“É chegar lá e dar o meu melhor… e que seja o meu recorde pessoal. Isso poderá eventualmente dar-me diploma ou, quem sabe, passar à final. Dependerá mais da ligação da minha marca à dos outros, não sei como eles vão estar. Eu vou querer estar na minha melhor forma e que isso signifique que passo à final”, disse o lançador do Benfica, em declarações à Lusa.

O competidor luso, que se estreia em Jogos aos 30 anos, é um invulgar atleta na alta competição, uma vez que “aos 14 anos pesava 122 quilos, media 1,91 metros, era gordinho e não gostava de desporto”.

“Sempre fui e continuo a ser muito ‘nerd’ no sentido de gostar de estudar, ver documentários, focado em atividades extracurriculares na escola, como geografia, clubes de jornalismo e poesia. Nunca gostei de desporto. Curiosamente a vida levou-me aos Jogos Olímpicos, o que tem alguma piada”, gracejou.

Francisco Belo assume uma vida de “contrassensos”, recordando que em determinada altura “disse que nunca entraria num hospital”, sendo que agora é médico: “Na vida prefiro não dizer ‘nunca’, pois já sei que vai acontecer”.

Para o momento mais alto da sua carreira, deseja “chegar bem, em forma, saudável e preparado para fazer o melhor”, considerando que o resultado final será consequência da capacidade de estar em forma excecional nesse grande acontecimento.

Admite estar “triste” por não poder usufruir na plenitude da experiência na capital japonesa — “conhecer pessoas, estar dentro da equipa olímpica portuguesa, privar com colegas de outras modalidades, abraços, festejos e aprender a cultura do país anfitrião” -, contudo não se foca no que esta fora do seu “controlo” na “gestão das expectativas”.

“Adaptamo-nos ao que temos. Vamos lutar com as ferramentas que temos e a oportunidade para representar Portugal”, completou, lamentando, sobretudo, a impossibilidade de ver no terreno o espírito de camaradagem da missão.

No lançamento do peso não procura resultados específicos, tal como prescinde de metas objetivas na medicina: “O objetivo é um dia saber que fiz tudo o que poderia ter feito em determinada altura. Não quero chegar ao final da carreira medica ou desportiva e dizer ‘fui incapaz de dar o meu melhor'”.

A pós-graduação em medicina desportiva visou “manter algum contacto e crescer” na área, para “não estar parado” enquanto garante estar “focado a 200% no desporto”.

A vida de Francisco Belo passa muito pelo apoio aos mais novos — “não tem de ser tudo perfeito como nas redes sociais” — e pela defesa incondicional dos direitos dos animais, pelos quais nutre enorme paixão.

“A minha ficha na polícia só estou identificado por causa de cães, em quatro ou cinco processos. Um por denuncia por maus-tratos, outro por estar fechado em marquise, outros por estarem perdidos”, graceja o atleta cada vez mais entusiasmado com o “crescimento” que o lançamento do peso tem registado este ano, inclusivamente com novo recorde do mundo.

Em junho, o campeão olímpico em título, o norte-americano Ryan Crouser quebrou um registo com 31 anos, fixando-o em 23,37 metros, 25 centímetros mais do que o compatriota Randy Barnes em 1990.

O lançador luso vai chegar aos Jogos depois de ter sido quarto classificado nos Europeus em pista coberta de 2021, repetindo o resultado de 2019, mas, desta vez, com o novo recorde nacional (21,28 metros), que lhe valeu o ‘passaporte’ para Tóquio2020.

Belo é um dos 20 representantes do atletismo nacional nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, que vão ser disputados entre 23 de julho e 08 de agosto, entrando em prova no dia 03, na qualificação, tentando um lugar na final, dois dias depois.