Após anos de sucesso crescente, o consultor de tecnologia David JP Phillips entrou em depressão. Meteu-se na cama. Passou o verão a chorar. Um dia, quando passeava com a mulher numa paisagem bucólica, sentiu-se profundamente feliz. Foi um sentimento efémero, mas forte o suficiente para o lançar numa procura desenfreada por respostas. Porque é que se tinha sentido tão bem? Como poderia voltar a sentir-se assim? Como prolongar a felicidade?
A resposta a David JP Phillips surgiu na sequência de intensas pesquisas. O investigador e também conferencista percebeu que, das cerca de 50 hormonas que o nosso corpo produz naturalmente, há seis que podemos aprender a controlar. Uma descoberta que Phillips sintetiza no livro Seis Substâncias que Vão Mudar a Sua Vida (edição Lua de Papel). Dopamina, Oxitocina, Serotonina, Endorfinas, Cortisol, Testosterona entram no elenco a que o autor chama “Cocktail dos Anjos”.
Diz-nos David JP Phillips: “Se precisa de motivação, a Dopamina é o seu remédio; se o objetivo é conectar-se melhor com o mundo, experimente a Oxitocina; se anda numa roda-viva de emoções contraditórias, é sinal de que precisa de Serotonina; já o Cortisol, que é um veneno quando produzido em excesso (pelo stress, por exemplo), na medida certa é o impulso que conduz à ação; e enquanto as Endorfinas ajudam a relaxar, a Testosterona oferece-lhe a autoconfiança para enfrentar qualquer desafio”.
Em tempos, ver um filme a preto e branco (como o Casablanca) levava a audiência ao êxtase. Ao longo dos tempos, porém, fomos juntando mais e mais ingredientes ao cocktail químico que garante o nosso bem-estar – até que deixou de fazer efeito. É o resultado de anos a multiplicar estímulos até ao ponto em que deixam de produzir o efeito desejado – e instala-se a insatisfação. O que David JP Phillips nos traz no seu livro são as ferramentas para otimizarmos o funcionamento da mente e gerir melhor a montanha-russa das emoções.
De Seis Substâncias que Vão Mudar a Sua Vida publicamos o excerto abaixo:
Um cocktail dos anjos, por favor!
Senta‑se ao balcão, num banco alto. A pele gasta do mesmo é testemunha dos inúmeros pensamentos que muitos foram tentando embotar com álcool ao longo dos anos, da mesma forma que também é testemunha de um igual, ou provavelmente menor, número de celebrações. O cheiro é igual ao de muitos outros bares: levemente acre e levemente velho. Inclina‑se sobre o balcão e chama de imediato a atenção da empregada do bar. “Um cocktail dos Anjos, por favor!” A empregada olha para si com curiosidade. “É o máximo! Então quer dizer que não resiste à última moda? Muito bem, o que quer que lhe junte?” Diz‑lhe que gostaria de alguma motivação e de ficar mais bem‑disposto. “Junte‑lhe dopamina e serotonina, por favor.” Passado algum tempo, ela regressa com o seu cálice, que pousa cerimoniosamente numa bandeja dourada. É um cálice de Martini invulgarmente belo, com um cocktail e um palito dourado que tem espetado não a habitual azeitona verde, como seria de esperar, mas um pedaço amarelo de ananás fresco. “Delicie‑se!”
Imagine que era assim tão fácil mudar a forma como nos sentimos! Imagine que tudo o que precisávamos de fazer era sair de casa e dirigir‑nos ao bar mais próximo, pedir o sentimento específico desejado, pagar alguns trocos, fazer um brinde e depois regressar a casa com outro ânimo! Agora, pense se ainda fosse mais simples do que isso! Imagine ter uma fábrica de químicos no cérebro que consegue produzir seis substâncias, que pode usar quando quiser para produzir o sentimento específico que deseja, quando deseja – e ainda por cima de graça! Bem, é exatamente o que acontece. É também esse conhecimento específico que pretendo transmitir‑lhe neste livro; quero transformá‑lo no seu próprio barman, para que possa decidir como se quer sentir, sempre que assim o desejar. Quando é que quer sentir‑se estimulado, com imensa opamina e noradrenalina? Quando é que pretende ficar totalmente concentrado, com muita oxitocina? Quando é que deseja sentir‑se descontraído, cheio de serotonina? Quando é que decide ficar eufórico, e cheio de endorfinas, e quando é que quer sentir‑se confiante, dominado pela testosterona?
Embora seja estranho, ou talvez não tanto, há muito mais gente na nossa sociedade que escolhe preparar e beber um cocktail do Demónio, o que, no contexto desta metáfora, significa expor‑se a stresse intenso e prolongado, idealmente precedido por ansiedade, desapontamento e ruminação. Este estado é muitas vezes descrito como uma vida cinzenta, privada de emoções – como habitar uma bolha surreal, em que cada dia é parecido com o anterior, limitando‑se a existir sem grandes explosões de alegria. No entanto, consumir demasiados cocktails do Demónio, por períodos prolongados, pode fazer com que este estado evolua para disforia, ansiedade e depressão duradoura. Podemos muito bem perguntar‑nos porque é que as pessoas preferem cocktails do Demónio. Na minha perspetiva, há três razões principais para isso (embora existam outras, claro):
A razão principal é que nunca conheceram melhor. As nossas escolas parecem nunca abordar estes assuntos, que são provavelmente as lições mais importantes que podemos ter sobre a vida: o que é uma emoção, que emoções estou a sentir, como funcionam e, mais importante, o que posso aprender para as influenciar. As nossas emoções têm impacto em tudo o que fazemos, o que torna este conhecimento muito mais importante do que qualquer outro tema ensinado na escola.
A segunda razão é a sociedade que criámos juntos, em que o sucesso é medido em dinheiro, e a constante procura por mais sobrepõe-se a qualquer outro prazer.
A terceira razão é que nos tornamos parecidos com aqueles com quem convivemos. Se os seus amigos todos os dias tomam cocktails do Demónio, expondo‑se ao stresse, à pressão, às más notícias, às comparações com os outros, à constante procura por mais, vivendo apenas raros momentos de satisfação – não se admire se acabar numa situação parecida com a deles. Funciona mais ou menos como o fumo passivo.
Quando consegui ultrapassar o meu estado deprimido, o novo conhecimento que ganhei sobre as emoções e as suas origens na nossa biologia e na neurociência foi absolutamente vital para o meu progresso. Mas ainda que se sinta bem, ou mesmo muito bem, o conhecimento neste livro continuará a dar‑lhe uma perspetiva útil e esclarecedora sobre a vida, transmitindo‑lhe informação sobre o seu papel como ser humano, líder, parceiro, amigo ou parente. Em todos os cursos que dei, invariavelmente pelo menos um dos participantes diz algo parecido com isto: “Imagine o que é ter de viver quase metade da vida antes de aprender o que é uma emoção, quando na verdade podemos escolhê‑las!” Nessa altura, alguém diz: “É como ver televisão a cores pela primeira vez.” As duas pessoas afirmaram‑no com lágrimas nos olhos. Porém, os comentários que mais me impressionaram foram os que ouvi dos pais. O mais recente foi de um pai, cujo filho, Theodor, de seis anos, tinha ataques de raiva difíceis de ultrapassar. O pai explicou‑lhe que as emoções podem ser evocadas por pensamentos e que os pensamentos podem ser escolhidos, sugerindo‑lhe depois que tentassem ambos outro pensamento. O Theodor olhou para ele entusiasmado e concordou. Alguns minutos depois, exibia o maior sorriso que possam imaginar, dizendo ao pai: “Olha, olha, resultou, olha para mim, pai! Olha como estou feliz!” Pode sempre ir buscar inspiração ao Theodor e ao pai Joakin, e ensinar às suas crianças e adolescentes o que aprendeu com este livro. Imagine como seria o mundo se compreendêssemos simplesmente que não somos as nossas emoções, que as nossas emoções são apenas ideias temporárias que temos sobre nós e sobre o mundo – ideias que, na verdade, somos nós que escolhemos!
Estas emoções, que podemos escolher amplamente através dos nossos pensamentos, são inicialmente geradas por um processo em que substâncias que designamos por neuromodeladores “empurram” neurónios específicos em várias direções, que, por sua vez, irão fazer com que sintamos diferentes emoções. No entanto, há muito mais em jogo para além dos neuromodeladores. No total, temos cerca de 50 hormonas e 100 neurotransmissores a funcionar no nosso corpo, e há inúmeros livros e artigos que descrevem as substâncias mais conhecidas ao pormenor. Eu recomendo vivamente que aprofunde o mundo da bioquímica – pode mesmo ser mais excitante do que o último policial bestseller! Contudo, este livro não se destina a quem quer dedicar muito tempo a pesquisas académicas detalhadas sobre as várias descobertas científicas. Este é um livro ligeiramente científico e foi escrito para dar informação simplificada que possa ajudar toda a gente a compreender como a nossa química nos pode afetar e vice‑versa. Quando deixamos que as coisas se compliquem, corremos sempre o risco de tornar o conhecimento que queremos transmitir mais intimidante do que atrativo. Este assunto tem sido muito debatido de formas inacessíveis, mas agora que percebi o efeito que este material teve nas dezenas de milhares de pessoas que formei, sinto‑me encorajado a corrigir isso. É tempo de este conhecimento se tornar acessível para todos. Pretendo que seja um livro simples e assimilável sobre a matéria mais importante das nossas vidas: as emoções. Se sente necessidade de aprofundar ou alargar a compreensão das matérias que irei abordar aqui, há uma vasta lista de referências e leituras recomendadas no final do livro.
Então, se há centenas de substâncias envolvidas, porque é que optei por escrever este livro sobre seis, e não mais? Bem, há três condições evidentes para incluir uma substância.
1. É necessário que cada substância produza efeitos visíveis imediatos.
2. É necessário que cada substância dependa da produção voluntária da nossa parte, sempre que o desejarmos.
3. É necessário que cada substância fique acessível recorrendo apenas a uma ferramenta simples e prática.
Foi por isso que as outras 144 ou mais substâncias não foram selecionadas: não conseguem produzir efeitos na mente a pedido, e com recurso a ferramentas simples e práticas.
Comentários