As redes sociais como Facebook/Instagram/Tinder têm o seu impacto na vida a dois. A forma como nos apaixonamos mudou significativamente nas últimas décadas e, drasticamente nos últimos anos. Mudou à velocidade com que a tecnologia evoluiu. É no nosso sofá e em qualquer momento que as coisas acontecem, bastando para isso “existir” numa rede social, ter uma app instalada nos nossos telemóveis e uma ligação à internet. Sem darmos por isso, estamos a receber notificações para possíveis conexões e, quem sabe, relacionamentos futuros. Isto faz aumentar a insegurança de algumas pessoas nas relações que estabelecem, sobretudo quando o vínculo não se encontra bem estabelecido.
Estas aplicações trouxeram um maior acesso a outras pessoas e, a verdade é que, uma parte significativa das infidelidades atualmente são descobertas através destas plataformas.
No entanto, as redes sociais e o seu uso não prejudicam necessariamente as relações. Dependerá sobretudo do tipo de uso que fizermos, bem como do tempo despendido com as mesmas.
Se as utilizarmos com o intuito de encontrar outras pessoas ou de entrar em flirts, terá um impacto negativo na relação, nem que mais não seja porque há um gasto de energia nas redes sociais que poderia ser canalizado para a vida amorosa. Contudo, se fizermos um uso consciente, não deverá existir razão para alarmes. Por exemplo, será importante que o uso das redes não se sobreponha a outras tarefas e atividades do casal. Por seu lado, deve ser estabelecida uma relação de confiança com um vínculo sólido entre o casal que diminua desconfianças e situações de ciúme. Não são precisas medidas drásticas quando as pessoas são conscientes e não restringem as suas vidas à existência online. Um certo distanciamento, preferir passar tempo nas redes em detrimento de passar tempo em casal, isolamento, desinvestimento, perda de romance, diminuição do desejo sexual, reatividade são alguns dos sinais que podem alertar-nos para problemas na relação.
Algo que pode afetar a vida a dois no que toca às redes sociais é a partilha constante da vida de um elemento do casal. As redes sociais proporcionam gratificação, validação e reconhecimento imediato, mesmo que ilusório. É como se fosse uma montra para o ego onde nos expomos e recebemos “likes” e comentários. É um mundo que construímos e onde escolhemos a imagem que queremos passar, que normalmente reflete sempre uma vida feliz, não significando que isso seja efetivamente assim. Estes comportamentos são geradores de discórdia entre alguns casais, já que esta elevada exposição também aumenta o número de interações da pessoa, gerando por vezes discussão e desacordo entre o casal. Esta exposição individual também requer tempo e dedicação às redes, o que em alguns casos significa desinvestimento no tempo de casal/família. Evite mostrar o que não é; passar uma imagem pouco consistente consigo mesmo; esforce-se por manter a sua privacidade e seja feliz no mundo físico. Evite mostrar que está feliz e esforce-se sim por ser feliz.
Esta facilidade de estarmos nas redes sociais poderá levar à constante presença de um dos elementos do casal nas mesmas, podendo-se tratar de um uso exagerado. Quando deixamos as nossas tarefas habituais ou atividades sociais para nos dedicarmos a uma rede social, pode começar a ser preocupante. Ao passar demasiado tempo nestes aplicativos, a qualidade de vida e da relação pode sair prejudicada, além de que, somos muitas vezes confrontados com realidades virtuais que não correspondem ao mundo real, inclusivamente às relações reais, o que pode gerar frustração. Nestes casos o que poderá fazer? Tente promover tempo de lazer e conjunto, invista em atividades a dois, diminuindo o tempo e a dependência das redes. Reforce a relação de casal, de modo a que, não se gerem desconfortos ou desconfianças com o uso das mesmas.
Por vezes, esta exposição nas redes pode gerar desconforto e até ciúme na outra pessoa. Esta maior presença nas redes, pode gerar mais interações e atratividade a terceiros, fazendo o outro elemento do casal sentir a relação mais em perigo ou o seu valor diminuído quando comparado com os seguidores que o companheiro/a tem nas redes. Neste caso, tente preservar a privacidade; invista tempo na relação; invista emocionalmente na relação. Desse modo, a relação sairá reforçada e por isso estará menos vulnerável a ameaças externas ou até mesmo à exposição.
Sendo tão fácil a nossa presença nas diferentes redes sociais, em alguns casos, acontece um dos elementos do casal descobrir que o outro tem um perfil, por exemplo, no Tinder, e perguntar-se o que isso poderá dizer sobre a relação. Esta situação pode dizer mais sobre a forma como a pessoa se sente naquele momento do que sobre a relação. Por vezes o desgaste, a rotina, a monotonia, a perda de interesse e a falta de novidade pode levar as pessoas a procurar algum estímulo novo e diferente, a procurar a novidade através das redes por ser uma forma fácil. Muitas vezes as pessoas nem procuram uma relação extraconjugal mas sim a gratificação e reforço de ego que o flirt proporciona. Tente falar com o outro, mas evitar a ótica puramente de ataque e culpabilização. Compreender o que a vossa relação precisa, que o outro precisa e até o que o próprio precisa é uma forma de transformar os momentos de crise em oportunidades. Oportunidades para o diálogo, para a mudança e até para a aproximação.
Mas as redes sociais não são unicamente usadas individualmente. E quando as contas nas redes sociais são “nossas”? O que explica isso da própria relação? É comum vermos contas conjuntas nas redes sociais. À semelhança do mundo físico, é importante que as pessoas tenham tempo e espaço para a sua individualidade, para existirem sem o outro. Ter uma conta partilhada numa rede sociais, pode ser comparado aos casais que fazem tudo juntos e passam o tempo todo juntos. Não há uma dissociação entre o “eu” e o “nós”. Pode remeter para uma relação fusional, nem sempre saudável. Evite a criação de contas conjuntas. Preserve a sua privacidade. Não tem que existir algo de errado para querermos preservar a nossa privacidade, mesmo que estejamos apenas a falar com um familiar. O “eu” existe sem o “nós”. Antes de estarmos numa relação e sermos parte de um casal, somos seres individuais. Evite ceder à pressão do outro para criar o perfil conjunto, sobretudo em casos onde impera o ciúme e insegurança, já que podem representar uma tentativa de controlo.
Um artigo da psicóloga clínica Catarina Lucas.
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