
Que tipo de cirurgias íntimas existem? E quais as mais procuradas?
Existem vários tipos de cirurgias íntimas, sendo que as mais procuradas são a labioplastia de pequenos lábios (redução do tamanho, correção de assimetrias, excisão de pregas laterais e tecido excedentário), redução do capuz clitoriano, clitoropexia ou clitorotomia (redução do clitoris em pacientes com clitoromegalia decorrente do atual uso de androgénios ou outras causas), labioplastia de grandes lábios (aumento ou redução do volume), vaginoplastia, perineoplastia, himenotomia e himenoplastia.
Existem riscos específicos associados à cirurgia íntima feminina que as pacientes devam conhecer?
Existem riscos associados a todas as intervenções cirúrgicas, mas particularmente nesta área, sendo uma intervenção estética ou funcional, é a não obtenção do resultado estético ou funcional pretendido. Outros riscos descritos são a dor, edema, hemorragia/hematoma, deiscência ou lesão nervosa (sobretudo clitóris), mas sendo que estas cirurgias são efetuadas com tecnologia laser ou RF (radiofrequência) por médicos com cada vez mais treino cirúrgico os riscos são muito reduzidos. É importante o aconselhamento e avaliação cuidadosos de toda a área genital e planeamento da cirurgia como um todo, estabelecer os cuidados pré e pós-operatórios e alinhar as expectativas da paciente com os resultados possíveis para minimizar estes riscos.
Como tem evoluído a área da Ginecologia Regenerativa em Portugal nos últimos anos?
A área de Ginecologia Regenerativa tem tido uma evolução enorme nos últimos anos, sendo que em 2022 foram realizadas cerca de 24.000 labioplastias nos Estados Unidos (3 vezes mais do que no ano de 2013), número este ainda ultrapassado pelo Brasil). Portugal tem tido um avanço notável, embora mais lento no recurso a estes procedimentos; à semelhança da estética em geral houve um à esfera ginecológica, onde as potencialidades são imensas na complementaridade com a Ginecologia “convencional”. Há um maior reconhecimento e autoconsciência das alterações funcionais que vão ocorrendo com o envelhecimento, alterações hormonais e partos e um melhor autoconhecimento da anatomia pela mulher; a par da crescente exposição da zona vulvar (depilação completa da região vulvar, aumento na divulgação da nudez pelos media, etc). A imigração e internacionalização das práticas e partilha de conhecimento com sociedades e academias de países como Espanha e Brasil também contribuíram para este aumento.
Atualmente, a integração do conceito de beleza engloba não só a ausência de doença, mas o bem-estar global, e a mulher procura um envelhecimento sem perda de funções, restaurar anatómica e funcionalmente os órgãos e obter um aspeto harmonioso e um embelezamento da região genital feminina à semelhança do restante rosto e corpo. São mais procuradas em termos cirúrgicos as labioplastias para redução de pequenos lábios, e as vaginoplastias / perineoplastias para diminuição da amplitude do canal vaginal.
Quais os padrões de beleza mais procurados?
É procurado um resultado em que haja uma harmonia entre as estruturas genitais que consiste habitualmente nos pequenos lábios de pequeno tamanho, simétricos, bordo fino e regular, coloração rósea, capuz sem pele excedentária, apenas a recobrir o clitóris, grandes lábios com pele turgida e elástica, sem aparência flácida, a recobrir na totalidade os pequenos lábios. Atenuar ou eliminar dismorfias provocadas por cicatrizes perineais etc.
Quais os motivos mais comuns que fazem as mulheres recorrer a cirurgias íntimas?
Habitualmente, há dois grandes motivos que podem estar associados: o resultado estético em si ou restaurar a funcionalidade do órgão ou ambas. Na hipertrofia dos pequenos lábios é comum as pacientes sentirem dor ou desconforto na prática de exercício físico ou uso de vestuário mais justo, dor ou dificuldade nas relações sexuais, ou dificuldade na higiene dos próprios lábios. A par do desejo estético de harmonização estão muitas vezes associadas estas queixas, sobretudo, em idades mais jovens. Na vaginoplastia é pretendida uma diminuição da amplitude do canal vaginal (flacidez vai surgindo com a idade, partos vaginais ou presença de cicatrizes perineais) para aumento do conforto e da sensibilidade sexual, etc.
Existe algum limite de idade para uma mulher avançar com este tipo de intervenções?
Em geral, a idade mais delicada é a adolescência pelas implicações na formação da autoimagem, é necessária uma avaliação cuidadosa e exclusão de algumas condições como a Perturbação Dismórfica Corporal. De resto, excluindo as CI relacionadas com patologias específicas, não há idade limite para realização destes procedimentos.
Há quem veja esta área como uma intervenção demasiado invasiva na aparência da mulher?
Sim, existem organizações que consideram a cirurgia íntima como uma forma de mutilação genital feminina medicalizada (OMS), ou seja, consideram que a remoção de um órgão saudável poderá não ter indicação na medicina. No entanto, sendo cada vez mais aceite o conceito de bem-estar e autoestima na definição de saúde global, e com a avaliação adequada por profissionais, este conceito acaba por não ser limitativo na realização e orientação destes procedimentos.
Os meios de comunicação e as redes sociais têm uma influência direta na procura por cirurgias íntimas?
Sim, as redes sociais são um meio importante na divulgação, visibilidade e desmistificação de tabus socioculturais associados à importância da autoestima e autoimagem na sexualidade e bem-estar global da mulher. Até pela internacionalização e partilha de publicações pelos nossos colegas brasileiros onde o tema é bastante mais divulgado.
De acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, o Brasil é o recordista mundial em cirurgias íntimas femininas. Em Portugal, ainda existe um tabu em torno deste procedimento?
Sim, globalmente os procedimentos estéticos, não só a nível ginecológico são vistos como “não essenciais”, prescindíveis por não se tratar de uma situação de saúde. Em Portugal, à semelhança de outros países da Europa, ainda há barreiras na aceitação de que a autoimagem é fundamental para a autoestima, sendo tão importante como a restauração da funcionalidade anatómica. O Brasil é o líder mundial em cirurgia íntima (2 vezes mais do que os Estados Unidos da América) e conjuntamente com os países da América Latina têm uma cultura de imagem como integradora da beleza e bem-estar global mais enraizada e também pela sua dimensão acabam por ter um volume de procura e normalização maior dos procedimentos. Mas de facto já se nota uma procura crescente, embora uma grande fatia pertença a população brasileira residente em Portugal.
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