São vários os estudos científicos que apontam o golfe como uma atividade terapêutica indicada para pessoas com problemas cardiovasculares, diabetes, obesidade, ADD (défice de atenção) e, entre outros, músculo-esqueléticos, entre os quais o do cientista Dr. Andrew Murray da Universidade de Edimburgo.
“Para doentes com patologias crónicas, nomeadamente osteoarticulares, cardíacas, diabetes, tem a vantagem de ser um desporto que não implica esforços muito violentos. E pessoas com algumas restrições podem, por exemplo, jogar de ‘buggy’ e fazer uma movimentação menos marcada ou jogar em campos mais planos. Proporciona-lhes um tipo de exercício isométrico, que lhes permite andar e, em nove buracos, fazer cerca de dois quilómetros”, explica o doutor Francisco Lopes e Sousa, presidente do Clube Golfe Médico, em declarações à Lusa.
Além de destacar que o golfe “traz benefícios para todo o tipo de pessoas e qualquer que seja a idade, porque é uma modalidade muito equilibrada”, o pneumologista, a trabalhar na indústria farmacêutica, enumera algumas das vantagens para doentes crónicos.
”Ajuda o retorno venoso, a movimentação das articulações, evitando as anquiloses, e, do ponto de vista cardíaco, é um tipo de movimentação que não traz grandes riscos. As vantagens são muitas,” refere, acrescentando ainda “ajudar ao metabolismo da vitamina D, mas também o bem-estar psicológico e o estar longe de espaços confinados.”
Recomendaria como forma preventiva ou terapêutica? “Com toda a certeza. Do ponto de vista respiratório, é também extremamente vantajoso, porque a pessoa está ao ar livre, normalmente o ar é puro, e tem uma extensão de paisagem que dá azo a poder respirar-se fundo e melhorar a nossa performance pneumológica, ao nível ventilatório. O caminhar também é indicado para melhorarmos a nossa capacidade vital em termos de parâmetros respiratórios”.
A opinião é partilhada por Duarte Medeiros, diretor de serviço de cirurgia vascular do Hospital Egas Moniz, e também ele praticante de golfe há mais de 20 anos.
“Todo o benefício que seja o exercício físico, mesmo que moderado, talvez seja indicação ótima para doentes com patologia cardíaca, com diabetes e obesidade, que infelizmente é uma doença que neste momento atinge muitos portugueses. Em relação à saúde mental é ótimo, porque uma pessoa aprende a controlar as emoções e a relaxar”, sublinha.
Ainda assim, o cirurgião, que esclarece que “no caso dos diabetes, em teoria, será mais fácil o controlo da glicemia”, deixa uma recomendação. “Os doentes cardíacos têm de ser vistos antes pelo cardiologista, mas em princípio fazem um exercício de resistência física, desde que saibam conservar os seus limites e estejam atentos aos sinais de isquemia coronária. Têm de ter cuidado”, ressalva.
Atendendo aos benefícios atestados, a Fundação São João de Deus recorreu ao golfe como forma de tratamento à saúde mental, através de um projeto criado com o apoio da Federação Portuguesa de Golfe (FPG), que cedeu o Centro Nacional de Formação do Jamor, material e professores.
“Há três anos e meio que temos os nossos utentes da casa do Telhal, em Sintra, a experimentar golfe, a tornarem-se jogadores habituais, a estabelecerem relação com as várias pessoas que estão no Jamor e isso é um dos pontos fundamentais na recuperação da saúde mental, que é a ligação de forma positiva com os outros”, explica à Lusa Rui Ferreira Amaral, presidente da Fundação.
O projeto cresceu, tem “40 utentes a praticar golfe de forma regular” e estendeu-se a várias zonas do país, como Funchal, Braga e Açores, onde a Fundação São João de Deus tem, lembra, casas e conseguiu estabelecer parcerias com alguns clubes e a “ponte entre o utente, o golfe e o praticante normal de golfe”, provando que “a saúde mental pode estar na vida das pessoas sem problema.”
“Temos notado diversas melhorias. O golfe oferece dois pormenores essenciais para pessoas com doença mental. O primeiro é privilegiar a relação entre as pessoas e a relação é um dos focos fundamentais para que a adesão à terapêutica se possa fazer de forma mais correta. O segundo ponto é que é impossível estar em ambiente natural e não nos sentirmos também mais tranquilos”, enumera.
O presidente da FPG, por sua vez, além de apontar o exemplo do CG de Paredes junto de jovens com problemas escolares, diz que “existem inúmeros estudos que são inquestionáveis, ao nível de doenças cardiovasculares, diabetes, demência, e, entre outros, doenças mentais” e que “a FPG tenta sempre ser um moderador dos processos.”
“Temos aqui uma instalação que pode ser utilizada por todos os praticantes e não podíamos de forma alguma estarmos alheados dessa realidade. Temos um protocolo com a Fundação São João de Deus, como temos com os Special Olympics, e temos todas as condições para acolher este tipo de iniciativas que valorizamos e apoiamos sem qualquer reserva”, sublinha Miguel Franco de Sousa, avançando ser o ‘feedback’ positivo e o número de praticantes cada vez maior.
“Pelo que tenho conhecimento são alunos que se sentem excecionalmente bem no campo de golfe, que melhoram o seu estado de espírito e há pessoas com alguns problemas de agressividade e chegam aqui e acalmam-se”, conta.
Apesar de garantir que “a FPG é totalmente inclusiva e tem todo o interesse em que qualquer iniciativa dessa natureza seja posta em prática”, Franco de Sousa lembra existirem “instituições que são especialistas em trabalhar com este tipo de praticantes”.
“Nós não temos essa experiência, portanto este tipo de parcerias faz tanto mais sentido quanto melhor forem os parceiros com quem nos poderemos eventualmente associar”, conclui.
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