelo desenvolvimento deste tipo de cancros. "As pessoas expostas no dia-a-dia, em geral por incumbência da sua profissão (agricultores, trabalhadores da construção civil, pescadores, entre outros), encontram-se em risco de vir a ter um cancro de pele não-melanoma. Este risco é maior a partir dos 60 anos de idade, uma vez que a radiação ultravioleta atua de modo cumulativo", salienta.

"Em relação ao melanoma, o papel exercido pela radiação solar é algo distinto. A exposição a doses elevadas de modo episódico ou intermitente, o que em geral sucede por razões recreativas (exposição balnear ou em solários), é a forma mais eficaz de induzir alterações na pele que podem levar ao desenvolvimento de um melanoma. Assim, embora o risco individual de melanoma também aumente com a idade, o número de casos em pessoas mais jovens (com menos de 60 anos) é bastante mais relevante do que noutros tipos de cancros de pele", explica o médico.

Veja o vídeo - Como fazer o autoexame da pele?

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Ricardo Vieira reforça as mensagens relacionadas com os cuidados com a exposição solar, desaconselhando a exposição direta nas horas do dia em que as doses de ultravioletas são mais elevadas (entre as 11h00 e as 16h00), uso de roupa protetora, chapéu, óculos escuros com proteção UV e aplicação de creme protetor solar.

"Pela mesma razão, desaconselha-se a frequência de solários. Sendo a pele um órgão visível à observação direta, olhar para ela não é narcisismo: é simplesmente uma forma de detetar alterações suspeitas que podem salvar vidas", frisa.

Este ano não há rastreio nacional

Os rastreios gratuitos presenciais realizados de modo voluntário por dermatologistas, foram este ano cancelados, em virtude das restrições decorrentes da situação pandémica.

"Mesmo sem rastreios, o empenho em alertar para o problema do cancro de pele mantém-se inalterado, acreditando que é possível induzir comportamentos adequados perante os fatores de risco e identificar alterações suspeitas que deverão levar à procura de cuidados médicos", comenta Ricardo Vieira.

- Veja também: Os sintomas de cancro mais desconhecidos dos portugueses