Deveria haver uma maior autonomia no funcionamento de alguns organismos do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Neste sentido as Unidades de Saúde Familiar (USF) já deviam estar na sua 3ª fase de implementação, dando origem a um sistema inovador na prestação dos cuidados de saúde primários que muito contribuiria para um ganho de eficácia na resolução do problema da medicina familiar através da criação de redes de equipas auto-organizadas, devidamente reguladas, devendo estar integradas em unidades maiores e não isoladas no sistema de saúde.

Em primeiro lugar havendo a possibilidade do país inteiro ter uma rede de dados de saúde de cada doente criavam-se unidades de saúde familiar em rede e havia regional e localmente unidades de saúde locais. Cada médico, num gabinete de dois a três médicos, dava assistência ao seu bairro e isso permitia poupar evitando a construção de centros de saúde faraónicos como alguns que conhecemos. Estavam assim no seu bairro, no seu consultório coletivo de grupo. O atendimento era de mais proximidade e simpático, evitando filas de espera. Por outro lado, permitia evitar que continuássemos a enviar todas as consultas de especialidade para os hospitais.

Porquê? Os hospitais são para dar resposta aos tratamentos pesados e situações agudas e difíceis. Porque havemos de ter, por exemplo, oftalmologistas nos hospitais a colocar e a tirar lentes quando lá deviam estar apenas para as cirurgias?

Assim porque não há um oftalmologista num centro de saúde? Porque não há um Otorrino num centro de saúde? Mas também têm a sua prática hospitalar? Pois bem estão de manhã no hospital e à tarde no centro de saúde sendo remunerados em função daquilo que fazem. Bem como o médico de família pode e deve ser premiado em função do que faz.

Esta é uma área que até hoje sempre se anunciou a sua concretização e nada ainda aconteceu. Assim talvez precisássemos de menos médicos de família. Estamos sempre a dizer que faltam médicos de família. Vamos aproveitar os que existem e paguem ao médico de família por doente. Compensem as pessoas pois assim obterão maior empenho e qualidade no serviço prestado, acima de tudo se criarmos as redes de saúde primária através das USF.

Assim, tardam a surgir no tecido dos cuidados primários de saúde no nosso país as unidades de saúde familiares com maior proximidade às populações, libertando a carga de doentes nos centros de saúde o que permitiria absorver as consultas hospitalares, aliviando desta forma, pela eficácia processual do sistema, os elevadíssimos custos que o Serviço Nacional de Saúde suporta pela sobrecarga de funções em estruturas pesadas como são os hospitais.

Esta rede de cuidados primários levaria muito provavelmente a uma melhor distribuição dos médicos, suprindo a tão falada falta de médicos de família. Perante este cenário vale a pena perguntar do temos estado à espera.

Por Germano de Sousa, Médico Especialista em Patologia Clínica

Germano de Sousa, Médico Especialista em Patologia Clínica