O professor David Nutt, neuropsicofarmacologista e professor de medicina no Imperial College London, estuda há 15 anos os efeitos do uso de psicadélicos no tratamento de problemas de saúde mental, da depressão ao transtorno de stresse pós-traumático ou ao transtorno obsessivo-compulsivo. Uma investigação que também recai sobre a dependências e a dor crónica.

Em 2018, David Nutt cofundou o primeiro centro de investigação académica sobre psicadélicos, que reavivou o interesse pela compreensão e utilização destas drogas nas suas várias formas, incluindo MDMA, ayahuasca, cogumelos mágicos, LSD ou cetamina. Os resultados desse trabalho foram entendidos como revolucionários.

O livro Psicadélicos (edição Nascente) com autoria de David Nutt sintetiza o trabalho do investigador. A obra introduz o leitor no conhecimento “das drogas que estão prestes a tornar-se mainstream e a integrar terapias com efeitos comprovados na melhoria da saúde”, lemos na apresentação ao livro.

“Os psicadélicos constituem a nova revolução da neurociência e da psiquiatria. Nos últimos anos, o mundo dos psicadélicos mudou drasticamente. Há 50 anos que a Guerra às Drogas ao nível global, iniciada nos Estados Unidos pelo presidente Nixon, nos anos de 1960, baniu estes compostos da maneira mais draconiana (...) agora, o presidente Biden afirmou que a psilocibina e o MDMA virão a tornar-se medicamentos nos Estados Unidos dentro de dois anos”, escreve David Nutt na introdução ao seu livro.

David Nutt
David Nutt créditos: Wikimedia Commons

Da obra, publicamos o excerto abaixo:

O que acontece no seu cérebro durante uma trip?

O que se passa no cérebro durante uma trip continua a ser uma das grandes questões não respondidas da neurociência, embora se saiba muito mais do que há 15 anos. O meu grupo de investigação psicadélica no Imperial College, liderado pelo Professor Robin Carhart‑Harris, fez pesquisa mundialmente pioneira nesta área. Os psicadélicos são uma ferramenta poderosa para fornecer perceções à base cerebral da consciência, e a nova tecnologia de imagiologia tem sido crucial para revelar essas perceções.

O Professor Carhart‑Harris veio ao meu laboratório em Bristol quando era estudante e estava a fazer o doutoramento, há 15 anos, pedindo para realizar estudos de imagiologia dos psicadélicos. Quando iniciámos este trabalho em 2008, parti do princípio de que os psicadélicos nos poderiam ajudar a explorar a função cerebral e, possivelmente, compreender o sistema serotoninérgico do cérebro e talvez até as causas da depressão. Não tive em consideração que poderiam vir a tornar‑se remédios potenciais em si.

Nos anos de 1980, parte do meu trabalho consistia em investigar o sistema serotoninérgico. Provavelmente, já terá ouvido falar da serotonina relacionada com a depressão, talvez como um químico «de bem‑estar», ou que remédios antidepressivos como o Prozac são inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS). Com efeito, ainda não sabemos se é a serotonina ou a falta dela a desempenhar um papel causal na depressão. A investigação demonstrou que as pessoas deprimidas têm menos recetores de serotonina; uma teoria é que esta supragulação serve de compensação para a falta de serotonina.

“O uso de psicadélicos é o maior avanço dos últimos 50 anos nas terapêuticas aplicadas à psiquiatria” – David Nutt, psiquiatra
“O uso de psicadélicos é o maior avanço dos últimos 50 anos nas terapêuticas aplicadas à psiquiatria” – David Nutt, psiquiatra
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Na altura, havia outros tipos de antidepressivos disponíveis para tratar a depressão, mas isto foi muito antes dos ISRS se vulgarizarem. A reta final no tratamento da depressão difícil de tratar era então (e continua a ser) a terapia electroconvulsiva ou TEC. Na TEC, usa‑se a eletricidade para induzir convulsões em partes específicas do cérebro. O paciente recebe um anestésico e um relaxante muscular, e depois passa‑se uma corrente elétrica pelo cérebro, provocando uma convulsão a cada 30 a 35 segundos. A pessoa acorda um pouco confusa e desorientada, mas o seu humor começa a melhorar dentro de poucas horas (mais informações no Capítulo 5).

A TEC resulta, porque o nosso cérebro é uma máquina eletroquímica, composta por uma rede de cerca de 100 mil milhões de neurónios. Os outputs da nossa máquina — estar acordado, a dormir, armazenar memórias, engolir e por aí em diante — são o resultado de milhões de mensagens a percorrerem a rede cerebral. Cada mensagem atravessa o neurónio através da eletricidade, mas a conexão que colmata a distância entre os neurónios — a sinapse — é um mensageiro químico, um neurotransmissor como a serotonina. Os neurotransmissores fazem isto atuando sobre os recetores. Alguns, como a serotonina, atuam sobre vários recetores.

Sabíamos que a TEC e o anterior tipo de antidepressivos afetavam os recetores de serotonina 2A. Então, parte da minha investigação consistia em descobrir se bloquear os recetores 2A poderia ajudar na depressão. Estávamos a trabalhar com um composto recentemente inventado que conseguia isto, chamado ritanserin. Nos ensaios, administrámo‑lo a voluntários saudáveis e observámos os seus cérebros através do EEG (eletroencefalograma). Este assemelha‑se uma touca de natação com arames a sair dela e lê as ondas cerebrais através de elétrodos aplicados no couro cabeludo.

Dececionantemente, descobrimos que, após tomar este bloqueador 2A, parecia que pouco acontecera no cérebro. Mas reparámos numa diferença: o bloqueador proporcionava às pessoas um maior número de grandes ondas cerebrais lentas que ocorrem durante os estádios mais profundos do sono (razão pela qual se chama sono de ondas lentas).

Sugerimos que os bloqueadores 2A poderiam ser um bom soporífero, porque o sono profundo é um sono restaurador, de boa qualidade. Porém, nos ensaios, os pacientes não mencionaram ter um sono melhor depois de os tomarem, talvez por alguns se sentirem «mais lentos» e atordoados na manhã seguinte.

Quando interrogados, disseram preferir os soporíferos existentes (como o Nitrazepan), apesar de estes não melhorarem a qualidade do sono. O resultado foi as empresas farmacêuticas decidirem não comercializar os bloqueadores 2A.

Sobre o autor

David Nutt é um neuropsicofarmacologista inglês, professor na Faculdade de Medicina do Imperial College London. A sua área de investigação são os efeitos das drogas no cérebro, sob duas perspetivas: como funcionam os tratamentos com estas substâncias na psiquiatria e na neurologia, e a razão pela qual as pessoas se tornam viciadas em algumas delas.

É fundador e presidente da DrugScience, uma organização sem fins lucrativos que reúne especialistas em drogas com vista a realizar pesquisas inovadoras sobre os seus efeitos e potenciais danos, sem interferências políticas ou comerciais. No seu The Drug Science Podcast recebe peritos de renome mundial para discutir estes temas.

É autor de mais de 30 livros, dos quais se destacam Drugs Without the Hot Air (2012), Drink? The New Science of Alcohol and Your Health (2020) e Cannabis (seeing through the smoke): The New Science of Cannabis and Your Health (2022).

Sugeri que os bloqueadores poderiam ter outra aplicação: como antídoto para uma trip má. Bloqueando os recetores 2A, impedem os psicadélicos de atuar, o que os tornaria úteis nas urgências. Porém, isto não foi considerado um alvo comercial, por isso, nunca foi desenvolvido. No entanto, estes bloqueadores estão agora a ser usados em estudos para encurtar as trips de LSD, por forma que as pessoas não tenham de passar a noite no hospital.

Depois dos bloqueadores 2A, o próximo passo lógico teria sido trabalhar sobre os psicadélicos em si. Mas, tal como acontecia com a maioria dos cientistas da altura, os obstáculos à investigação — o estigma de trabalhar com uma droga ilegal, o custo de obter a substância e a dificuldade em obter autorização para fazer esse trabalho — eram demasiado elevados.

Por estes motivos, depois de os Estados Unidos e as Nações Unidas proibirem os psicadélicos a partir de 1967, a investigação científica ficou reduzida a quase nada.

Assim aconteceu até durante a primeira década de 2000. A minha equipa, primeiro na Universidade de Bristol e depois no Imperial College em Londres, resolveu retificar esta rejeição absurda — diria mesmo obscena — da investigação científica e do potencial progresso terapêutico.

Um primeiro olhar para o cérebro sob o efeito de psicadélicos

Tal como era esperado, foram precisos vários anos até obtermos a aprovação ética e o financiamento para o nosso primeiro estudo, captar imagens do cérebro sob o efeito da psilocibina. O estudo iniciou‑se finalmente em 2008. Escolhemos a psilocibina por várias razões. É muito segura — não há mortes comprovadas, apesar de milhões de pessoas a usarem há milhares de anos em grande parte do mundo. No Reino Unido, os adolescentes e jovens na casa dos vinte fazem frequentemente infusões com cogumelos mágicos durante a estação em que estes crescem, no outono.

Os cogumelos frescos só recentemente passaram a ser ilegais, em 2005. Talvez o dado mais importante para obtermos a aprovação universitária e ética para fazermos o nosso estudo seja que a psilocibina não é o LSD. Não tem a bagagem de 50 anos de medo e desinformação do LSD.

Recorremos a voluntários que tinham experimentado substâncias psicadélicas, para minimizar qualquer risco de más trips, em especial pelo facto de lhes ser proporcionada uma trip numa máquina de ressonância magnética funcional, barulhenta e claustrofóbica. Isto também ajudou na aprovação regulamentar; podíamos afirmar que não estávamos a apresentar drogas a voluntários ingénuos.

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Como as drogas de Categoria 1 estão sujeitas a uma montanha de regulamentação, o seu custo é dez vezes o habitual dos fármacos de pesquisa. Para manter os valores baixos, tivemos de administrar a psilocibina por via intravenosa, visto reduzir em dez vezes a dosagem. Outra virtude da psilocibina é ser de atuação breve. Isto é particularmente verdade quando aplicada por via intravenosa; os efeitos duram trinta minutos, em contraste com as quatro a cinco horas quando tomada oralmente. Então, mesmo que alguém tivesse uma má experiência, sabíamos que não duraria muito tempo. Com efeito, só uma das muitas centenas de pessoas da nossa investigação fez uma trip má, embora muitas delas decorressem num aparelho de ressonância magnética funcional ou enquanto ligadas a outras máquinas. E essa única trip má foi com o LSD.

Os organismos de financiamento convencional recusavam‑se a apoiar estudos sobre uma droga ilegal. Encontrámos apoio financeiro e intelectual por parte da nossa colaboradora Amanda Feilding e da sua instituição de beneficência, a Beckley Foundation, e recebemos pequenos donativos de dois organismos de investigação psicadélica: a MAPS  (Associação Multidisciplinar para os Estudos Psicadélicos) e a instituição de beneficência associada ao Instituto de Investigação Heffter. Eu doei dinheiro proveniente dos honorários da minha consultoria e palestras. Mesmo assim, os nossos fundos não cobriram os custos da investigação, e muito menos o pessoal médico e os custos das análises de imagiologia. A única maneira de conseguirmos fazer o estudo teve totalmente que ver com a generosidade dos próprios investigadores, que trabalharam de graça nas suas folgas, fins de semana, tardes e noites, no que denominei de guerrilha farmacológica.

O que acontece ao nosso cérebro durante uma trip? A resposta do neurocientista David Nutt
créditos: Unsplash/Jr Korpa

Ligar passa a ser desligar

Esse primeiro estudo observava as alterações no fluxo sanguíneo cerebral através da ressonância magnética funcional, como indicador de quanta atividade cerebral está a acontecer. Uma teoria que tinha vindo dos anos de 1970 era que os psicadélicos aumentavam o fluxo sanguíneo no cérebro. Parecia lógico; a investigação demonstrara que, nas pessoas delirantes, o aumento do fluxo cerebral no sistema visual do cérebro podia estar relacionado com alucinações, por exemplo.

Mas, como ninguém tinha feito estudos sobre drogas que provocam alucinações, estávamos a desbravar novos caminhos. Primeiro, administrávamos a cada participante uma dose de solução salina e depois observávamos o seu cérebro durante 30 minutos. Isto servia para medir a atividade de um cérebro normal. Depois, administrávamos 2 mg de psilocibina intravenosa e voltávamos a observá‑los.

Todos os participantes referiram os efeitos subjetivos clássicos, muitos deles descrevendo‑os como sendo fortes. Relataram alucinações simples de formas geométricas brilhantes, frequentemente retângulos ou polígonos, a moverem‑se pelo espaço visual, com uma sensação de cor e brilho aumentada. As pessoas também descreveram perturbações da estabilidade visual, com uma sensação de o seu campo visual se mover, bem como alterações na perceção do tempo e do espaço. Algo menos comum, as pessoas mencionaram experiências espirituais e sobrenaturais. E algumas descreveram dissociarem‑se do seu corpo e o seu eu mover‑se para fora do aparelho de ressonância.

Os relatos pessoais foram praticamente como se esperava. Mas depois vieram os resultados de imagiologia. E foi um conjunto de resultados dos mais surpreendentes que já vi numa vida inteira dedicada à ciência. Só uma vez tivera resultados de experiências que eram exatamente o contrário do que fora previsto. Da primeira vez, tinha criado uma máxima científica: Se os teus resultados forem o contrário do que previste, é provável que sejam verdadeiros.

Psicadélicos
créditos: Nascente

Tínhamos antecipado que assistiríamos a um aumento do fluxo de circulação cerebral, em especial no sistema visual do cérebro. Porém, a atividade das regiões visuais permanecia inalterada. Com efeito, não encontrámos quaisquer aumentos da atividade, em nenhuma zona cérebro.

No entanto, todos os sujeitos tiveram alucinações, então, o que as estaria a provocar? O que descobrimos foi que, em três zonas do cérebro, houve um profundo decréscimo de atividade. E, quanto mais fortes as experiências psicadélicas relatadas pelas pessoas, mais essas três zonas se desligavam. «Liga‑te, conecta‑te e sai fora!» passara a ser «Desliga‑te, conecta‑te e sai fora!».

Esta primeira descoberta inesperada deu início a uma fascinante trip ao cérebro sob o efeito dos psicadélicos. No Imperial College, somos os seus líderes mundiais. Completámos três estudos de imagiologia sobre a psilocibina. Publicámos o primeiro artigo a definir os circuitos cerebrais do LSD.100 E, mais recentemente, conduzimos a imagiologia cerebral para o DMT101 e estamos atualmente a conduzir estudos com o 5‑MeO.

Em colaboração com a Universidade de Cardiff, conseguimos usar tecnologia direcionada para revelar a atividade cerebral de uma forma mais detalhada e matizada, em termos de qualidade e de quantidade. O efeito BOLD, uma técnica de ressonância magnética funcional, mede mais diretamente a atividade cerebral através das mudanças ao nível do oxigénio no sangue. E o MEG, um tipo de EEG especial, dá uma medição mais precisa da atividade elétrica no cérebro. No estudo sobre o LSD, dado ter uma duração superior à da psilocibina, tínhamos tempo de fazer o BOLD e o MEG a cada sujeito no mesmo dia. Isto teve uma grande vantagem; as duas técnicas de imagiologia diferentes mas complementares puderam validar os resultados uma da outra.

Cada um dos estudos que fizemos levou‑nos mais perto de compreender como os psicadélicos afetam o cérebro. Contudo, provavelmente estamos apenas no início do que isso significa para compreender a consciência. Este capítulo explica o que aprendemos até ao momento.

Observar o cérebro

O nosso cérebro funciona como uma série de redes conectadas. Cada rede funciona em conjunto numa função específica; por exemplo, há uma para a visão, uma para a audição e uma para o movimento. Também existem redes para a atenção, para o planeamento, para avaliar o impacto do mundo exterior, e uma para entender tudo isso. O grande desafio para o cérebro é integrar todas estas redes, cada uma das quais utiliza milhares de milhões de neurónios. Um grupo especial de neurónios — os neurónios piramidais da Camada V — ocupam‑se disso. Os neurónios da Camada V têm um desempenho ao nível máximo em termos da nossa função cerebral. Também possuem a mais elevada concentração de recetores de serotonina 2A no cérebro, os recetores sobre os quais os psicadélicos atuam.

Os neurónios da Camada V numa zona do cérebro denominada córtex cingulado anterior (CCA) têm a tarefa de integrar a motivação, as emoções e as memórias. Os do córtex cingulado posterior (CCP) integram a informação sensorial — ver, ouvir, sentido posicional e toque, etc. A rede de comunicação do CCA e do CCP constitui o centro daquilo a que se chama rede de modo padrão ou RMP (voltaremos ao assunto adiante).

Ao ouvirmos um barulho, são os neurónios da Camada V que coordenam a resposta. O nosso cérebro move a nossa cabeça e o nosso corpo para otimizar a análise dos sons (CCP), verifica nos nossos bancos de memória alguma exposição anterior ao som (CCA) e depois orquestra uma resposta emocional e cognitiva. Depois, se os sons forem importantes, o cérebro cria uma nova memória com todos estes elementos.

Toda esta coordenação dá‑se através de ondas de eletricidade que fluem através das redes. São as ondas cerebrais, que podem ser medidas através do crânio com recurso ao EEG ou ao MEG. As ondas cerebrais variam entre as muito lentas ou sono profundo e as muito rápidas quando estamos despertos e altamente focados. Quando nos sentamos calmamente de olhos fechados, a mais proeminente é a denominada onda alfa.

O que acontece quando se acrescenta um psicadélico?

Quando alguém toma um psicadélico, ele encaixa nos recetores 2A dos neurónios da Camada V por todo o cérebro. Isto ativa e aumenta drasticamente a excitabilidade e a descarga destes neurónios. O EEG e o MEG mostraram que isto levava a uma perda do padrão típico e ritmado das ondas cerebrais. Vimos as fortes ondas alfa decair, sendo substituídas por ondas mais baixas, não sincronizadas.

Isto demonstrou que as partes do cérebro de nível mais elevado (a RMP), que integram habitualmente toda a informação cerebral, tinham parado de comunicar umas com as outras. A quebra de circulação sanguínea que registámos no primeiro estudo era a RMP a desligar‑se.

Podemos comparar a RMP ao maestro numa orquestra, mantendo os instrumentos a tocar em sincronia. Sem o maestro, cada instrumento irá produzir uma série de sons imprevisíveis e discordantes. Em vez de Bach, a orquestra toca free jazz. Da mesma maneira, sem o controlo central, as diferentes partes do cérebro começam a tocar num estilo livre. O cérebro torna‑se caótico e desorganizado, a consciência alterada que vemos sob o efeito dos psicadélicos.

De onde vêm as alucinações?

Observemos agora mais profundamente o conteúdo das experiências psicadélicas. Talvez pense que os seus olhos e o cérebro funcionam como uma câmara, captando aquilo que vê. Porém, a verdade é mais estranha. O cérebro não regista imagens do mundo, nem tira milhões de retratos. Isto utilizaria rapidamente a sua capacidade de memória. O cérebro permite‑nos «ver» criando uma reconstrução do mundo exterior com base nos sinais que lhe chegam da retina. Este processo está explicado na figura seguinte.

Quando olhamos para alguma coisa, fotões de luz provenientes dela entram na retina. Os neurónios da retina enviam depois a informação sob a forma de impulsos elétricos através do nervo ótico até ao sistema do córtex visual.