"A mutilação de meninas e mulheres deve cessar ainda nesta geração, a nossa geração", afirmou Ban Ki-moon a partir da sede regional da ONU em Nairobi, lançando uma convocatória para os "homens e jovens para que apoiem a luta contra a mutilação genital feminina".
Estas mutilações sexuais - ou circuncisões - consistem na remoção parcial ou total da genitália externa feminina, clitóris, pequenos e grandes lábios.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a prática é realizada principalmente em crianças e adolescentes, mas em alguns países, também em bebés do sexo feminino com menos de um ano.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) registou mais de 125 milhões de vítimas desta mutilação em 29 países de África e do Oriente Médio.
A UNICEF assinala ainda que a prática está a crescer na Europa, Austrália, Canadá e Estados Unidos, especialmente entre os imigrantes provenientes dessas regiões.
Lesões irreversíveis
A prática, que causa lesões físicas e psíquicas permanentes, é mantida em cerca de 30 países africanos, entre os quais a lusófona Guiné-Bissau, onde se estima que 50 por cento das mulheres sejam afetadas.
A mutilação genital feminina é feita de diversas formas: em algumas corta-se o clítóris, noutras os grandes e os pequenos lábios. Uma vez concretizada, é irreversível e se a vítima sobreviver irá sofrer consequências físicas e psicológicas permanentes.
Além do sofrimento que as mutiladas sente no momento do corte, o processo de cicatrização é acompanhado com frequência por infeções, devido ao uso de utensílios contaminados, e dores ao urinar e defecar. A incontinência urinária e infertilidade são outras das sequelas.
O facto de serem usadas as mesmas lâminas para mutilar várias crianças aumenta o risco de se contrair o vírus da SIDA.
Além da mãe, também os recém-nascidos podem sofrer com a mutilação. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a taxa de mortalidade infantil é mais elevada em 55 por cento em mulheres que sofreram uma mutilação de tipo III (a infibulação, que consiste em fechar a abertura vaginal).
Prática proibida
A circuncisão feminina é proibida em muitos países, mas ainda é praticada em algumas comunidades de forma clandestina em condições insalubres e sem anestesia.
"Esta prática não tem a ver com cultura, é uma violação aos direitos humanos", comentou também esta quinta-feira uma vítima de mutilação, Kakenya Ntaiya, escreve a agência France Presse.
Esta prática "mata os sonhos, as esperanças, as vidas dessas meninas", acrescentou esta masai de 36 anos, mãe de dois filhos que atualmente dirige uma organização não governamental que ajuda as jovens quenianas vítimas dessas práticas traumatizantes.
A campanha contra a circuncisão feminina foi lançada inicialmente no Reino Unido por uma jornalista do jornal britânico The Guardian, Maggie O'Kane.
Posteriormente, uma petição fez com que o governo impusesse o ensino dos perigos da mutilação genital nas escolas. Segundo O'Kane, cerca de 20.000 jovens estão expostas a essas mutilações no Reino Unido.
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