Cada um de nós possui uma determinada capacidade natural de defesa à agressão solar, que se manifesta por exemplo através do bronzeamento ou dos processos de reparação celular.

Consoante esta capacidade de defesa, a pele divide-se em seis fototipos, que variam desde o tipo 1 (cabelos louros ou ruivos, olhos azuis ou esverdeados, pele muito clara e extremamente sensível) ao tipo 6 (cabelos, olhos e pele negros, muito bem adaptados ao sol). Quanto mais reduzido for o fototipo, maior o cuidado e mais elevada deverá ser a proteção solar.

Camada do ozono

Os perigos do sol continuam a aumentar à medida que a camada do ozono vai diminuindo. As radiações nocivas, que afetam a nossa pele, deveriam ser filtradas por esta barreira natural, mas a verdade é que a rarefação da camada do ozono está a deixar passar tudo o que o sol tem essencialmente de mau. A radiação solar é composta pela luz visível, que dá cor à Terra, e por dois tipos de radiação invisível: a infra-vermelha, que aquece o planeta, e a ultra-violeta.

Esta última é a principal responsável pela agressão da pele, e divide-se em três tipos: UVA, UVB e UVC. Com os UVC não precisamos de nos preocupar, porque são absorvidos na totalidade no seu percurso na atmosfera, mas o mesmo não se passa com os outros dois tipos.

Efeitos dos UVA e UVB na pele

As radiações que merecem a nossa atenção distinguem-se pelo comprimento de onda: a radiação mais longa designa-se por UVA(320-400 nm), e a mais curta por UVB (290-320 nm). Ambas são nocivas para a pele porque provocam danos na pele a nível do ADN e da divisão celular, causando erros de replicação das células, que vão acumular defeitos genéticos.

Quando o sol está mais vertical, ele atravessa uma fatia menor da camada do ozono do que faria se a atravessasse em oblíquo, sendo menos filtrado. Assim, o mais prático é observar: quando nos pomos ao sol o tamanho da nossa sombra. Se esta for igual ou inferior ao nosso tamanho, não devemos estar ao sol. Se é superior, significa que o sol já entra de forma mais oblíqua, sendo portanto mais seguro

Os UVA, por serem mais longos, têm uma maior capacidade de penetração na pele atingindo a derme, ao passo que os UVB são totalmente absorvidos pela epiderme. Os UVA provocam danos em estruturas como o colagénio e as fibras elásticas, causando o chamado fotoenvelhecimento, que se traduz em irregularidade de pigmentação, rugas e flacidez cutânea. Por sua vez, os UVB são principalmente responsáveis pelas lesões mais superficiais da pele, provocando alterações cutâneas que podem conduzir, com o passar dos anos, ao aparecimento de tumores malignos.

8 fatores de risco do melanoma

Será importante saber que os cancros cutâneos, por questões de origem e de comportamento clínico, são divididos em dois grandes grupos: os cancros “não-melanoma” e os cancros “melanoma”.

Enquanto os primeiros englobam as duas formas mais frequentes e menos agressivas que são o carcinoma baso-celular (CBC) e o carcinoma spinho-celular (CEC) a última, o melanoma maligno (MM) menos frequente, representa a maioria dos casos de morte associada ao cancro cutâneo.

De facto o CBC tem, regra geral, uma evolução bastante lenta (meses/anos) e não tem capacidade de metastização (de se expandir para outros órgãos à distância). Pode assumir vários aspetos clínicos onde habitualmente são visíveis pequenos vasos dilatados (telangiectasias) e o bordo assume um aspeto de pequenas bolinhas (dito “perolado”).

O CEC é um tumor de evolução habitualmente mais rápida, tem um aspeto crostoso e forma úlcera com maior frequência e tem capacidade de metastização quer pelo sistema linfático quer por via sanguínea, habitualmente em formas mas agressivas e tardias. É, quase exclusivamente, responsável pelas poucas mortes neste grupo de cancros “não-melanoma”, quando detetado tardiamente e sobretudo em mucosas (boca e genitais).

Este grupo engloba ainda outras entidades como as queratoses actínicas e representam uma incidência nacional anual de cerca de 20.000 novos casos).

Aquele que é referido, de uma forma genérica na literatura corrente, como o “cancro de pele” é o MM que tem origem na proliferação anormal e desordenada das células pigmentares (melanócitos) e que, por isso, é frequentemente escuro. Segundo as estatísticas mais recentes tem uma incidência de cerca de 10 casos.

Por 100.000 habitantes cada ano (ou seja cerca de 1000 casos/ano em Portugal), sendo que se for detetado precocemente e excisado com larga margem a taxa de mortalidade é muito baixa (inferior a 5% aos 5 anos). Já nos casos tardios e de maior espessura a taxa de mortalidade é bastante elevada (mais de 85% aos 5 anos).

Em particular neste último é importantíssimo a auto-observação dos pacientes às suas lesões pigmentadas não esquecendo o acrónimo ABCDE (assimetria, bordo irregular, cor escura ou variegada, diâmetro superior a 8 mm e evolução recente).

Os “sinais” adquiridos durante a vida não têm maior risco acrescido de transformação em MM ao contrário dos congénitos (presentes à nascença ou aparecidos durante 1º ano de vida).

Enquanto que os cancros “não-melanoma” estão diretamente associados à taxa cumulativa de exposição solar ao longo da vida o MM parece estar mais ligado a uma predisposição genética e a exposições agudas e excessivas ao sol (história de golpes de sol na infância/juventude) e a uma suscetibilidade genética hereditária.

Tratamento

O tratamento do cancro cutâneo passa sempre pela sua eliminação, de uma forma geral pela excisão cirúrgica e posterior confirmação por anatomo-patologia quer do tipo histológico quer das margens de segurança para cada um dos tipos de cancro em causa.

Em casos limitados e clinicamente muito esclarecedores ou por limitações clínicas do paciente, poderá ser realizada a destruição destas lesões (apenas CBC) através de crioterapia (azoto líquido), eletrocoagulação e curetagem ou vaporização por laser de CO2. Pode ainda, em casos específicos e superficiais, ser usada a fotoquimioterapia ou alguns imunomoduladores de aplicação tópica.

Atenção à exposição solar

É sabido que em determinadas horas não devemos estar expostos ao sol. De uma forma bastante simples pode entender-se esta recomendação: quando o sol está mais vertical, ele atravessa uma fatia menor da camada do ozono do que faria se a atravessasse em oblíquo, sendo menos filtrado. Assim, o mais prático é observar: quando nos pomos ao sol o tamanho da nossa sombra. Se esta for igual ou inferior ao nosso tamanho, não devemos estar ao sol. Se é superior, significa que o sol já entra de forma mais oblíqua, sendo portanto mais seguro. Assim, em vez de olhar para o relógio, guie-se pela sua própria sombra, tendo em mente que é um indicador da quantidade de raios nocivos que a sua pele está a receber.

Siga sempre estas recomendações

1. Exponha-se ao sol de forma progressiva
2. Use protetor solar UVA e UVB, com um índice elevado
3. Dê particular atenção à proteção do rosto e das costas das mãos no dia-a-dia
4. Use roupas largas e claras, óculos de sol e chapéu
5. Beba água com frequência para hidratar a pele
6. Use proteção solar mesmo com o céu nublado.
7. Evite os solários e técnicas de bronzeado artificial
8. Examine a sua pele com frequência, em busca de alterações cutâneas

Por Miguel Trincheiras, Médico Dermatologista na Derme.pt