Hoje, dia 3 de novembro, comemora-se o World One Health Day, um dia recentemente criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para chamar a atenção para os benefícios cruciais da utilização de abordagens transdisciplinares para desafios de saúde complexos, envolvendo animais, pessoas, e os seus ecossistemas partilhados. Esta tem sido uma abordagem que tem vindo a ganhar um destaque crescente num mundo cada vez mais interconectado. O conceito é relativamente simples mas a sua aplicação é profundamente significativa.
A Saúde deve ser encarada como um todo, como a soma maior de todas as partes. Este movimento reconhece que a saúde humana, animal e ambiental estão intrinsecamente ligadas. Portanto, para garantir a saúde e o bem-estar de todos, devemos adotar uma abordagem holística que integre estas três esferas.
Mais do que um conceito orientador, o “One Health” é algo que nos desafia a pensar além das fronteiras interdisciplinares e a considerar a interdependência de todos os seres vivos e do meio ambiente que partilhamos.
A Educação, enquanto pilar fundamental da Sociedade, desempenha um papel crucial no sentido de capacitar as gerações futuras para entender e aplicar esta abordagem nas funções que um dia irão desempenhar. Não se limita à sala de aula, devendo envolver experiências práticas, pesquisas interdisciplinares e estágios que proporcionem uma compreensão profunda das conexões entre as várias áreas da Saúde e no mesmo paradigma.
Integrar conhecimentos de diversas disciplinas e desenvolver tecnologias avançadas e inovadoras para monitorizar a saúde dos animais e dos ecossistemas, bem como para a pesquisa de novas terapias e estratégias de prevenção de doenças, devem ser os compromissos principais das instituições de Ensino Superior. Abordar os desafios da saúde pública com uma perspetiva ampla e inovadora, bem como procurar inovações que promovam a saúde e a sustentabilidade, são os principais eixos de atuação do “One Health”.
Aliado à educação e às aprendizagens tradicionais, está o ensino experimental e multiprofissional, uma parte essencial da formação neste âmbito. Os estudantes precisam de vivenciar em primeira mão as complexidades e os desafios que surgem da interação entre seres humanos, animais e o meio ambiente. Neste rescaldo inclui-se a participação ativa dos estudantes em projetos académicos, a investigação de surtos e de doenças infecciosas que possam ter origem no reino animal e o estudo de ecossistemas naturais.
A sustentabilidade, por outro lado, é outro dos princípios fundamentais do One Health e uma das maiores contendas do nosso século. A exploração excessiva dos recursos naturais, as mudanças climáticas e a degradação ambiental têm impactos diretos na saúde humana e animal. Nos últimos anos, assistimos a uma das maiores pandemias dos últimos séculos, resultante desta interligação que por vezes o ser humano parece ignorar.
A esta soma, junta-se ainda a influência negativa cada vez maior da resistência microbiana, consequência do uso excessivo de antibióticos a nível mundial. A segurança alimentar também encontra nesta abordagem um pilar, assim como um enorme desafio para a saúde pública.
Acredito que as IES da área da saúde devem estar comprometidas em promover a abordagem “One Health”, envolvendo a comunidade académica na busca de colaborações interdisciplinares e soluções inovadoras que abordem os desafios da Saúde na sua totalidade.
É nossa responsabilidade, enquanto educadores, docentes e investigadores, preparar os profissionais de saúde e cientistas do futuro para compreenderem o impacto desta união que, tanto pode ser benéfica para a Humanidade como, no caso de ser ignorada pelas políticas públicas de Saúde e Educação, se tornar numa autêntica bola de neve avassaladora. Mas com o compromisso e a dedicação necessários, seremos capazes de proteger a saúde humana, animal e ambiental a nível global.
Um artigo de Lourdes Martín, diretora da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Europeia.
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