“Cerca de dois mil ingredientes farmacêuticos ativos são administrados em todo o mundo em medicamentos de receita médica, de venda livre ou em medicamentos veterinários”, refere a OCDE num relatório publicado hoje, apontando que os resíduos de fármacos são “uma preocupação ambiental crescente”.
Os resíduos dos medicamentos vão parar às águas superficiais e subterrâneas e acabam no solo, na água potável e na cadeia alimentar, por causa de “águas residuais domésticas não tratadas e efluentes de estações de tratamento de águas residuais municipais”.
“A utilização excessiva e libertação de antibióticos na água agrava o problema da resistência microbiana, declarada pela Organização Mundial de Saúde como uma crise de saúde global e urgente, que se prevê vir a causar mais mortes do que o cancro em 2050″, refere a OCDE.
Mesmo em concentrações baixas, os fármacos interagem com os ecossistemas e têm consequências: os contracetivos orais provocam a feminização dos peixes e anfíbios, drogas psiquiátricas como a fluoxetina – antidepressivo – tornam os peixes mais imprudentes e vulneráveis aos predadores.
A OCDE recomenda critérios ambientais mais apertados nas autorizações dadas a medicamentos de alto risco ambiental, planos de segurança da água para consumo humano que incluam o controlo da presença de fármacos e mecanismos de deteção na água para prevenir contaminações.
Recomenda ainda que se reduza “o uso e libertação de fármacos”, melhorando o diagnóstico e adiando a prescrição quando não sejam necessários, ou mesmo proibindo ou restringindo o uso preventivo de antibióticos.
No relatório recomenda-se ainda a restrição do uso de hormonas de crescimento na criação de gado e aquacultura e combate à venda ilegal de medicamentos e à automedicação com farmacêuticos de elevado risco ambiental, como antibióticos e outros que agem no sistema endócrino.
A OCDE defende que deve ser garantida “a recolha apropriada de resíduos de medicamentos”, abordando profissionais de saúde, veterinários, consumidores e agricultores.
“Não há um responsável único pelos poluentes farmacêuticos que chegam às águas”, salienta a OCDE, que recomenda o envolvimento da administração local e central dos setores do ambiente, agricultura, saúde e segurança.
Em França, na Alemanha, na Holanda, na Suécia e no Reino Unido, já há mecanismos para pôr todos estes setores em contacto para enfrentar o “desafio farmacêutico”.
Medidas de prevenção adotadas no princípio do ciclo de vida do medicamento “poderão ter os benefícios mais alargados, eficazes e prolongados”, defende a OCDE no relatório.
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