O que são amizades tóxicas?

Na maioria das vezes, uma amizade tóxica não é imediatamente identificada e muitas vezes não há uma intencionalidade em prejudicar ou fazer mal. O padrão de funcionamento do outro é que traz a toxicidade às relações. Uma relação tóxica tende a ser unilateral, sem reciprocidade, com primazia aos próprios problemas e interesses, mas pouco interesse genuíno pelo outro. Apesar de existirem laços afetivos, estes não nos trazem bem-estar, pelo contrário, tendem a fazer-nos sentir mal.

Que tipo de pessoas são mais propensas a desenvolverem este tipo de relações?

Pessoas vulneráveis, com algum tipo de dependência emocional, com necessidade de validação por terceiros, pessoas menos assertivas ou com baixa autoestima, pessoas com tendência a deixarem-se contaminar pelos problemas dos outros ou simplesmente pessoas altruístas. Pessoas com uma rede social pobre também se tornam mais propensas.

Que consequências podem ter este tipo de amizades no bem-estar de uma pessoa?

Este tipo de pessoas precisa de alguém que os ajude a gerir as próprias emoções, o que, com o tempo, tende a sobrecarregar o outro, a criar sentimentos de culpa, desconforto ou ansiedade. O gasto de tempo e energia sem que haja reciprocidade afetará a saúde física e emocional da pessoa. Estas consequências tendem a manter-se enquanto o vínculo durar.

Que sinais/comportamentos indicam que estamos perante um amigo tóxico?

Um amigo tóxico raramente identifica as falhas, por isso, também tende a não pedir desculpa. Uma vez que existe pouca reciprocidade e o interesse no outro é pouco genuíno, é possível que esta seja uma relação mais centrada nos problemas do outro. Habitualmente a probabilidade de mudança é baixa e o ciclo só é quebrado quando ocorre o afastamento.

Catarina Lucas
Catarina Lucas, psicóloga clínica créditos: All rights reserved | Todos os direitos reservados

Quem é a psicóloga Catarina Lucas?

Sugiro, por isso, uma conversa com a psicóloga Catarina Lucas sobre o tema. Licenciada em Psicologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidade da Beira Interior, Catarina Lucas tem desenvolvido, ao longo dos anos, a sua atividade em contexto hospitalar, agrupamentos de escolas e colégios privados, empresas privadas de prestação de serviços de saúde, centros médicos e clínicas.

Em 2016, criou o Projeto Catarina Lucas – Psicologia e Desenvolvimento, com o objetivo de contribuir para a mudança, para o crescimento pessoal e para promoção da saúde mental e bem-estar emocional dos seus pacientes. Em 2017, abriu o Centro Catarina Lucas, do qual é diretora técnica e onde conta com uma equipa multidisciplinar altamente especializada e diferenciada em várias áreas da psicologia e do desenvolvimento humano.

Autora de vários livros para profissionais da área da Psicologia, Catarina Lucas tem-se dedicado à investigação e intervenção nas áreas de terapia de casal, sexologia, aconselhamento parental, ansiedade e pânico, depressão, distúrbios alimentares, psicologia da infância e da adolescência, entre outros.

O último livro que escreveu foi "Vida a Dois", no qual espelha um olhar sobre o casal, as relações a dois e a sexualidade.

Alguns comportamentos típicos passam por diminuir o outro, não guardar em segredo informação que lhe é dita confidencialmente, dizer coisas negativas sobre o “amigo”, autocentração nos seus problemas, mentiras frequentes, vitimização ou competição. Contudo, os comportamentos podem ser vários, mas a intenção tende a ser a captação de atenção e suporte para si próprio.

Como podemos livrar-nos destes amigos tóxicos?

Em alguns momentos é inevitável pôr um fim a uma amizade tóxica, mesmo quando esta dura há vários anos. Contudo, vale a pena tentar perceber se o funcionamento da pessoa é tóxico desde sempre ou se a pessoa se está a revelar tóxica naquele momento por alguma situação de vida em particular.

Quando a mudança não é possível, impor limites e gerar um afastamento gradual é a solução. Em casos mais complexos, o corte pode ter de ser drástico ou abrupto. Este tipo de amigo tende a não lidar bem com os limites e o afastamento, o que pode gerar conflito e um afastamento drástico ser necessário.

Às vezes a mensagem pode não ser bem recebida. Que dicas para ter uma conversa difícil?

Focarmo-nos em nós e não na outra pessoa é sempre uma forma mais apaziguadora de ter este tipo de conversa. Não focar no comportamento do outro, mas sim na forma como nos sentimos perante determinadas situações pode ajudar a transmitir melhor a mensagem, de modo a amenizar o conflito. Não alimentar muitas explicações também é uma opção, já que esta pessoa não quis ouvir, provavelmente durante anos, logo, também não ouvirá na fase final. Sigam caminhos diferentes.