Esta semana muitos alunos regressam às aulas e os mais novos voltam a andar carregados de livros, muitas vezes com mochilas que pesam o triplo do que deveriam. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o peso das mochilas não exceda os 10% do peso da criança.

Nada mudou desde que o Parlamento aprovou, em outubro do ano passado, 11 medidas para diminuir a carga diária das mochilas das crianças.

"Continua tudo exatamente na mesma. As crianças continuam como burros de carga, a carregar peso excessivo às costas, o que é um atentado à saúde das crianças e jovens deste país", lamenta José Wallenstein, o primeiro subscritor da petição que juntou mais de 50 mil assinaturas e levou o assunto à Assembleia da República.

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Do rol de 11 medidas aprovadas fazem parte ideias como fornecer cacifos para todos os alunos, garantir sala fixa para cada turma e livros em papel mais leve.

Mais de um terço dos alunos tem dores nas costas

Mais de 37% dos alunos inquiridos num estudo da Associação Portuguesa Spine Matters dizem ter de dores de costas, mas apenas 3% consultaram um médico.

Luís Teixeira, médico ortopedista e fundador da Spine Matters, alerta para as consequências de uma carga desadequada e contínua durante o período escolar e fase de crescimento das crianças e adolescentes: "Todos sabemos que as nossas crianças continuam a transportar cargas excessivas nos dias de aulas, mas é fundamental percebermos de que é que estamos a falar. Na verdade, os números mostram que há muitos alunos a suportar 15% ou mais do seu peso corporal na carga escolar, uma percentagem já muito elevada e prejudicial para a coluna".

Segundo o médico, as mochilas das crianças não devem exceder os 10% do peso da criança, sob pena de causarem mudanças nos ângulos dos ombros, pescoço, tronco e membros inferiores, afetando a postura de forma global ao provocar uma curvatura anormal das costas.

Má postura, cifoses (corcundez) e escolioses decorrentes desta utilização prolongada são alguns dos exemplos dos resultados que podem advir e que aumentam a probabilidade de se sofrer de dores lombares na vida adulta.

Para além das consequências posturais, o excesso de peso nas mochilas tem ainda sido apontado como responsável, a longo prazo, por dores de cabeça frequentes e consequente falta de concentração das aulas.

"A explicação é simples e reside no esforço, nem sempre consciente, que a criança faz de forma regular. O excesso de carga numa fase de crescimento vai, claramente, condicionar o mesmo, através de uma compressão da espinha que se manifesta depois também de outras formas", alerta o ortopedista. "Uma das situações mais alarmantes que apurámos, foi a desvalorização das dores nas costas destes alunos", explica o médico.