"Seguramente, está a informar mal o ministro da Saúde e não lhe dá oportunidade para, atempada e preventivamente, resolver os problemas dos hospitais que estão sob a sua responsabilidade. O presidente da ARS-LVT, depois destas afirmações, deverá perder a confiança do ministro. Eu, se fosse ministro da Saúde, demitia-o", afirmou José Manuel Silva, após receber uma delegação do PCP, encabeçada pelo secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa.

O representante dos médicos referia-se a afirmações de Cunha Ribeiro, atribuindo os problemas a internamentos mais prolongados e à falta de médicos. O presidente da ARS-LVT disse que "o número de doentes que vai aos serviços de urgência não aumentou”, mas há "doentes mais graves, mais idosos" e com maior permanência nas instalações.

"Vinte e oito diretores de serviço demitiram-se, as chefias de equipa de urgência também apresentaram as suas demissões em dezembro. Se calhar, essa pseudo-frase do presidente da ARS é que é capaz de estar errada. Eu pergunto o que será uma crise. Esta narrativa oficial de procurar minimizar e esconder a verdade é que continua a contribuir para que os verdadeiros problemas do país não sejam resolvidos. A preocupação da tutela ao não resolvê-los, é escondê-los", continuou o bastonário, comentando a classificação de "pseudo-crise" por parte de Cunha Ribeiro.

Pediatra é a nova diretora clínica

Entretanto, Helena Isabel Almeida é a nova diretora clínica do Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), após a demissão do anterior responsável e de 28 dos 33 diretores de serviço da unidade hospitalar, que se mostraram contra a ausência de estratégia para evitar a "contínua degradação das condições de trabalho".

"Disse o presidente da ARS-LVT - que, se calhar, devia ser demitido, mentiu -, que o hospital [Amadora-Sintra] contratava todos os médicos disponíveis. Não é verdade. No ano passado, dispensou proactivamente o único radiologista de intervenção que tinha, que foi trabalhar para Inglaterra, ganhar mais e com respeito pela qualidade e diferenciação do trabalho. Os doentes passaram a ser pior tratados e direcionados para outros hospitais", exemplificou José Manuel Silva.

Segundo o bastonário da OM, a situação "é da exclusiva responsabilidade da tutela, do Ministério da Saúde, que impôs uma série de medidas e restrições" e, agora, "o hospital não pode funcionar milagrosamente", pois, "se assim fosse, milagrosamente, a situação do país também seria bem melhor".

"Não teve a ver com nenhuma vaga de frio siberiana ou qualquer epidemia de gripe particularmente grave. Foi, de facto, reflexo da incapacidade de resposta do SNS e da ausência de planeamento para preparar o inverno. Mais parecia que o Ministério da Saúde estava à espera que o inverno fosse uma primavera e que não houvesse gripe", criticou.

Para José Manuel Silva, "a congestão e todas as consequências e dramas vividos nos serviços de urgência na maioria dos hospitais do país tem uma justificação: a crise social secundária [que se seguiu] às medidas de austeridade e os cortes excessivos impostos ao SNS, impedindo a capacidade de resposta [número de camas, cuidados de saúde primários, cuidados continuados, número de profissionais de saúde]".

O bastonário da OM considerou ainda que "o problema não estava só no diretor clínico do Amadora-Sintra" e que o ministro da Saúde deveria também avaliar a gestão por parte do conselho de administração daquela unidade hospitalar.