"É inacreditável. Pegam-nos no passaporte, manipulam-no e devolvem-nos o documento. E, depois, próximo...". Thomas (nome fictício) não esquecerá a sua passagem pelo maior aeroporto de França. Este jovem, que trabalha para uma grande instituição internacional, foi repatriado na quinta-feira de Libreville com 380 compatriotas num avião fretado pelas autoridades francesas, o primeiro voo em três semanas.

No avião, cheio, Thomas notou que os seus vizinhos não estavam a usar máscaras. A Air France, operadora do voo, explicou que fornece máscaras aos passageiros e que "o ar é filtrado e renovado a cada três minutos".

Ao chegar a Roissy, um aeroporto deserto, "fizemos fila como de costume no controlo da imigração", explica Thomas. "Mas os polícias do PAF (polícia de fronteiras) não usavam máscaras, nem luvas". "Não são obrigatórios", justificou uma fonte do aeroporto contactada pela AFP.

"Ninguém nos perguntou nada. Não houve controlo de temperatura, não nos perguntaram em que países tínhamos estado antes do Gabão, nem pediram um número de contacto ou perguntaram para onde íamos quando deixássemos o aeroporto", relatou.

Três dias depois, Thomas viajou para Nova Iorque, onde quase 19.000 pessoas morreram de COVID-19.

À chegada, "verificaram a temperatura dos passageiros logo à saída do avião, fizeram-nos preencher um formulário completo, no qual tínhamos que indicar o nosso endereço, número de telefone e número de assento a bordo. Também recomendaram uma quarentena de 14 dias".

Liberdades individuais

"Nenhum controlo, medição de temperatura, nem máscaras no aeroporto". John Warbo, um sueco que deixou Paris rumo a Estocolmo no domingo, também ficou "um pouco chocado". Por que motivo Roissy não usa câmaras térmicas como outros aeroportos, questiona-se este passageiro.

Atualmente testadas em funcionários voluntários, essas câmaras não foram instaladas, porque não foram autorizadas pelos responsáveis locais, diz uma fonte do aeroporto.

O mesmo aplica-se a outros detetores. "Olhar um termómetro na testa pode ser considerado por alguns como uma violação da liberdade individual". Foi "uma viagem muito estranha", diz Séverine Pénin, que acaba de chegar de Roma. Menos de dez passageiros no avião, uma tripulação que "faz as demonstrações de segurança e depois vai para o fundo do avião, sem reaparecer durante o voo". Ao chegar ao aeroporto, "tudo vazio. Foi muito estranho".

Séverine preencheu um formulário na porta de embarque com informações de contacto, mas o papel não foi pedido de volta. "Ainda o tenho comigo", conta.

Para quem está autorizado a entrar em França, Paris não impõe uma quarentena. Roma, por sua vez, obriga todos os viajantes a isolarem-se, exceto os trabalhadores que ficam menos de cinco dias. Com 306 novas mortes em 24 horas, França superou os 25.000 óbitos pelo coronavírus na noite de segunda-feira.

As autoridades francesas planeiam suspender progressivamente, a partir de 11 de maio, as medidas de contenção em vigor desde meados de março.

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