De 21 a 25 de junho decorreu o VIII Congresso Nacional de Autoimunidade. Quais os pontos altos que destaca deste encontro científico?
O congresso foi absolutamente extraordinário, do ponto de vista de organização foi muito bem conseguido e no âmbito científica as conferências do Prof. Dinnesh Khanna da Universidade Ann Arbar sobre esclerose sistémica e do Prof. Ronald Ban Volloheven (Amsterdam University) sobre inovação terapêutica em Lupus, foram consideradas pontos altos de elevado valor acrescido ao nosso conhecimento.
Doenças autoimunes sistémicas, inovação terapêutica, esclerose sistémica e génese das doenças autoimunes estiveram entre os principais temas em análise nos cinco dias de congresso. Quais as principais mensagens que assinala no que concerne a estas áreas de atuação?
As mensagens mais importantes são a mudança de paradigma no tratamento do pulmão esclerodérmico, em que o diagnóstico e tratamento precoce passam a ser o estado da arte e a poupança na corticoterapia como estratégia terapêutica fundamental: as doenças autoimunes sistémicas devem ser mantidas em baixa atividade com menor dose possível ou ausência de corticoide.
E no que respeita ao acesso de inovação terapêutica, o que se pode esperar para Portugal?
No congresso foram comentadas as variadas inovações terapêuticas: anticorpos monoclonais como profilaxia da infeção COVID em imunodeprimidos, avacopan na terapêutica das Vasculites ANCA, antifibróticos na esclerose sistémica, anifrolumab e Belimumab na terapêutica do Lúpus Eritematoso Sistémico entre outras. Estas terapêuticas demonstram um bom custo-benefício, mas são dispendiosas, sendo necessário um uso racional baseado em normas de boas práticas. Apesar de haver lentidão nos processos de reembolso, têm sido dados passos seguros e os utentes têm conseguido aceder às melhores terapêuticas: Portugal não fica na cauda dos países europeus. Em minha opinião o processo de reembolso é lento e necessita de uma visão diferente, dou como exemplo a Alemanha, nesse país o fármaco entra imediatamente no mercado após a aprovação da agência Europeia do medicamento, fica aprovado condicionalmente por um ano, nesse período devem ser gerados dados de vida real que sustentem a sua utilização.
As doenças autoimunes são mais comuns em mulheres do que em homens, em especial em mulheres em idade fértil. Por que razão tal sucede?
De uma forma geral é verdade, o ambiente hormonal da mulher jovem favorece as doenças autoimunes sistémicas, mantém-se ao longo dos anos a teoria, agora fundamentada com dados científicos.
Qual a atual prevalência de doenças autoimunes no país?
Estima-se que a prevalência seja entre 100 a 200 casos por 100.000 habitantes/ano.
Entre as doenças autoimunes, existe alguma que é mais prevalente em Portugal? Se sim, qual?
Do ponto de vista de doença, a Artrite Reumatoide é a mais prevalente, estima-se que existirão entre 120 a 150.000 portugueses com a doença.
Considera que os portugueses estão presentemente “despertos” e mais informados quanto às doenças autoimunes?
O NEDAI e a SPMI têm feito um trabalho de disseminação de conhecimento muito amplo em todos os meios de comunicação. O "feed-back" que recebemos nas consultas e nos nossos sites é muito positivo, o alerto é muito maior, os doentes chegam mais precocemente e bem orientados, ainda existe ,porém, um longo percurso a fazer no acesso a cuidados diferenciados: necessitamos de vias verdes bem protocoladas de acesso rápido a consultas especializadas.
Qual o principal desafio que o SNS enfrenta no que respeita ao diagnóstico precoce e tratamento de doenças autoimunes?
O principal desafio está associado à sua reestruturação, deve ser priorizado o acesso rápido de doenças graves e complexas, porém o financiamento hospitalar privilegia a produção menos complexa e mais imediata. Este problema tem-se agravado, existe falta de especialistas em autoimunidade sistémica e existe uma falta de investimento nesta área complexa.
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