Dados pouco confiáveis
Pequim admitiu que a escala do surto é "impossível" de rastrear depois de os testes obrigatórios terminaram em dezembro. A Comissão Nacional de Saúde parou de publicar diariamente o balanço nacional de infeções e mortes pelo vírus.
Essa responsabilidade foi transferida para o Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças (CCPE), que fornece números uma vez por mês, depois de a China modificar o seu protocolo. Oficialmente, a China registou apenas 15 mortes por COVID-19 desde que começou a suspender as restrições, a 7 de dezembro, e que alterou os critérios para determinar se uma morte foi causada pelo coronavírus.
Isso levantou preocupações de que a onda pandémica não esteja refletida adequadamente nas estatísticas oficiais.
Na semana passada, as autoridades admitiram que a quantidade de informação recolhida é "muito menor" do que quando os testes de PCR eram obrigatórios.
Yin Wenwu, do CCPE, disse que as autoridades recolhem dados de hospitais e governos locais, bem como chamadas de emergência e vendas de remédios para febre.
Hospitais e crematórios enfrentam um aumento no número de pacientes e cadáveres, especialmente nas áreas rurais.
Vários países, como Estados Unidos, Austrália e Canadá, anunciaram a obrigatoriedade de teste para os visitantes que chegam da China, dada a falta de transparência.
Cálculos incompletos
Algumas autoridades locais e regionais começaram a compartilhar números diários de infeções em dezembro, mas a escala do surto ainda não está clara.
As autoridades de saúde da província costeira de Zhejiang indicaram que um milhão de pessoas eram infetadas por semana.
As cidades de Quzhou e Zhoushan disseram que pelo menos 30% da população contraiu o vírus.
A cidade de Qingdao, no leste, também estimou em cerca de 500.000 as infeções por dia, e o centro industrial de Dongguan, no sul, projeta até 300.000 por dia.
Mas Wu Zunyou assegurou na última quinta-feira que o pico de infeções já passou nas cidades de Pequim, Chengdu e Tianjin, enquanto a província de Guangdong, a mais populosa do país, declarou o mesmo no domingo.
O principal especialista em doenças infecciosas de Xangai, Zhang Wenhong, declarou à imprensa estatal que a cidade teria entrado no seu período de pico em 22 de dezembro, com cerca de 10 milhões de pessoas infetadas.
Anotações de uma reunião de autoridades sanitárias em dezembro revelaram que elas acreditam que 250 milhões de pessoas foram infetadas na China nos primeiros 20 dias de dezembro.
Modelos independentes de infeções traçam um quadro preocupante. Pesquisadores da Universidade de Hong Kong calcularam que até um milhão de chineses poderia morrer neste inverno.
A empresa de análise de riscos sanitários Airfinity projetou 11.000 mortes e 1,8 milhões de infeções por dia, com um total de 1,7 milhões de óbitos até ao final de abril.
Novas variantes?
Muitos países citaram preocupações sobre possíveis novas variantes como motivo para testar os que chegam da China. Mas ainda não há evidências de novas estirpes que tenham surgido da atual onda de infeções.
Xu Wenbo, do CCPE, disse em dezembro que a China está a criar um banco de dados genético com amostras obtidas de hospitais que permitiriam rastrear mutações.
Especialistas chineses apontaram as subvariantes BA.5.2 e BF.7 da ómicron como as mais comuns em Pequim, numa altura de temores públicos de que a variante delta, mais letal, ainda esteja em circulação.
Em muitos países ocidentais, essas variantes foram superadas pelas subvariantes XBB e BQ, mais transmissíveis, que ainda não são dominantes na China.
Pequim enviou 384 amostras de ómicrons ao banco de dados global GISAID, de acordo com o seu site. Mas o total de entradas chinesas nesse banco de dados, 1.308, é menor do que o de outros países, incluindo Estados Unidos, Reino Unido, Camboja e Senegal.
As amostras chinesas recentes "assemelham-se a variantes conhecidas que circulam globalmente", informou o GISAID na sexta-feira (30).
O virologista Jin Dong-yan, da Universidade de Hong Kong, comentou num podcast recente que as pessoas não precisam temer variantes mais mortais na China.
"Muitos lugares ao redor do mundo experimentaram (infeções em larga escala), mas nenhuma variante mais mortal, ou patogénica, surgiu", disse Jin.
"Não estou a dizer que o surgimento de uma variante (mais mortal) é impossível, mas sim que a possibilidade é muito baixa", acrescentou.
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