Por mais ou menos fiéis que sejamos à atividade física os confinamentos a que esta pandemia tem obrigado, vieram trazer níveis mais altos de sedentarismo. Ou porque o teletrabalho evita as corridas até ao metro, ou porque os ginásios estão fechados, a verdade é que, de uma forma geral, os portugueses estão mais sedentários. No entanto, importa sensibilizar para a importância da prática desportiva e os cuidados que deve adotar para garantir que é realizada em segurança.
Os benefícios para a saúde física e bem-estar são incontornáveis. Além de contribuir para um melhor controlo do peso devido ao gasto de calorias associado, a atividade física melhora a saúde cardiovascular, respiratória, metabólica, mental, ajudando até a prevenir quedas, especialmente no caso dos idosos.
No entanto, antes de iniciar a prática de atividade física moderada a intensa, importa certificar-se de que reúne as condições necessárias para o fazer, esclarecer todas as dúvidas e obter uma orientação médica personalizada. Se por acaso aumentou a sua atividade física nesta fase pandémica para melhor “sobreviver” aos confinamentos, poderá estar na altura de verificar o seu estado de saúde.
Quando é recomendada uma avaliação médica?
O Colégio Americano de Medicina Desportiva, nas suas últimas recomendações, é claro ao definir que, na presença de alguma doença cardiovascular, metabólica ou renal ou de algum sinal ou sintoma de doença cardíaca, doença arterial periférica, doença cerebrovascular, diabetes ou doença renal, uma avaliação médica é altamente recomendada antes de iniciar a prática de atividade física.
Para além disso, para praticantes regulares (pelo menos trinta minutos de atividade física moderada, três vezes por semana, nos últimos três meses) é também recomendada a avaliação médica se se pretende aumentar a intensidade do exercício que se pratica ou, se por outro lado, existem sinais ou sintomas clínicos de novo.
Em Portugal, no caso dos atletas e praticantes de federações desportivas esta avaliação, designada por exame médico-desportivo, é de carácter obrigatório e tem uma periodicidade anual.
Numa perspetiva abrangente, a avaliação médico-desportiva identifica fatores de risco potenciais para patologias agudas e crónicas, assim como permite intervenções preventivas ou terapêuticas. A patologia cardiovascular é habitualmente a mais mediatizada, em particular pela tragédia da morte súbita que lhe está associada.
Que exames?
Neste âmbito podem ser realizados diferentes exames complementares de diagnóstico, de acordo com a idade, com a presença de determinadas patologias, a história familiar, a presença de alguns sinais ou sintomas clínicos ou de acordo com a intensidade da modalidade a praticar.
No entanto, a avaliação médico-desportiva tem uma intervenção mais vasta, como seja a avaliação global do estado de saúde, a prevenção de lesões, a avaliação da medicação em curso ou a utilizar em casos específicos. No caso de algumas patologias, como por exemplo a Diabetes ou a Osteoporose, este é o momento ideal para a prescrição do tipo de exercício mais adequado para cada contexto clínico.
Nestes casos o acompanhamento medico-desportivo regular permite realizar os ajustes terapêuticos necessários, quer da medicação, quer do próprio programa de exercício (que é por si só também um elemento terapêutico) de forma a obter os melhores resultados.
Assim, se está a pensar retomar as suas caminhadas ou se é um aficionado pelas corridas e está agora a aumentar a intensidade do seu treino, não desvalorize qualquer sinal ou sintoma e coloque na agenda a sua avaliação médico-desportiva!
Um artigo da médica Maria João Sá, Especialista em Medicina Geral e Familiar no Centro de Medicina e Traumatologia Desportiva do Instituto CUF Porto.
Comentários