"Todos os profissionais que atendo estão a sofrer de ansiedade", garante Paula Bollinger que segue médicos e enfermeiros do Hospital de Cascais, do Hospital de São José em Lisboa, de Coimbra, Portimão, mas também de Navarra, em Espanha, e de Orlando, nos Estados Unidos.

"A base das consultas é a conversa e um dos pilares é o sigilo. É totalmente confidencial", assevera. "Estão muito cansados. Não houve descanso. Esta terceira vaga, cheia de indefinições, deixou-os mais ansiosos, stressados e em situação de burnout", adverte.

"São verdadeiros heróis. Merecem muita consideração de todos nós. Ver estas festas ilegais, restaurantes abertos e pessoas a infringir as regras é uma falta de respeito para com estes profissionais que nem sequer estão a ir a casa para poderem salvar vidas", lamenta.

Paula Bollinger é a mulher dos sete-ofícios. Estudou jornalismo, depois culinária e agora trabalha como Health Coach. Já viveu em Portugal, mas trocou Lisboa por Nancy, em França, onde vive há quase dois anos com o marido e a filha.

Trabalhou em televisão durante 10 anos. Foi foodwritter depois de ingressar no Le Cordon Bleu, uma das melhores escolas de culinária no mundo, no Rio de Janeiro. Mas o destino levou-a a dar outro tipo de conselhos.

Ajudar profissionais

Paula Bollinger foi diagnosticada em fevereiro de 2020 com uma infeção gastrointestinal provocada pela bactéria helicobacter pylori, já em estado avançado. Na sequência da bactéria, desenvolveu dois tumores no aparelho digestivo: um na vesícula e outro no esófago.

Paula Bollinger
Paula Bollinger Paula Bollinger, health coach créditos: Rute Obadia

"Deveu-se a muitos anos de má alimentação. Fiz muitas dietas para me manter magra. Não cumpria uma dieta alimentar regular e isso foi deteriorando o meu organismo", relata. "Este tipo de dietas tem um preço muito alto a longo prazo. Consegui detetar o meu problema no limite. Problemas no sistema digestivo podem provocar doenças muito sérias, como cancro ou doenças neurodegenerativas", adverte.

Obrigada a mudar de alimentação, para não ver a sua sobrevivência comprometida, aprendeu novos hábitos alimentares e foi submetida a tratamentos de antibioterapia durante vários meses.

Durante o período em que esteve em convalescença, tornou-se Técnica Superior de Nutrição e Dietética e certificou-se nos EUA em Health Coach em Nutrição Integrativa. Assim que terminou ambas as formações, começou o seu percurso enquanto Health Coach. Foi a sua primeira paciente. Depois disso ainda estudou Medicina Funcional para Health Coach, formação que terminou no início deste ano.

Em janeiro, como forma de gratidão para com os profissionais de saúde que a ajudaram no seu processo de cura, socorreu-se das suas redes sociais e ofereceu-se para dar consultas gratuitas de Health Coach a profissionais de saúde na linha da frente no combate à pandemia.

"É a minha contribuição pela minha cura e por tudo o que estes profissionais de saúde estão a fazer", justifica. "Choveram mensagens", diz. "Hoje eu tenho lista de espera", garante.

"Nas consultas falamos desde o que acontece no hospital ao que se passa dentro de casa. Porque sabemos que há migração dos problemas de um local para o outro", acrescenta.

Paula Bollinger
Paula Bollinger Paula Bollinger, health coach créditos: Rute Obadia

Ouvir e aconselhar

Paula Bollinger faz sessões individuais de 40 a 50 minutos, algumas com exercícios de respiração. Os profissionais de saúde têm o contacto de Paula e não hesitam em ligar-lhe fora de horas.

"Já aconteceu receber mensagens e telefonemas fora das marcações. Os profissionais estão desesperados. Falamos durante 15 minutos. Às vezes eu estou calada e só os ouço chorar, mas isso ajuda-os", conta. "Aos poucos, o que eu tento fazer é ouvir e ajudar também na alimentação. Há determinados alimentos que acalmam e que ajudam no sono e ansiedade", diz.

"É um desafio dizer a um médico que deve optar por este ou por aquele alimento, porque ficam céticos", admite. "Preparo-me antes, porque sei que vão questionar o que estou a dizer. Mas estabelecemos uma relação de confiança e, aos poucos, vão seguindo os meus conselhos e sentindo-se melhor", conta.

"Tenho a certeza de que depois da pandemia teremos muitos traumas e precisaremos estar atentos a uma série de sequelas psicológicas", prevê Paula Bollinger.

"É bastante impactante saber a situação que Portugal está a viver. Vai além do que vemos nas notícias. Há muito sofrimento. Não é só o sofrimento dos doentes. É o sofrimento das famílias e dos profissionais. Eles tentam a todo o custo salvar vidas e por vezes é impossível", ressalva.

"As pessoas morrem-lhes nos braços e, apesar de estarmos a falar médicos e enfermeiros, estes profissionais não estão habituados a lidar com tantas mortes", conclui.